The Film Handbook#202: Steven Spielberg
Steven Spielberg
Nascimento: 18/12/1947, Cincinnati, Ohio, EUA
Carreira (como diretor): 1971-
Ao trazer uma sensibilidade distintamente pessoal para os gêneros tradicionais do entretenimento de massa, Steven Spielberg rapidamente se tornou comercialmente o mais bem sucedido diretor na história do cinema. Embora seja impossível negar seu toque de Midas ou sua extraordinária eficiência técnica, ainda assim tem se tornado crescentemente evidente em anos recentes que ele se encontra mais à vontade com um esteio sentimental "tipo família" que com material mais sofisticado.
Um devoto do cinema desde a tenra idade, Spielberg já havia sido adepto das filmagens amadoras em sua adolescência. Em 1969, Amblin, seu primeiro curta experimental, impressionou tanto a Universal, que ela daria trabalho ao diretor em várias séries para a televisão. Dois anos depois, Encurralado/Duel>1, o primeiro de três filmes impressionantes para a TV (A Força do Mal/Something Evil foi um assustadoramente pouco comum mistério sobrenatural, Savage um criativamente fotografado, mas em outros aspectos, rotineiro thriller), foi tão bem recebido pelos críticos europeus que ganhou um lançamento nos cinemas. Um road movie tenso e emocionante, no qual um vendedor ambulante entra em conflito com um caminhão aparentemente desgovernado e assassino, antecipa um motivo recorrente na obra inicial de Spielberg: um personagem comum, levado ao caos pelo encontro com o extraordinário e o irracional. Em sua estreia propriamente dita no cinema, A Louca Escapada/The Sugarland Express (até hoje talvez o seu filme mais anti-sentimentalmente humano), uma mulher e seu foragido marido condenado sequestram um comissário de polícia e seu carro, para perceberem que a fuga deles se tornou o foco de uma inexplicável enorme atenção da mídia; enquanto em Tubarão/Jaws>2, um calmo refúgio costeiro repentinamente se torna refém de um impassível e aparentemente indestrutível Grande Tubarão Branco. Assombrosamente bem sucedido, Tubarão fez um excelente uso de uma afiada montagem e numerosos arenques vermelhos para impulsionar a tensão; mais importante, beneficiou-se dos temores universais do que não é visto e do desmembramento, ao mesmo tempo evocando as dimensões míticas do Moby Dick de Melville.
Igualmente notável foi Contatos Imediatos do Terceiro Grau/Close Encounters of the Third Kind>3, um acréscimo raramente profundo, otimista e místico ao gênero de ficção científica de visitantes alienígenas, no qual vários humanos comuns, assustados pelas visões inexplicáveis após observarem alienígenas, encontram-se com benevolentes extra-terrestres em um adequadamente remoto local no deserto do Wyoming. Embora os efeitos especiais ao longo dele sejam soberbos, a descrição de Spielberg da influência sinistra das visões sobre a vida familiar daqueles "inspirados" pelos seres de outro planeta, traz o elemento humano de sua história ao primeiro plano. De modo inverso, 1941, uma agitada comédia pastelão épica sobre a paranoia da invasão de Hollywood durante a guerra foi prejudicada por seu interesse extravagante e mecânico nos objetos fora de controle, mas que nas ações e emoções humanas: um triunfo indulgente e triste da técnica sobre o conteúdo. Igualmente superficial, mas infinitamente mais divertido, Os Caçadores da Arca Perdida/Raiders of the Lost Ark>4 foi uma paródia-homenagem aos velhos seriados de aventura dos anos 30 e 40, nos quais o virtuoso senso de tempo de Spielberg se somou com seu amor pela fantasia das histórias em quadrinhos na criação de um entretenimento confiante e inventivo.
Tirando parte dos medos universais sobre os misteriosos habitantes do mar, o enorme sucesso de Tubarão transformou Spielberg em um diretor maior de Hollywood da noite para o dia |
E.T. - O Extraterrestre/E.T.: the Extraterrestrial>5, no qual um simpático alienígena é abandonado na amada cidadezinha dos Estados Unidos de Spielberg, sendo acolhido e cuidado por um rapaz, foi tanto o filme de maior sucesso do diretor até o momento quanto o início de um desapontador declínio artístico. Se são apresentadas amplas evidências de um talento adepto na manipulação das emoções do público, simultaneamente chafurda na sentimentalidade lacrimosa e barata e sugere que os desejos do jovem expectador de cinema sejam talvez os de regressar a uma visão infantil do mundo, totalmente distante da realidade. Um episódio açucarado de Além da Imaginação foi igualmente devedor de ideias maduras, enquanto a sequencia de Caçadores, Indiana Jones e o Templo da Perdição/Indiana Jones and the Temple of Doom foi tão obcecado em sua recriação da visão de mundo dos anos 30 que também reproduz de forma impensada o sexismo e racismo da época. Em 1986, como se buscasse compensar por seu último equívoco, Spielberg filmou A Cor Púrpura/The Color Purple>6, uma versão do romance de Alice Walker sobre um cruel sofrimento físico e espiritual, e rebelião final, de uma jovem negra, vítima do orgulho masculino e do preconceito branco no Sul Profundo, durante o início do século. Embora visivelmente sentido, para não comentar sua impecável técnica, o filme aparentou ser simplista e higienizado, não somente na talvez inevitável discrição do conteúdo lésbico do livro, mas igualmente na apresentação do lugar (reluzentemente pastoral do início ao final) e das pessoas, com virtualmente cada personagem, incluindo o tirano do ex-marido da heroína, sendo redimidos pela lacrimosa resolução ao final.
Ainda assim, após a versão fracassada mas bastante fiel do Império do Sol/Empire of the Sun de J.G. Ballard (um jovem, internado nos campos de prisioneiros japoneses na China durante a Segunda Guerra Mundial, descobre que a sobrevivência necessita de uma moralidade auto-centrada, um passando por cima do outro) dá a impressão de uma vez mais Spielberg se interessar em tratar um mundo mais caótico e complexo que seus filmes dos idos dos anos 80 admitiriam. Embora os filmes de aventura que produza, dirigidos por colegas, tendam (com raras exceções) rumo ao sentimentalismo acéfalo, ainda há esperança que sua própria obra amadureça e se torne mais ambiciosa em termos de emoções, mas que de técnica.
Cronologia
Um admirador de Hitchcock, Disney e Lean, assim como da ficção-científica dos anos 50, Spielberg tem colaborado com outros "fedelhos do cinema" como Lucas, Milius e Coppola. Enquanto produtor, ele tem trabalhado com (e inspirado) figuras como Dante e Zemeckis), Tobe Hopper, William Dear e Matthew Robbins; Kaufman e Lawrence Kasdan tem sido seus roteiristas ocasionalmente.
Leituras Futuras
The Movie Brats (Nova York, 1979), de Lynda Myles e Michael Pye, Steven Spielberg (Londres, 1986), de Donald R. Mott e Cheryl McAllister.
Destaques
1. Encurralado, EUA, 1971 c/Dennis Weaver, Jacqueline Scott, Eddie Firestone
2. Tubarão, EUA, 1975 c/Roy Scheider, Richard Dreyfuss, Robert Shaw
3. Contatos Imediatos do Terceiro Grau, EUA, 1977 c/Richard Dreyfuss, François Truffaut, Melinda Dillon
4. Os Caçadores da Arca Perdida, EUA, 1981 c/Harrison Ford, Karen Allen, Paul Freeman
5. E.T.: O Extraterrestre, EUA, 1982 c/Henry Thomas, Dee Wallace, Peter Coyote
6. A Cor Púrpura, EUA, 1986 c/Whoopi Goldberg, Danny Glover, Margaret Avery.
Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 272-4.
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