Filme do Dia: Loucos de Amor (1997), Nick Cassavetes
Loucos de Amor (She’s so Lovely, EUA, 1997) Direção: Nick Cassavetes. Roteiro: John
Cassavetes. Fotografia: Thierry Arbogast. Música: Joseph Vitarelli. Montagem:
Petra von Oelffen. Com: Robin Wright, Sean Penn, James Gandolfini, Susan
Traylor, Harry Dean Stanton, Kelsey Mulrooney, John Travolta, Gena Rowlands.
Maureen Murphy (Wright) acorda
desorientada, após perceber que seu marido continua ausente há dias. Enquanto liga para o serviço policial
é abordada por um vizinho, Kiefer (Gandolfini), que tenta levá-la até seu
apartemento sem sucesso. Após encontrar os amigos Lucinda (Traylor) e Russo
(Stanton) em um bar e sentindo-se solitária, aproxima-se do vizinho que
rejeitara. E, numa noite de diversão e bebidas, revida quando ele pretende
manter relação sexual e é espancada, assim como fere-o . Depois de reencontrar
o marido Eddie (Penn) no mesmo bar, acompanhado por Lucinda e Russo, inventa
que tombara na chuva, quando ele lhe interroga sobre os hematomas. Vão fazer exames
no hospital, mas o filho que ela espera está fora de risco. Para comemorar vão
a uma boate, onde dançam apaixonadamente, após Eddie ter conseguido não só
pagar, como fazer com que a bilheteira lhe emprestasse o suficiente. Após um
“jantar” improvisado no restaurante de amigos, plena madrugada de chuva,
retornam para o apartamento, onde
Maureen não resiste ao olhar irônico do vizinho e espanca sua porta, e pede
para que o marido o esmurre, o que este faz. Na manhã seguinte, após um
interrogatório em que Maureen revela que fora espancada por Kiefer, Eddie sai
dessesperado, atirando no apartamento de Kiefer, que não se encontra, e após
embebedar-se no bar, atirando no funcionário do hospital que viera interná-lo,
a pedido de Maureen. Internado em um hospital psiquiátrico, permanece por lá
dez anos. Certo dia, no entanto, a psicológa Miss Green (Rowlands), afirma que
ele se encontra em condições de sair, preparando-o para o trauma de uma
possível recusa de Maureen de revê-lo. Assustado, Eddie vai a um cabeleleiro,
onde procura se livrar da cabeleira longa e grisalha, embora acabe por dar um
toque pessoal ao final do trabalho. Acuado pela nova situação, Joey (Travolta),
o atual marido de Maureen, com quem vive em um estilo de vida totalmente
diverso, de família de classe média alta, desespera-se ao saber da intenção da
esposa de abandoná-lo para voltar a viver com Eddie, ainda que nunca tenha
visitado-o durante todo o período. Joey decie levar a filha de Eddie, Jeannie
(Mulrooney), para conhecê-lo. Porém, já de início, o contato entre Joey e Eddie
é extremamente tenso. Pede para que abandone a idéia de voltar a morar com
Maureen, mas convida-o para resolverem tudo em sua casa. Eddie nervosamente vai
e leva consigo Russo. Após uma longa espera, em que Joey acaba nervosamente
grita com Jeannie ao vê-la fazendo uma carinhosa massagem em Eddie, este sobe e
encontra Maureen tentando suicidar-se no banheiro. Permanecem abraçados.
Maureen se separa, após muito choro, das filhas. Eddie afirma que pretende ser
o segundo melhor amigo da filha. E quando já estão todos preparados para sair,
Joey irrompe armado e é detido por Eddie. O grupo parte, deixando Joey e suas
três filhas para trás.
Trabalhando em cima de um roteiro de
Cassavetes, seu filho Nick consegue retrabalhar o universo do cineasta com
competência : o amour fou de Faces a Amantes;
a comemoração festiva em grupo, movida a álcool e comida, como em Os Maridos, ainda que aqui
praticamente eliptíca no momento do jantar improvisado; a criança, que também
não é negado o papel de participante completa do drama, como também em Os
Maridos; o momento de agonia e dor, misturada a ternura do casal no
banheiro, semelhante ao do casal de Faces,
um dos mais belos do filme; a verdadeira emocionalidade afluindo sempre
problemática como a dos personagens vividas por Rowlands em Uma Mulher Sob Influência e Amantes e os momentos de
insanidade como o da bela cena em que Eddie atira no funcionário do hospital e
foge do bar através de uma vidraça em câmera lenta. Ao mesmo tempo que presta
um tributo sincero ao pai, Nick Cassavetes não se deixa submergir por completo
em sua influência .A ausência do charme desleixado e da perfeita espontaneidade
no trabalho dos atores, assim como do ritmo peculiar e sutil imposto aos seus
“recortes”da vida, que era marca das produções independentes do pai, que lhe
davam um certo ar de improviso jazzístico,
é contraposta pela melancólica fotografia em tons pastéis de Arbogast,
uma direção de atores mais convencional e em tom mais “over”. Embora a
caracterização que compõe a segunda parte, que retrata a nova existência
burguesa de Maureen, não pareça tão convincente quanto a primeira, o filme está
repleto de uma fina ironia do início ao final, através de uma equilibrada
mistura entre o dramático e o cômico,
assim como o constante riso de si próprio, que muito se deve aos
engenhosos diálogos, digno dos grandes trabalhos de Cassavetes. Miramax. 96
minutos.
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