Filme do Dia: Um Beatle no Paraíso (1969), Joseph McGrath


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Um Beatle no Paraíso (The Magic Christian, Reino Unido, 1969). Direção: Joseph McGrath. Rot. Adaptado: Terry Southern & Joseph McGrath. Fotografia: Geoffrey Unsworth. Música: Ken Thorne. Montagem: Kevin Connor. Dir. de arte: Assheton Gorton & George Djurkovic. Figurinos: Evangeline Harrison. Com: Peter Sellers, Ringo Starr, Isabel Jeans, Caroline Blakinston, Wilfrid Hyde-White, Richard Attenbourough, Leonard Frey, Yul Brinner.
Guy Grand (Sellers) é um milionário excêntrico e o homem mais rico do mundo. Ele resolve adotar um morador de rua, Youngman (Starr) como filho. Guy sai junto ao filho buscando provar que o dinheiro pode comprar tudo, das atenções exclusivas de um restaurante de luxo ao ato de dormir no gramado de um parque público, da destruição de obras de arte referenciais a uma tradicional prova esportiva de remo. Toda a sociedade londrina é convidada para a inauguração do fabuloso transatlântico de Guy, que é um um grande fiasco e leva a multidão não para Nova York mas para a própria Londres.
A verve anti-establishment de Southern e a presença de Sellers convidam a uma comparação que torna o filme ainda mais constrangedor, o Dr. Fantástico (1964), de Kubrick. O que vem a demonstrar o quanto a abordagem de uma história pode ser tão ou mais importante que a própria. Aqui, do início ao final o filme patina em sua pretensão de crítica ao establishment de forma canhestra e mesmo amadora – se a “interpretação” de Starr é pífia, o que não vem a ser uma surpresa, a de Sellers tampouco é grande coisa. Na verdade, trata-se de uma sucessão de sketches de pretensão cômica no estilo que posteriormente seria adotado no cinema pelo Mont Phyton (não por acaso fazendo parte da equipe do roteiro dois membros do grupo), mas  ao mesmo tempo devedor de um estilo de nonsense inglês bastante peculiar, ainda mais intragável que o de certas comédias britânicas que haviam sido produzidas ao longo da década, como as de Richard Lester (Como Eu Ganheir a Guerra) ou mesmo a experiência psicodélica fracassada dos Beatles (Magical Mystery Tour). Em sua história não faltam constantes paródias a homossexualidade, sobretudo no momento em que dois homens hiper-musculosos mexem com a libido de alguns senhores da sociedade e – de forma um pouco mais divertida – com a presença de um Yul Brinner travestido. É curiosa que a lógica de que parte o filme, do dinheiro que compra tudo, serviu involuntariamente ou não para a quantidade de nomes famosos que fizeram uma ponta nessa desastrosa produção, de uma maneira geral acentuando suas personas cinematográficas (Rachel Welch como mulher dominadora que revive as galeras de Ben Hur, Christopher Lee revive seu personagem mais célebre, Drácula, pelos corredores do navio e Polanski seu tímido personagem de A Dança dos Vampiros). Laurence Harvey surge interpretando a si mesmo numa versão “moderna” de Hamlet fazendo strip-tease diante do público inconformado. A presença de Starr, que não pode ser explicada senão como chamariz comercial do filme, foi ainda mais valorizada no título brasileiro, já que não há qualquer menção direta no filme de Starr fazer parte do grupo, mesmo com a presença na trilha de Come and Get It, de Paul McCartney, escrita especialmente para o mesmo e com dois sósias de John Lennon & Yoko Ono adentrando o Magic Christian, num plano propositalmente breve. John Cleese é um dos vários atores fazendo pontas, ele como diretor da Sotheby's. Commonwealth United Ent./Grand Films Lmtd. para Commonwealth United Ent. 92 minutos.


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