Filme do Dia: Central do Brasil (1998), Walter Salles


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Central do Brasil (Brasil, 1998) Direção:Walter Salles.  Rot.Original: Marcos Bernstein&João Emanuel Carneiro, baseado em argumento de Walter Salles. Fotografia: Walter Carvalho. Música:  Jaques Morelembaum &Antonio Pinto, Montagem: Felipe Lacerda & Isabelle Rathery . Com:Fernanda Montenegro, Marilia Pera, Vinicius de Oliveira, Soia Lira, Othon Bastos, Otávio Augusto, Stela Freitas, Matheus Nachtergaele, Caio Junqueira.
              Dora (Montenegro), possui como ganha-pão a escrita de cartas para pessoas analfabetas na estação ferroviária Central do Brasil, Rio de Janeiro. Contando com a boa fé daqueles que acreditam que ela realmente envia as mensagens, Dora na verdade as lê juntamente com sua amiga Irene (Pera), rasgando a maioria e selecionando as que acha mais importantes para ficarem na sua gaveta, para uma eventual posterior emissão. Certo dia, no entanto,  Dora se vê acusada pelo garoto Josué (Oliveira), que anteriormente estivera com sua mãe de não haver remitido a carta, na qual sua mãe apela para que o pai de Josué venha para conhecê-lo. Logo após gritar com o garoto e pedir que saia da fila, ocorre uma tragédia. Sua mãe é atropelada quase em frente da banca de Dora. Sem ter para onde ir, Josué começa a dormir na estação, onde Dora convence-o para que vá até sua casa. Irene, apesar de desconcertada com as perguntas do menino, fica encantada com a sua presença no apartamento de Dora. Esta, no entanto, afirma que vai levá-lo a uma instituição exemplar para crianças, após uma conversa com o vigia da estação Pedrão (Augusto). Porém, na verdade, a instituição exemplar não passa de um grupo de traficantes de crianças para o exterior, que lhe paga o dinheiro que necessita para comprar uma televisão último modelo. Quando assiste a tv junta a Irene de noite, esta fica profundamente irritada com Dora, percebendo tudo. Dora não consegue mais dormir sossegada. Retorna ao apartamento dos receptadores com a proposta de trazer outras crianças e foge com Josué, quase contra a força deste, ainda extremamente magoado com o que fizera. Ameaçados de morte, Dora não tem outra saída que não ir com Josué até o interior de seu pai. No ônibus, revela um passado igualmente triste, com o abandono pelo pai quando era tão jovem quanto ele. Porém, no meio do caminho muda de idéia e deixa que o ônibus parta sem ela, comprando imediatamente uma passagem de volta para o Rio. Quando percebe, no entanto, Josué também abandonou o ônibus. Desesperada, encontra na figura do caminhoneiro protestante César (Bastos), alguém que se compadece de sua situação. Quando chegam à venda de um amigo de César, no entanto, inspirada em Josué, Dora furta diversos alimentos, sendo flagrada pelo comerciante. César, no entanto, quer deixar claro que tudo não passa de um mal-entendido, acobertando Dora. Porém, depois de ouvir os comentários de Josué no mictório e a tentativa de Dora de seduzi-lo, abandona-os e parte. Dora só percebe quando sai do banheiro, onde fora se arrumar para partir para a sedução. Pegam carona em um caminhão de romeiros. A última tentativa de conseguir dinheiro, através da venda da tv sofisticada, fracassou quando Irene envia o dinheiro para uma cidade errada. Ao chegarem no suposto endereço do pai de Josué, se decepcionam porque a família que lá mora afirma que há muito tempo ele saiu de lá, dando-lhe seu novo endereço, que é um conjunto habitacional. Desesperada com a falta de dinheiro e o cansaço físico, Dora  briga e descarrega toda sua frustração em Josué. Este foge e Dora o persegue, até exaurida desmaiar em meio a uma procissão. Quando retorna aos sentidos, está sendo consolada por Josué, que lhe sugere como voltar a ganhar dinheiro: voltar a redigir cartas para  analfabetos. Com a féria do dia, possuem dinheiro suficiente para pernoitar em um pequeno hotel e seguirem o caminho até a cidade onde o pai de Josué possivelmente se encontra. Porém novamente ele não mora mais no local indicado. Isaías (Nachtergaele), no entanto,  irmão de Josué, fica sabendo que alguém anda procurando seu pai e leva-os  para sua casa, onde juntamente com o irmão Moisés (Junqueira), pede para que Dora leia a carta que seu pai lhe deixara. Ela lê, acrescentando no final uma referência a Josué. Enquanto os três garotos dormem, Dora parte de volta ao Rio. Josué acorda, mas não há tempo de ainda encontrá-la. Sobra, para ambos, a única recordação da aventura que viveram juntos: as fotografias tiradas na feira religiosa.
Interessante filme de Salles, embora em última instância, grandemente manipulativo à nivel emocional e com um roteiro e caracterização dos personagens bastante superficial para se tornar realmente envolvente. Óbvia influência do neorrealismo italiano, De Sica em especial - sentimentalismo, utilização de um ambiente proletário e fortes colorações naturalistas. Porém não parece transcender o modelo italiano e apontar para mais além ou para uma fusão com elementos outros - como no caso de Através das Oliveiras de Kiarostami. Entre os motivos de apelo fácil se encontram o da pessoa madura que se vê renovada, em termos éticos, com a companhia de uma criança (como em Kolya), o da morte da mãe da criança, personagens-clichês como o do caminhoneiro protestante, da prostituta de bom coração e algumas facilidades do roteiro como a do envio do dinheiro para um local errado etc. Interpretação de Fernanda Montenegro à altura do óbvio e das facilidades narrativas. Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim. Videofilmes/Riofilmes/MACT. 112 minutos.


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