Filme do Dia: Crescei e Multiplicai-vos (1964), Jack Clayton

 


Crescei e Multiplicai-vos (The Pumpkin Eater, Reino Unido, 1964). Direção: Jack Clayton. Rot. Adaptado: Harold Pinter, a partir do romance de Penelope Mortimer. Fotografia: Oswald Morris. Música: Georges Delerue. Montagem: Jim Clark. Dir. de arte: Edward Marshall. Figurinos: Sophie Devine. Com: Ann Bancroft, Peter Finch, James Mason, Janine Gray, Cedric Hardwicke, Rosalind Atkinson, Alan Webb, Richard Johnson, Maggie Smith.

Jo Armitage (Bancroft) se encontra casada com Jake (Finch), roteirista de cinema e amigo de seu ex-marido, Giles (Johnson). Tendo tido oito filhos – os dois mais velhos vivem em internatos – Jo se vê novamente grávida. Seu psicanalista afirma que se trata de uma forma de lidar com o sexo, que não o aceita sem a procriação. Quando fica sabendo, durante a morte do pai da esposa (Hardwicke), Jake não gosta nada da novidade. Ele consegue convencê-la a praticar o aborto.

         Essa adaptação ostensivamente elegante parece antecipar outra produção que o mesmo Finch teria destaque anos depois (Domingo Sangrento). De fato, como naquele, a abordagem é a de uma família classe média alta algo progressista – e a cena em que Jo é observada a conhecer Jack e rodeada por suas crianças que se divertem em experimentações típicas da idade e meio social na qual vivem talvez seja a que mais remeta a produção posterior. Já de início, seus planos iniciais explicitam o ambiente burguês em que uma atormentada Jo, vivida com garra por Bancroft, aproxima-se – ao menos nesse momento inicial – das protagonistas femininas dos filmes contemporâneos de Antonioni. E, antes mesmo deles, através da equipe técnica e elenco selecionados – com destaque para a austera e “moderna” fotografia em p&b de Morris e para o habitual interesse que mescla desejo de classe e provocações associadas aos códigos de moralidade tão ao gosto de Pinter, roteirista e dramaturgo mais conhecido por sua associação com Joseph Losey. Mason, aparentemente sem muito esforço, vive o papel de alguém empedernidamente cínico e pernóstico. Do personagem de Finch, que repetiria algumas expressões de preocupação de forma bastante similar em Domingo Sangrento, tal como Bancroft de coqueteria menos discreta em A Primeira Noite de um Homem, não se vai muito além da superfície, como que reproduzindo o olhar de Jo. Somente saindo da mesma quando provocado. Embora o filme tenha seu charme, Clayton não consegue elaborar sua trama, e igualmente sua personagem feminina, com o mesmo carisma que impregna o filme de Schlesinger e Glenda Jackson. Ainda assim, a espontaneidade de Bancroft como mãe/mulher/amante é um dos prazeres que o filme proporciona. O tempo é polido de forma interessante e discreta, sem a necessidade de chamar a atenção para a elaboração narrativa e guardandos resquícios de Mrs. Dalloway, de V. Woolf. Como em A Primeira Noite de um Homem, Bancroft, que ganhou o prêmio de interpretação feminina em Cannes, aparenta ter mais idade que de fato possui. Romulus Films. 118 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso