Filme do Dia: Nise: O Coração da Loucura (2015), Roberto Berliner

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Nise: O Coração da Loucura (Brasil, 2015). Direção: Roberto Berliner. Rot. Original: Flávia Castro, Maurício Lissovski, Maria Camargo, Chris Alcazar, Patrícia Andrade, Leonardo Rocha & Roberto Berliner. Fotografia: André Horta. Música: Jaques Morelenbaum. Montagem: Pedro Bronz & Leonardo Domingues. Dir. de arte: Daniel Flaksman. Com: Glória Pires, Felipe Rocha, Fernando Eiras, Cláudio Jaborandy, Zécarlos Machado, Augusto Madeira, Bernardo Marinho, Flávio Bauraqui, Charles Fricks, Georgiana Góes, Simone Mazzer, Roney Villela, Fabrício Boliveira.
Hospital psiquiátrico de Engenho do Dentro, Rio de Janeiro, 1944. A Dra. Nise da Silveira (Pires) retorna ao hospital após uma temporada afastada e fica chocada com as más condições em que se encontram os pacientes e com o tratamento desumano, sob a prerrogativa científica, que lhe são aplicados por seus colegas de profissão. Incapaz de se aliar ao grupo, ela assume o setor destinado a terapia ocupacional, comandado por dois enfermeiros, Lima (Madeira) e Ivone (Rodrigues), que não prestam a menor atenção aos pacientes. A Dra. Nise não apenas reformula o espaço, antes repleto de destroços como também o modo como os enfermeiros devem tratar o que ela pede que sejam chamados de clientes. Almir (Rocha), outro funcionário do hospital, dá-lhe a ideia de trabalharem com material de pintura. Em relativamente pouco tempo uma diversidade de talentos emerge. Dentre os pacientes que começam a se destacar em suas obras se encontram o até então incomunicável Emygdio (Jaborandy), Fernando Diniz (Boliveira), Otávio Inácio (Bauraqui), o introspectivo Raphael (Marinho) e Adelina Gomes (Mazzer). Uma estudiosa de artes plásticas vai trabalhar com a equipe, Marta (Góes), que Nise designa para acompanhar exclusivamente Raphael. Numa pequena exposição montada na própria instituição, as obras despertam o interesse do mais renomado crítico de arte brasileiro da época, Mário Pedrosa (Fricks), que estimula Nise a tentar driblar as barreiras institucionais e apresentar os trabalhos em outros ambientes, como forma igualmente de lutar contra os setores conservadores da instituição, tais como o Dr. Nélson  (Machado).
Que não se espere nada muito além de um recorte bastante convencional, em sua abordagem, dessa cinebiografia da psiquiatra Nise da Silveira e seu trabalho pioneiro de terapia através da arte e igualmente estimulado pelas teorias do inconsciente de Jung, com quem chega a se comunicar, tal como presente a determinado trecho. A obra de Silveira havia sido tema do documentário muito comentado e pouco visto, de 3 horas e meia de duração, Imagens do Inconsciente (1987), último filme de Leon Hirzsman, que morreria no mesmo ano e do qual o filme se apropria ao final para apresentar os artistas-pacientes retratados, assim como a própria Nise. A partir da fala libertária, desmesurada e algo descontraída dessa no documentário se tem uma medida do abismo que separa sua figura e o trabalho levado a cabo por ela da ressignificação imposta pela dramaturgia um tanto convencional do filme. Dito isso, seria algo injusto julgar o filme pela proposta que se pensou potencialmente mais próxima do que seria o documentário de Hirzsman, qual fosse, e não pela que de fato foi escolhida, tão digna quanto qualquer outra. Na opção escolhida, salienta-se a interpretação segura de Pires (recém-saída de outra cinebiografia de outra personalidade brasileira contemporânea de Nise e de personalidade igualmente forte, Lota de Macedo Soares em Flores Raras (2013), de Bruno Barreto e um trabalho de direção de arte que valoriza a evocação ao período dentro da padrões modestos e que evitam cenas externas que requeriam um maior esforço de reconstituição histórica. Porém, mesmo se respeitando a opção grandemente clássica do filme, com direito a um maniqueísmo demasiado raso entre os psiquiatras do mal, encarnados na figura de Nélson e as práticas heterodoxas de Nise no eixo do bem, o filme desliza em episódios fragmentários e situações de conflito – como o da morte dos animais de estimação que eram um dos cavalos de batalha da terapia humanista de sua protagonista, que carecem de uma maior reformulação orgânica por parte de seu realizador. Noutros casos, certas cenas, como a do sexo entre dois pacientes, parece uma opção menos inserida como pretenso fomentador de tensão dramática  – o surgimento da gravidez em uma das pacientes – a ser desconstruído retrospectivamente, que como mera dispersão voyeurista, já que a cena não funciona nem como drama nem como cômica. Algo que fica patente em seu final algo abrupto, apelando para o clichê das imagens documentais teoricamente a corroborarem a construção dramática observada em todos os momentos anteriores. TV Zero. 106 minutos.

Comentários

  1. Maravilhoso!!!
    Pena que apagaram da história os motivos que a levaram à prisão, antes do retorno ao Sanatório!
    Um abraço Cid.
    Feliz Natal.

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  2. Pois, esses apagamentos possuem sua razão de ser, tem a ver com o recorte que foi dado pelo filme...e digo isso não exatamente como elogio ou justificativa.
    um abraço, minha querida! Feliz Natal e um ano de 2017 menos mazelado do que foi esse 2016 para o nosso país.

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