The Film Handbook#108: Arthur Penn






Resultado de imagem para arthur penn pics

Arthur Penn
Nascimento: 27/09/1922, Filadélfia, Pensilvânia, EUA
Morte:  28/09/2010, Nova York, Nova York, EUA
Carreira (como diretor): 1958-2001

Um dos diretores mais distintos e inteligentes que emergiu da televisão no final dos anos 50, Arthur Penn criou um corpo de trabalho que se centrou, em sua maior parte, no conflito violento entre autoridades e foras-da-lei: uma violência percebida como endêmica à sociedade americana. De fato, nos anos 60 e 70 ele localizou  as mudanças da América contemporânea com precisão infalível.

Nos anos 50 Penn se estabeleceu como um diretor de  ponta de dramas sérios tanto na televisão quanto no teatro. Em 1958 ele realizou sua estreia como diretor com Um De Nós Morrerá/The Left Handed Gun, uma versão da peça de Gore Vidal sobre Billy the Kid, caracterizando-o como um jovem mentalmente instável cuja sede de vingança da morte de um amigo por fim leva a provocar o homem da lei Pat Garrett (o primeiro das diversas figuras paternas ameaçadoras de Penn) à ação. Psicologicamente astuto, o filme também foi notável por suas interpretações e sua pouco comum descrição física da violência - pontos fortes que seriam ainda mais ressaltados em O Milagre de Anne Sulivan/The Miracle Worker>1, uma narrativa forte e apaixonada sobre os devastadores esforços emocionais de Anne Sullivan para ensinar a surda-muda e cega Helen Keller a reagir ao seu mundo de uma forma "civilizada". Longos planos certificam a intensidade do espírito do filme, assim como uma variedade de cortes abruptos, montagem veloz e angulações pouco comuns que servem para intensificar o ar de mistério e paranoia em Mickey One, um por vezes pretensioso thriller-filme de arte influenciado pela Nouvelle Vague francesa, no qual as ansiedades de um cômico da noite sobre uma "organização" sem face definida espelham o clima de suspeita e traição dos anos de "caça às bruxas" do McCarthismo.

Porém foi em Caçada Humana/The Chase>2 que Penn analisou as raízes da violência americana de forma mais pujante. Um melodrama sombrio, remontado pelo estúdio, empregando uma lógica cruel para traçar a gradual derrocada rumo a anarquia de um linchamento coletivo de uma comunidade aparentemente respeitável do Texas, alarmada com as notícias do retorno inesperado de um condenado foragido; ganância, ambições mesquinhas, racismo e laços familiares são instrumentais em fermentar a histeria da massa que tem seu clímax em um assassinato reminiscente ao assassinato de Lee Harvey Oswald por Jack Ruby. Igualmente desencantado com a sociedade convencional foi Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas/Bonnie and Clyde>3. Esse thriller de gangster rural altamente influente combinou humor negro, violência gráfica e um senso de tédio espiritual e confusão moral induzidos pela pobreza cultural e econômica da Depressão dos anos 30 para evocar a rebelião anti-establishment do final dos anos 60. Crucial para o filme foi a visão simpática de Penn da gangue dos Barrow não  obscurecida pelo sentimentalismo, e o tom inicialmente bem humorado vai constantemente se tornando sombrio para findar em uma carnificina caótica e sanguinolenta.

Deixem-Nos Viver/Alice's Restaurant foi uma expressão sutil da desilusão, empregando uma  forma errante de balada para descrever as tentativas mal sucedidas de hippies idealistas de formar uma sociedade alternativa a sua própria; O Pequeno Grande Homem/Little Big Man>4, no entanto, foi um feroz desmascaramento dos mitos do Western, com um homem de 121 anos (produto de uma infância dividida entre brancos e índios) lembrando a loucura da vida na fronteira em uma saga digna de cão sem dono. Proporcionou uma correção às noções tradicionais da vida indígena, enquanto contava uma história do imperialismo americano que claramente trazia ecos da Guerra do Vietnã.

Durante os anos 70, Penn - ainda ativo no teatro - trabalhou com menor regularidade no cinema. Tanto Um Lance no Escuro/Night Moves>5 e Duelo de Gigantes/The Missouri Breaks>6, no entanto, foram filmes bem dignos de nota. O primeiro um filme noir moderno tenso e elíptico no qual  o fracasso do detetive (tanto em resolver o caso quanto em dar vazão aos seus próprios impulsos voyeuristas) sugerem o clima de apatia, decepção e cinismo afetando grandemente a América pós-Watergate; o segundo um western chocante e discursivo que desconstrói de forma divertida os clichês do gênero (o personagem do tolo detetive de Brando em inúmeros disfarces absurdos e seu chefe lendo Tristam Shandy) e revela diálogos ao mesmo tempo poéticos e vividamente coloquiais. O filme, aliás, foi visivelmente negligenciado e Penn (substituído por Ken Russell em Viagens Alucinantes/Altered States) levou cinco anos a retornar à direção com o irregular, ainda que grandemente inteligente, Amigos para Sempre/Four Friends (Georgia, Georgia's Friends), um panorama da América dos anos 50 aos 70 visto através dos olhos de um jovem imigrante iugoslavo.

A obra mais recente do diretor sugere um inesperado enfraquecimento: O Alvo da Morte/Target foi um relativamente convencional thriller de espionagem, notável principalmente por seu retrato sensível de uma problemática relação pai-filho e uma divertida investigação de várias concepções de "famílias" (a CIA, a rede de espiões comunistas, os próprios ameaçadores personagens centrais); enquanto Morte no Inverno/Dead of Winter, inspirado por Trágico Álibi/My Name is Julia Ross de Lewis foi um eficiente, antiquado e, em última instância, típico thriller sobre uma mulher seduzida com propósitos sinistros. Ambos os filmes proporcionaram material pouco digno dos  talentos consideráveis de Penn; ele encontra seu melhor quando adota uma abordagem mais oblíqua e iconoclasta aos gêneros e foca sua atenção nos rebeldes à margem do sistema que iluminam, por sua própria oposição, as correntes sombrias de uma sociedade devotada ao conformismo e a repressão.

Cronologia
Apesar de sua formação encorajar uma comparação com Frankenheimer, Lumet e outros diretores provenientes da televisão, o próprio Penn tem falado de sua admiração pela Nouvelle Vague, particularmente Truffaut e Godard. Seus fascínio com os marginais e a violência americana é reminiscente de Nicholas Ray, enquanto Bonnie & Clyde foi enormemente influente para os realizadores americanos mais jovens.

Leituras Futuras
Arthur Penn (Nova York, 1969), de Robin Wood.

Destaques
1. O Milagre de Anne Sullivan, EUA, 1962 c/Anne Bancroft, Patty Duke, Victor Jory

2. Caçada Humana, EUA, 1966 c/Marlon Brando, Robert Redford, Jane Fonda, E.G.Marshall

3. Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas, EUA, 1967 c/Warren Beatty, Faye Dunaway, Michael J. Pollard

4. O Pequeno Grande Homem, EUA, 1970 c/Dustin Hoffman, Faye Dunaway, Chief Dan George

5. Um Lance no Escuro, EUA, 1975 c/Gene Hackman, Susan Clark, Jennifer Warren

6. Duelo de Gigantes, EUA, 1976 c/Marlon Brando, Jack Nicholson, Kathleen Lloyd

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 217-9.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng