O Dicionário Biográfico de Cinema#45: Otto Preminger
Otto Preminger (1906-1986). n. Viena
1931: Die Grosse Liebe. 1936: Under Your Spell [Canção Fascinadora]. 1937: Danger, Love at Work [Quando o Amor Trabalha]. 1943: Margin for Error [Um Pequeno Erro]. 1944: In the Meantime, Darling [Por Enquando, Querida!]; Laura. 1945: A Royal Scandal [Czarina]; Fallen Angel [Anjo ou Demônio?]. 1946: Centennial Summer [Noites de Verão]. 1947: Forever Amber [Entre o Amor e o Pecado]; Daisy Kenyon [Êxtase de Amor]. 1948: That Lady in Ermine [A Condessa Se Rende] (iniciado por e creditado a Ernst Lubitsch, mas completado por Preminger após a morte desse). 1949: The Fan [O Leque de Lady Windermere]; Whirlpool [A Ladra]. 1950: Where the Sidewalk Ends [Passos na Noite]. 1951: The 13th Letter [Cartas Venenosas]. 1952: Angel Face [Alma em Pânico]. 1953: The Moon is Blue [Ingênua até Certo Ponto]. 1954: River of No Return [O Rio das Almas Perdidas]; Carmen Jones. 1955: The Court Martial of Billy Mitchell [Seu Último Comando]. 1956: The Man with the Golden Arm [O Homem do Braço de Ouro]. 1957: Saint Joan [Santa Joana]. 1958: Bonjour Tristesse [Bom Dia, Tristeza]. 1959: Porgy and Bess [Porgy & Bess]; Anatomy of a Murder [Anatomia de um Crime]. 1960: Exodus. 1962: Advise and Consent [Tempestade Sobre Washington]. 1963: The Cardinal [O Cardeal]. 1964: In Harm's Way [A Primeira Vitória]. 1965: Bunny Lake is Missing [Bunny Lake Desapareceu]. 1967: Hurry Sundown [O Incerto Amanhã]. 1968: Skidoo [Skidoo se Faz a Dois]; Tell Me That You Love Me, Junie Moon [Diz-me que Me Amas]. 1971: Such Good Friends [Amigo é pra Essas Coisas]. 1975: Rosebud [Setembro Negro]. 1979: The Human Factor [O Fator Humano].
Preminger nunca se envergonhou sobre se apresentar como um realizador comercial. De meados dos anos 50 em diante - da novidade do piquenique de Ingênua até Certo Ponto e Carmen Jones - ele escolhe uma mistura de projetos de adaptações literárias prestigiosas e populares, equilibrando ação/excitação e "alimentos para o pensamento", tendo aflições para preservar a autenticidade dos locais e compor elencos soberbos. Portanto, Bom Dia, Tristeza, Anatomia de um Crime, Exodus, Tempestade Sobre Washington e O Cardeal foram na melhor tradição do entretenimento inteligente. Porém se eram substanciosos foi uma das grandes questões críticas dos idos dos anos 60. Os entusiastas de Preminger não foram ajudados pelo alarmante declínio de sua obra a partir de 1965. De todos os veteranos de Hollywood, nenhum perdeu seu prumo tão completamente quanto Preminger.
Porém, mesmo à época, fica difícil imaginar aonde ele poderia ir após ter tratado da justiça (Anatomia de um Crime), nacionalismo (Exodus), democracia (Tempestade Sobre Washington) e religião (O Cardeal).
Ainda que Laura, o primeiro filme que Preminger estimava como seu, a atmosfera onírica da fotografia de Joseph La Shelle e o famoso tema, destaca-se na observação prática dos personagens. O sentimento duradouro do sobrenatural no filme pode refletir a preparação de Mamoulian para o projeto. Preminger se encontrava muito mais interessado nas banais fraquezas de Dana Andrews e Gene Tierney: o fato que Laura prova ser de um superficial lugar-comum e o detetive inseguro e imaturo. Preminger voltou-se no pós-guerra do suspense de um neorrealismo urbano para um interesse em pessoas sob pressão e uma série de fascinantes ensaios sobre personagens: em A Ladra, Passos na Noite e Cartas Venenosas, nossa predisposição a tomar um lado é minada pelo retrato multifacetado dos personagens. A Ladra é interessante não enquanto retrato de um mentor de hipnotismo, mas no modo que o personagem de Gene Tierney abriga todos os sentimentos de falta de confiabilidade impostos a ela por José Ferrer.
Da mesma forma que os suspenses desafiam às expectativas, portanto seus dois retratos de mulheres - Anjo ou Demônio? e Êxtase de Amor - tratam o melodrama com uma ausência extraordinária de histeria. Sozinho em meio aos diretores hollywoodianos, Preminger triunfa no gênero, desviando-o. Mas que motivar a paixão que subjaz nele - como Borzage, Stahl ou Sirk - facilita-o na direção do documentário. O estilo de câmera é implacavelmente objetivo, observante de tais detalhes que, em Êxtase de Amor, torna até mesmo Joan Crawford tocante. Por todas suas origens vienenses, a frieza de Preminger nunca é cravada no cinismo de Wilder ou animada pela suavidade Ophülsiana. É essencialmente lúcida, tão convencida quanto Renoir de que todos tem suas razões e enriquecendo seus filmes com a dúvida. O processo é único, e se é melhor utilizado em seus filmes posteriores, está presente desde o início.
As quatro longas discussões sobre os pilares da civilização são todos filmes de entretenimento, embalados com os incidentes e personagens notáveis. Mas, notavelmente, todos terminam de forma inesperada: Êxodo em suspensão; O Cardeal em dúvida; em Tempestade Sobre Washington com o processo que continua por si só; e em Anatomia de um Crime na sondagem mais nítida sobre a nossa complacência que Preminger já tenha lançado. O filme se preocupou com os esforços do advogado James Stewart de defender Ben Gazarra contra a acusação de ter assassinado um homem que teria estuprado sua esposa, Lee Remick. A personalidade dos atores é crucial. Stewart sempre comandou o herói ingênuo, desengonçado e provinciano: em nenhum outro filme esse comando foi tão revelado como mecanismo. Portanto, o tradicionalmente devoto advogado de defesa - o estúpido Perry Mason - é apresentado como um verdadeiro profissional, ele próprio um ator em uma peça diante da corte, tentando convencer-se que seu cliente é inocente. O cliente é Gazarra, na sua maneira mais calculista e insolente, preocupado em apenas esconder sua própria violência. Lee Remick, como a mulher que não se esforça em disfarçar sua provocadora sensualidade.
Em outras palavras, somos postos na posição do júri: o funcionamento do filme se torna o devido processo legal. Gazarra é absolvido na defesa esotérica do "impulso irresistível". Quando Stewart pede seus honorários, Gazarra deixa uma nota nos chamativos sapatos da esposa. A ironia, na verdade, não prejudica a nobreza da lei como um instrumento relutante em se decidir sobre as pessoas. A câmera curiosa de Preminger, sempre acompanhando os personagens, raramente separando as pessoas envolvidas umas com as outras - é a manifestação de reticência inteligente, e produziu meia dúzia de grandes filmes.
Pode-se admitir que Preminger deparou-se em diversas ocasiões com materiais inadequados - Entre o Amor e o Pecado, O Leque de Lady Windermere, Porgy & Bess e todos os filmes de 1968 em diante - como se somente buscasse relaxar para se tornar um diretor bufão que se esperaria de seu comandante do campo de concentração em Inferno n. 17 (53, Wilder).
Também deveria ser dito que sua breve importância de suas conquistas centrais tem negligenciado o brilho de Anjo ou Demônio? e Bom Dia, Tristeza, filmes que lidam tanto com a intrigante malícia de uma jovem garota - o primeiro como melodrama, o segundo como um considerável aprofundamento do romance de Françoise Sagan. Incidentalmente, eles contêm provavelmente as melhores interpretações nas telas de Jean Simmons e Jean Seberg. E é um tributo à objetividade de Preminger que as garotas de Seberg em Bom Dia, Tristeza e Santa Joana sejam tratadas com o mesmo interesse cauteloso.
Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionary of Film. Londres: Knopf, 2010, pp. 7850-63.
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