Filme do Dia: Os Amores de uma Loira (1965), Milos Forman
Os Amores de uma Loira (Lásky Jedné Plavovlásky,
Tchecoslováquia, 1965). Direção: Milos Forman. Rot. Original: Milos Forman,
Jaroslav Papousek, Ivan Passer & Vaclev Sasek sob argumento de Forman,
Papousek & Passer. Fotografia: Miroslav Ondrícek. Música: Evzen Illín.
Montagem: Miroslav Hájek. Dir. de arte: Karel Cerný. Cenografia: Vladimir
Macha. Figurinos: Zdena Snajdarová. Com: Hana Brejchová, Vladimir Pucholt,
Vladimír Mensik, Jirí Hrubý, Milada Jezková, Josef Sebanek, Josef Kolb, Marie
Salacová.
Andula (Brejchová) é uma garota de uma
região tcheca em que existem 16 mulheres para cada homem. A situação promete
ser diferente com a chegada de soldados. Porém, para a decepção das garotas,
trata-se de reservistas veteranos. No baile local um grupo de homens se
interessa por Andula e suas duas amigas, porém essa se engraça com o pianista
da banda, bem mais jovem que os homens, Milda (Pucholt). Morando num colégio
interno de moral extremamente repressora, Andula provoca um escândalo ao rejeitar o noivo Burda (Hrubý)
e vai atrás de Milda em sua cidade, deparando-se com os atônitos pais (Jezková
e Sebanek) do rapaz que a recebem altas horas da noite. Ao chegar em casa,
Milda se depara com a situação insólita. A briga provocada na família por conta
da presença dela, acaba fazendo com que ela se sinta mal.
Esse que é o terceiro longa-metragem
do que era então um dos mais promissores cineastas do Leste Europeu é repleto
de certo frescor juvenil e de uma tentativa de expressão das inquietações com
relação ao sexo e a vida que pode ser associada com a geração de realizadores
dos então vibrantes ou nascentes cinemas nacionais na América Latina, América
do Norte, Europa, África e Japão. Nesse sentido é visível sua dívida para com a matriz de quase
todos esses cinemas nacionais, os filmes da Nouvelle Vague. Sem muitos cacoetes
estilísticos ou preocupações com relação aos mecanismos narrativos do próprio
cinema como foi o caso de Godard, aproxima-se mais do naturalismo terno e
levemente cômico que observa os costumes dos personagens como em Truffaut.
Soma-se a isso, um leve – e esse leve certamente está vinculado a presença
forte da censura - teor de crítica social aos militares dirigentes do país,
através da anacrônica e hilária maneira como é exposto o desequilíbrio entre a
presença de mulheres e homens no país. Tampouco a classe média é poupada, na
figura dos modorrentos pais de Milda. A narrativa é toda contada através de uma
conversa íntima entre Andula e uma amiga sua, e é notável a liberdade com
relação ao sexo e com relação à própria figura feminina que também deve ter
sido uma influência do cinema francês produzido um pouco antes – notadamente Os Amantes (1958), de Malle. Aqui, tal
sexualização do olhar feminino se encontra presente na então rara nudez
masculina, tomando o filme um compartilhamento maior do ponto de vista da
protagonista, até mesmo como forma de se tornar compatível com sua opção
narrativa da conversa entre amigas, que o oposto. E tal compromisso e mesmo
empartia com um olhar erótico e de
descoberta, plenamente associado à juventude dos personagens, fica presente
tanto na sensualidade pictórica de algumas cenas, como a que o corpo de Milda
encobre o sexo de sua namorada, quanto no olhar irônico que lança às colegas de
Andula que reproduzem o discurso carola de suas superiores no colégio.
CBK/Filmové Studio Barrandov/Sebor. 88 minutos.
Comentários
Postar um comentário