Filme do Dia: Almas em Leilão (1959), Jack Clayton
Almas em Leilão (Room at the Top, Reino Unido, 1959).
Direção: Jack Clayton. Rot. Adaptado: Neil Paterson & Mordecai Richler.
Fotografia: Freddie Francis. Música: Mario Nascimbene. Montagem: Ralph Kemplen.
Dir. de arte: Ralph W. Brinton. Com: Laurence Harvey, Simone
Signoret, Heather Sears, Donald Wolfit, Donald Houston, Hermione Baddeley, Alan
Cuthbertson.
Joe Lampton (Harvey), de origem
humilde e recém-chegado numa pequena cidade, planeja um casamento com a filha
de um industrial e mais rico e influente homem do local, Susan (Sears).
Porém, ele se envolve emocionalmente com uma atriz francesa dez anos mais
velha, Alice (Signoret). O pai de Susan (Wolfit), concorda com o casamento,
após observar que não existe outra solução melhor, porém o alerta para
abandonar sua relação com Alice, cujo marido, George (Cuthbertson), não
pretende concordar com o divórcio. Joe não tem outra opção que romper com
Alice. No mesmo momento em que se festeja no seu trabalho o anúncio de seu
casamento com Susan, Joe sabe da notícia da morte de Alice num acidente de
carro. Ele se embriaga e tenta se interessar por uma garota em um bar, mas cai
desacordado. Tempos depois, um grupo restrito de convidados assiste a seu
casamento com Susan.
Saudado como o precursor dos
filmes a lançarem todo um ciclo de angry
young men nas telas britânicas, o filme de Clayton pode se enquadrar talvez
entre os filmes da “nova onda” britânica, contemporânea a Nouvelle Vauge
francesa, de forma mais aproximada do que O
Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte com relação ao Cinema Novo
brasileiro. Faz uso, de forma até então inédita no cinema britânico, de
uma franca abordagem com relação à sexualidade e um linguajar chulo igualmente
inédito em produções destinadas ao grande público, para não falar – e mais
importante – de sua abordagem voltada para conflitos de classe, sendo o seu Joe
Lampton mais uma encarnação do ressentimento
social em relação a uma sociedade ainda por demais afeita às distinções sociais
bem marcadas. Tampouco faltam imagens que se tornariam bastante comuns na
produção do novo cinema, como os personagens sendo secundados por uma paisagem
vastamente proletária ou industrial – as altas chaminés dominando a imagem ao fundo. Porém, além do
filme aparentar maior convencionalidade estilística ele se torna igualmente
presa da interpretação unidimensional de Harvey. Assim, se a intenção original
do filme é apresentar um personagem dividido entre o calculado alpinismo social
e os “sentimetos autênticos”, seu Joe Lampton age com a mesma máscara
imperturbável tanto quando se encontra com Susan quanto com Alice, criando-se
uma propensão a se antipatizar com o personagem, com seus arroubos de
intensidade próximos da psicose, distantes do olhar humano lançado para os
protagonistas de outros dramas semelhantes. E, de certa forma, a reforçar o status quo sobre os lugares sociais reservados a cada um
dos personagens que se pretende criticar. Dito isso, com um tratamento mais
distanciado e moderno, o filme poderia abordar um olhar cínico e sem culpas de
seu protagonista. Para sua época, no entanto, é bastante ousado, sendo
interpretado bravamente tanto por Signoret,
que mais parece uma versão feminina de Brando nas tomadas de perfil de seu
rosto, em seu tom falsamente blasée, quanto principalmente por Harvey, que
também se tornaria cineasta bissexto e certamente foi chamado para o posterior Sob o Domínio do Mal, por conta desse
filme. Destaque para a melhor cena do
filme, logo ao início, que flagra com rara “espontaneidade” o interesse das
garotas do escritório pela chegada do novato, apenas através de seus olhares.
Signoret acumularia os prêmios de interpretação feminina em Cannes e o Oscar.
Remus para IFD. 115 minutos.
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