Filme do Dia: Isto Não é um Filme (2011), Motjaba Mirtamasb & Jafar Panahi

 


Isto Não é um Filme (Irã, 2011). Direção: Motjaba Mirtamasb & Jafar Panahi. Rot. Original: Jafar Panahi.

Acompanha-se o cineasta Jafar Panahi em sua prisão domiciliar em Teerã. Ele chama um documentarista, Mirtamasb, para retratar os momentos tensos ou entediados que antecedem a resolução sobre sua condenação a seis anos de prisão pela justiça do país. No restrito espaço-tempo que se resume ao seu apartamento e um único dia, que por sinal é o que se comemora uma festa tradicional iraniana, Panahi troca mensagens com sua advogada, recebe o documentarista, esboça e depois desiste de efetuar uma representação de seu último projeto, censurado, no qual uma jovem confinada, como Panahi, a sua casa, vê-se impedida de efetuar sua matrícula para um curso universitário de arte. O que mais importa nesse documentário é o modo como acaba se voltando para opções que dizem respeito à própria trajetória desse que é um dos cineastas de maior reputação internacional do país. Sobretudo o olhar algo acidental com o qual volta sua câmera para o inesperado, numa tentativa de fazer coro a garotinha de O Espelho ou – e principalmente – a reação inesperada do ator de Ouro Carmim, cujas cenas, inclusive, haviam sido há pouco vistas e discutidas pelo próprio Panahi. E que soa pouco convincente, ainda que por demais espirituoso, na abordagem final do rapaz que pede para Panahi lhe entregar o lixo de seu edifício. É esse traço espirituoso que perpasse praticamente todo o filme, procurando fazer valer os princípios da criatividade, mesmo em situações limítrofes, o que por vezes tende a não ocorrer, como quando Panahi se emociona a partir de seu próprio esforço patético de tentar dar conta de um filme, tendo como base sua mera narração, alguns diálogos e uma muita improvisada encenação que toma o tapete de sua casa como o quarto no qual se desenvolveria a maior parte da trama de seu filme proibido. E é justamente esse traço espirituoso que também remete a sua filmografia, como de outros realizadores conterrâneos seus, simbolizado pela vizinha que quer livrar de seu cachorro ou pelo rapaz que coleta o lixo, deixando patente uma terceira afinidade forte com uma parte do ciclo de filmes iranianos que ganharia reconhecimento internacional, que é o da proposital mescla entre documentário e ficção, encenação e aparente improvisação. Destaque para os momentos em que o enorme réptil, que é o bicho de estimação da filha do realizador, passeia pelo apartamento, inclusive subindo o próprio realizador, assim como para o guindaste de construção civil que praticamente invade o terraço de sua luxuosa e elegante casa. Ainda que observemos Panahi contemporizando sobre a falta de reação de seus colegas iranianos às sanções que sofreu, temendo o envolvimento deles próprios e precisando de ajuda do estado para seus projetos, nos créditos finais ironicamente deixa em branco os agradecimentos aos mesmos, traindo o ressentimento que não chegara a expressar verbalmente. Jafar Panahi Film Prod. 75 minutos.

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