O Dicionário Biográfico de Cinema#104: Tim Burton

 

Tim Burton, n. Burbank, Califórnia, 1960*

1982: Vincent (c). 1983: Hansel and Gretel (c). 1984: Frankenweenie (c); "Alladin", um episódio em Faerie Tale Theatre [Teatro dos Contos de Fadas]. 1985: Pee-wee's Big Adventures [As Grandes Aventuras de Pee-Wee]. 1988: Beetlejuice [Os Fantasmas se Divertem]. 1989: Batman. 1990: Edward Scissorhands [Edward Mãos de Tesoura]. 1992: Batman Returns [Batman: O Retorno]. 1994: Ed Wood. 1996: Mars Attacks! [Marte Ataca]. 1999: Sleepy Hollow [A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça]. 2001: Planet of the Apes [O Planeta dos Macacos]. 2003: Big Fish [Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas]. 2005: Charlie and the Chocolate Factory [A Fantástica Fábrica de Chocolate]; Tim Burton's Corpse Bride [A Noiva Cadáver]. 2007: Sweeney Todd [Sweeney Todd, o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet]. 2010: Alice in Wonderland [Alice no País das Maravilhas]. 2012: Dark Shadows [Sombras da Noite]; Frankenweenie. 2014: Big Eyes [Grandes Olhos]

Há uma maneira na qual a vida de Tim Burton até agora tem sido o oposto da história que deseja contar. Ele se mantém retornando ao tema de uma criança deslocada ou infeliz, tentando abrir caminho em um um mundo hostil. Vincent, seu primeiro curta (feito quando animador da Disney, com narração de Vincent Price) estabeleceu se apresentar a aterrorizante vida interior de uma criança aparentemente comum. Pee-Wee é uma clássica criança disfuncional que anda por aí aparentando ser um adulto. Os Fantasmas se Divertem traz um duende desonesto, espécie de Peter Pan, cuja sombra fez um curso em efeitos especiais; Edward Mãos de Tesouro é um clássico erro de inventor; e então houve Batman, que nos dois filmes de Burton tornou o universo das histórias em quadrinhos algo para personalidades enjeitadas e reprimidas, com o Pinguim como um bebê tão horrível, que é colocado em uma cesta fechada e enviado ao esgoto - Moisés na terra de Harry Lime **. 

Enquanto isso, Burton ainda em seus 40, veio da Burbank trabalhadora e uma infância assistindo os filmes de Vincent Price e Roger Corman, para adolescência em Super-8. Da Disney e do Instituto de Artes ds Califórnia, para histórias incríveis, fama incalculável e resíduos suficientes para encher os bancos de Gotham. Como pode suportar tal felicidade?

Burton é o exemplo mais nítido de fedelho*** formado numa época de horror, fantasia, animação e efeitos. Não há realmente uma dica de mundo honesto em seus filmes, e aqueles que perdem tais coisas deveriam encarar a possibilidade que Burton (e seus contemporâneos) nunca perceberam isso. Em outras palavras, a fotografia para ele é somente uma via de realizar efeitos. Não a compreende, como já foi tido, como uma forma de registro da realidade natural. Tudo em um filme de Burton expressa os sentimentos distorcidos da inescapável solidão - seu mundo é constitutivamente deformado e explosivo.

A indústria de cinema escolheu considerar Burton como gênio que trouxe crianças e adolescentes aos cinemas. Ainda que os seus dois maiores filmes, os dois Batman, são estranhamente soturnos e adultos. Não estão satisfeitos com as histórias em quadrinhos ou o Batman da TV dos anos 60. Podem ser filmes lidos como bastante perturbadores - ou poderiam, se fossem melhor organizados. Pois o inquestionável gênio visual de Burton não havia atingido a maestria ou encontrado uma forma de fazê-lo sem narrativa. Batman: O Retorno, especialmente, é um caos desigual de personagens fascinantes e tentando se fazer ouvir em uma história incoerente. 

Poucos futuros eram tão ansiosamente aguardados. A tragédia de Edward Mãos de Tesoura me parece não apenas a melhor obra de Burton, mas o filme mais ajustado às suas inclinações. No entanto, pareceu insistir em promover essa procura, quando tantas pessoas em Hollywood lhe falaram que era ouro? Ele permanece como uma criança perdida ou ferida? Ou teria se tornado um lamentável menino prodígio queimado, como Orson Welles? 

Não muitos fãs de Burton podem ficar felizes com os recentes desenvolvimentos. Produziu o bastante elegante Nightmare Before Christmas [O Estranho Mundo de Jack] (93, Henry Selick), enquanto Ed Wood trouxe um tratamento raramente charmoso e gentil dos desprestigiados de Hollywood. Porém, a mistura de extremismo visual e atitude impassível não prosperou - como testemunham a calamidade de Marte Ataca, a beleza pausterizada de A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça e a violenta confusão de Planeta dos Macacos, que foi muito menos engenhoso que a série original. Peixe Grande não provocou muito impacto no público ou nos Oscars, mas os fãs de Burton o adoraram e é difícil não ficar impressionado pela brincadeira visual. E ainda é claro, tantos anos passados de sua estreia, que os grandes sucessos de Burton não chegaram nem próximo de deixá-lo estabelecido ou seguro. 

A Fantástica Fábrica de Chocolate foi surpreendentemente não envolvente e Sweeney Todd -  com Depp e a Sra. Burton (Helena Bonham-Carter) foi "perfeito", mas muito menos impressionante que o musical ou o concerto. Alice no País das Maravilhas um sucesso, e não mais que isso. Sombras da Noite nem mesmo isso.

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictonary of the World. Nova York: Alexander A. Knopf, 2014, pp. 366-68.

(*) N. do E: no IMDB consta o ano de 1958, como o do nascimento de Burton.

(**) N. do E.: Principal antagonista do célebre filme The Third Man [O Terceiro Homem], de Carol Reed. 

(***) N. do T.: movie brat, termo bastante utilizado em língua inglesa e que não encontra um equivalente similar em português. 

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