Filme do Dia: Caçada Humana (1966), Arthur Penn

 



Caçada Humana (The Chase, EUA, 1966). Direção: Arthur Penn. Rot. Adaptado: Lilian Hellman, baseado na peça The Chase, de Horton Foote. Fotografia: Joseph LaShelle. Música: John Barry. Montagem: Gene Milford. Dir. de arte: Richard Day & Robert Luthardt. Cenografia: Frank Tuttle. Figurinos: Don Feld. Com: Marlon Brando, Jane Fonda, Robert Redford, E.G. Marshall, Angie Dickinson, Janice Rule, Mirian Hopkins, Richard Bradford, Robert Duvall, Joel Fluellen, James Fox, Malcolm Atterbury, Diana Hyland.

Numa provinciana cidade texana, a sua habitual vida de traições e conflitos familiares envolvendo a família do rico Val Rogers (Marshall) se atiçam com a fuga de “Bubber” Reeves (Redford), marido de Anna Reeves (Fonda), atual amante do filho único de Val e amigo de infância de Bubber, Jake (Fox), que vive um casamento de aparência com Elizabeth (Hyland). O delegado Calder (Brando), procura fugir do assédio de Val Rogers sobre tudo e todos da cidade, tendo que lidar com a pressão de Rogers e seus auxiliares, de um lado, e com a incredulidade de boa parte da cidade, inclusive dos pais de Bubber (Atterbury e Hopkins), que acreditam que ele beneficiará somente a família de Rogers. No seu retorno a cidade, Bubble consegue reencontrar Anna e Jake e pretende fugir mesmo com todas as barreiras policiais que já se encontram ativadas contra ele. Val e seus amigos, no entanto, conseguem invadir a delegacia, subjugar o xerife, e arrancar do negro Lester Johnson (Fluellen) a chicotadas, onde se encontra escondido Bubber. Enquanto o interesse de Val é de resgatar o filho com segurança, o dos outros é de linchar Bubber. Toda a juventude festiva da cidade se aproxima do local e incendeiam o ferro-velho de Lester. Jake acaba se ferindo gravemente. Bubber resolve se entregar. Quando se encontra à porta da cadeia, no entanto, émorto por um dos homens próximos de Val Rogers. Anna espera na porta da mansão dos Rogers e sabe da boca do próprio pai, que Jake acabou de falecer.

                Um dos mais notáveis comentários sobre a truculência da cultura americana no seio de uma sociedade altamente conservadora e hipócrita. Ainda que alguns motivos comuns aos melodramas sobre famílias patriarcais também sejam aqui focados, Penn centra o foco da narrativa em uma dimensão mais ampla, servindo como metáfora para o próprio país. Nesse sentido, não deixa de ser irônico que a valorizada liberdade individual que faz com que os heróis do universo do faroeste consigam fugir da “prisão” das leis que regem a coletividade como um todo, e que em muitos casos significa literalmente a prisão, por seus atos, se dê aqui no sentido justamente oposto: Calder luta com esforço hercúleo para que as leis sejam cumpridas. Nesse sentido, para além de suas duas intervenções que salvam Lester Johnson das mãos da elite racista, há a mais marcante cena de todo o filme, quando se torna vítima de espancamento na sua própria delegacia, já que Val Rogers não consegue ouvir um não como resposta, quando afirma que quer falar com Lester. A prepotência e obstinação de uma elite que não quer se render a uma justiça social mais ampla e encontra bodes expiatórios em figuras como Lester e Bubber chega ao extremo no assassinato final. Cena essa, por si própria, bastante evocativa da morte de Lee Oswald, o assassino de Kennedy, deixando entrever que a violência contida no filme muito se deve à violência vivenciada contemporaneamente fora das telas, com elementos herdeiros do passado colonial americano, sendo o mais explícito deles a surra de chicote que Val aplica em Lester. O modo como a elite é descrita francamente como extremamente promíscua, tema de longa tradição literária e recorrente na produção do Cinema Novo contemporâneo, é retratado de um modo bem mais caricato e menos importante para o efeito final que o da truculência. Fracasso de público e critica à época, o filme demonstra o tino de Penn, mesmo com todas as interferência do famoso produtor Sam Spiegel que resultaram em uma metragem por demais excessiva, de renovação de temas e personagens que faziam já parte do universo consolidado do cinema clássico americano, em filmes como Bonnie & Clyde (1967) e O Pequeno Grande Homem (1970). A certo momento de uma festa um tanto quanto hedonista com a elite local, há uma referência ao contemporâneo Quem Tem Medo de V. Woolf (1966), de Mike Nichols, com uma mulher cantando em ritmo semelhante, igualmente bêbada e trocando Virgínia Woolf pelo foragido Bubber. Columbia Pictures Co./Horizon Films/Lone Star para Columbia Pictures. 133 minutos. 

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