Filme do Dia: Hannah Arendt (2012), Margarethe von Trotta


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Hannah Arendt (Alemanha/França/Luxemburgo, 2012). Direção: Margarethe von Trotta. Rot. Original: Pam Katz & Margarethe von Trotta. Fotografia: Caroline Champetier. Música: André Mergentheler. Montagem: Bettina Böhler. Dir. de arte: Volker Schäfer & Ania Fromm. Cenografia: Petra Klimek. Figurinos: Frauke Firl. Com: Barbara Sukowa, Axel Milberg, Janet Mcteer, Julia Jentsch, Ulriche Noeten, Michael Degen, Nicholas Woodeson, Klaus Pohl, Friederike Becht.
Nova York, 1961. A filosófa e professora Hannah Arendt (Sukowa), já conhecida por sua obra pioneira sobre o tema, As Origens do Totalitarismo, é convidada pela revista New Yorker para escrever a respeito do julgamento de Adolf Eichmann, um dos nomes mais importantes do nazismo, que ocorre em Jerusalém. Seus ensaios, que abordam o tema de uma forma complexa e não maniqueísta, referindo-se inclusive ao envolvimento dos próprios judeus no holocausto, mesmo contando com a compreensão de seu editor, William Shawn (Woodeson), geram uma reação irada de amplos setores da sociedade norte-americana e sua hostilidade dos colegas professores universitários, assim como de vários de seus amigos. Em meio a tanta pressão, Arendt relembra momentos de seu envolvimento afetivo com Martin Heidegger (Pohl) e se angustia com o acidente vascular cerebral sofrido pelo marido, Heinrich (Milberg). Apesar de tudo, Arendt não se escusa em fazer uma defesa pública de seus argumentos na própria universidade.

Sukowa talvez seja um dos melhores motivos para a existência desse filme que, ao contrário do que o título poderia apontar, não é exatamente uma cinebiografia, mas antes se centra em um momento bastante preciso da trajetória de sua biografada (estratégia essa, aliás, semelhante a que a realizadora havia empreendido em alguns de seus filmes mais célebres sobre personagens femininas “em tempos sombrios”, seja ficcionais como em A Honra Perdida de Katharina Blum ou personalidades do mundo histórico como Rosa Luxemburgo, vivida pela mesma Sukowa). O que o filme possui de modesto, em termos de valores de produção que emulam os ambientes da época é compensado pela densidade com que se adentra no drama de sua protagonista, atormentada e dividida entre o seu comprometimento ético e intelectual, sua integridade moral de um lado e a ruína de sua imagem pública e o esgarçamento de alguns dos laços afetivos mais importantes. Dentro desse espectro, talvez soem desnecessários os prolongados momentos em que se observa  a defesa de Eichmann de si próprio no julgamento ou – e ainda mais – a recriação dos momentos de envolvimento com Heidegger. Ao conseguir se esquivar relativamente bem da mera recriação mimética de seus ilustres personagens, explorada como nunca pelo cinema de sua época, o filme nem por isso consegue um tento de apagar de todo  sua narrativa e interpretações algo irregulares. Seu final, intensamente abrupto, pode igualmente ser apreciado como uma recusa do tradicional tom conclusivo e ao mesmo tempo conciliatório com o qual os desfechos de conflitos apresentados por narrativas similares são elaboradas pelo cinema. Heimatfilm/Amor Fou Luxembourg/MACT Prod./Sophie Dulac Prod./Metro Communications/ARD Degeto Film/BR/WDR para NFP Marketing & Dist. 113 minutos.

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