Filme do Dia: Suplício de uma Alma (1956), Fritz Lang
Suplício de uma Alma (Beyond a Reasonable Doubt, EUA, 1956)
Direção: Fritz Lang. Rot.Original: Douglas Morrow. Fotografia: William E.
Snyder. Música: Herschel Burke Gilbert. Montagem: Gene Fowler Jr. Com: Dana
Andrews, Joan Fontaine, Sidney Blackmer, Arthur Franz. Philip Bourneuf, Edward
Binns, Shepperd Strudwick, Robin Raymond, Barbara Nichols.
Tom Garrett (Andrews), autor de um
primeiro livro de sucesso, combina com
seu futuro sogro, o influente dono de jornal Austin Spencer (Blackmer), um
plano para se fazer passar por criminoso e ser condenado a pena de morte,
revelando a farsa no último momento. O objetivo é desacreditar a pena de morte,
principal bandeira de luta do rival de Spencer, o consevador promotor Hale
(Franz). Como evasiva para Susan (Fontaine), sua futura noiva, Garrett afirma
que vai adiar o casamento porque pretende se dedicar a proposta de um segundo
livro. Enquanto isso, juntamente com seu sogro, decide armar a farsa partindo
da notícia policial do momento, o assassinato de uma corista. Para dar maior
credibilidade ao seu papel de assassino, Garrett deixa o isqueiro com que havia
sido presenteado há apenas dois dias por Susan no local do crime e marca um
encontro com uma amiga da corista assassinada, Dolly Moore (Nichols), sendo
previsivelmente, como combinado, surpreendido pela polícia em tentativa de
estrangulá-la. A notícia se transforma em sensação nos jornais. Susan, embora
confusa com a revelação posterior de que o isqueiro que dera a Garrett ter sido
encontrado no local do crime, não deixa de acreditar no que o futuro noivo
afirma. Porém, quando Garrett já se encontra no “corredor da morte”, uma
fatalidade torna quase impossível sua comprovação de honestidade: Austin
Spencer morre em um desastre de automóvel. Dessesperado, Garrett conta tudo a Susan, pedindo-lhe que procure
as fotos que comprovam a armação da farsa nas coisas de seu pai. Susan descobre
que as fotos foram carbonizadas juntamente com o carro. Quando tudo parece
perdido, a leitura do testamento de Austin Spencer comprova a honestidade de
Garrett. Susan vai visitá-lo na prisão, porém Garrett se trai ao pronunciar o
nome da vítima do crime. Susan pergunta como ele sabe, já que não foi noticiado
pela imprensa e faz com que ele confesse ser o real assassino. O motivo do
crime fora uma ligação amorosa anterior com a jovem. Arrasada, Susan cria
coragem para confessar a verdade, e quando Garrett é levado para o governador,
que já se encontra com o pedido de perdão sobre a mesa, o telefone toca
revelando a verdade. Garrett é levado de volta a prisão.
Pouco preocupado com a verossimelhança
em um enredo tão rocambolesco, Lang parece mais próximo de sabotar não só as
convenções do gênero cinematográfico, quanto também as sociais, mais uma vez
subvertendo a lógica do herói x bandido, como para demonstrar que ambas não
passam de construções sociais um tanto quanto limitadas. Se em M (1931), o psicopata proclama um
discurso recheado de moral e dignidade, ganhando traços de verdadeiro herói,
aqui o cidadão acima de qualquer suspeita se revela um frio criminoso. Porém a
já referida falta de verossimelhança e facilidades do roteiro - inclusive na
motivação que levou Garrett a matar e a morte “propícia” de seu futuro sogro
para criar um clímax no suspense - acabam diminuindo um pouco o impacto da
revelação final de Garrett e traindo um pouco o desejo subversor de Lang nesse
filme. Mais um exemplo do cinema que nasce após décadas de repressão, nos anos
50, e que partindo de convenções de gênero, mostra certas chagas e tabus da
sociedade americana, como Anatomia de um Crime (1958) de Otto Preminger e Gata em Teto de Zinco Quente (1958) de Richard Brooks, assim como a
maior liberação nos costumes que começava a acontecer também fora da tela. RKO.
80 minutos.
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