Filme do Dia: Anatomia de um Crime (1959), Otto Preminger

 


Anatomia de um Crime (Anatomy of a Murder, EUA, 1959) Direção: Otto Preminger. Rot.Adaptado: Wendell Mayes, baseado no romance de Robert Frager. Fotografia: Sam Leavitt. Música: Duke Ellington. Montagem: Louis R.Loeffler. Com: James Stewart, Lee Remick, Ben Gazzara, George C.Scott, Joseph N.Welch, Kathryn Grant, Arthur O’Connell, Eve Arden, Brook West.

Advogado aposentado (Stewart) é estimulado por amigo a retornar ao trabalho, no momento em que recebe a ligação de uma jovem esposa (Remick), que alega ter sido estuprada e que seu marido (Gazzara), veterano da Guerra da Coréia, posteriormente assassinara o estuprador. Defendendo a tese de que seu cliente sofria de uma perturbação temporária, apoiado no diagnóstico de um psiquiatra do Exército tem, no entanto, que enfrentar a tenacidade do promotor (Scott), que lança fortes suspeitas sobre a reputação da mulher do oficial. No final, consegue a absolvição, com a inesperada aparição de um dos controversos objetos ligados ao crime - a calcinha da vítima.

Com grande maestria, Preminger dirigiu um dos filmes com mais longas seqüências de tribunal da história do cinema, sem perder o ritmo. Afastando-se do usual recurso da edição rápida, seus longos planos e estilo cool são mesclados a uma ousada história que parece saída diretamente de um tablóide sensacionalista. O resultado é perturbador, principalmente devido a ambigüidade que permeia a narrativa do início ao final. Apresentando uma das heroínas mais vulgares e amorais do cinema até então, continuamos a nos perguntar no final - cômico com a súbita partida do oficial abandonando a esposa e a responsabilidade de pagar o advogado - se o estupro ocorreu ou não. Produto típico de um dos melhores momentos do cinema americano, quando iniciou o degelo da moralidade orientada pelo famoso código Hays, que Preminger foi um dos primeiros a driblar. Apresentando na trama desde uma discussão sobre calcinhas (se a heroína tomava liberdade ou não de sair sem calcinha à noite) até infidelidade conjugal, violência perpetrada pela insegurança masculina, promiscuidade e exame de esperma no corpo da vítima, demonstrou que uma nova realidade estava também chegando  não só à sociedade, como também às telas. Causa impacto até hoje e deixa na poeira filmes bem posteriores que abordam temática semelhantes como Acusados (1988) de Jonathan Kaplan, bem mais moralista, na má acepção do termo. Elenco de primeira, destacando-se as interpretações de Stewart e Gazzara. Rápida aparição do veterano coadjuvante West, de Scarface (1931). Recebeu o National Film Registry em 2012. Columbia. 160 minutos.

 

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