Filme do Dia: Jaguar (1954/1969), Jean Rouch
Jaguar (França, 1954/1969). Direção: Jean
Rouch.
Três jovens nigerianos, Lam, Illo e Damore, decidem
partir em uma viagem pela Costa do Ouro, futura Gana. No caminho se deparam com
os Somba, que choca-os por viverem todos nus e por serem considerados
feiticeiros. Um dos jovens, Damore, afirma que é errado gracejaram dos costumes
dos Somba, pois eles parecem um povo pacífico. Os amigos encontram pela
primeira vez o mar e se assustam com sua força. Após terem recusadas a entrada
deles na fronteira da Costa do Ouro, os três jovens passam pelas costas da
aduana e se separam. A câmera segue Damore, que parte para Accra a pé e de carona. Ele se torna um
trabalhador bem sucedido em Accra, onde existe uma gigantesca feira, e passa a
considerar a si próprio como um Jaguar, um homem elegante, belo e que impõe
admiração a todos. Ocasionalmente os amigos se encontram em sua própria banca
de feira e desmontam o negócio para retornarem para a Nigéria como homens
experientes que vivenciaram realidades que a sua comunidade não vivenciou.
Nesse filme, Rouch utiliza pela primeira vez sua técnica
de cruzar documentário e ficção e faz da voz off (na maior parte das vezes de
Damore, algumas vezes do próprio Rouch) e da pós-sincronização de comentários
sobre a imagem, características que voltariam a se fazer presentes, no mais
impactante e esteticamente elaborado Eu, um Negro. Aqui, de qualquer modo, Rouch deixa patente sua fenomenal ruptura
com o filme e a antropologia etnográfica clássica, que filma ou estuda esse
“outro” apenas enquanto uma curiosidade científica. Mais que isso, já que
consegue espelhar esse espanto pelo exótico não no foco central do filme – os
três jovens - como era de se esperar,
mas no que os próprios três jovens observam, tribos que lhe parecem
grotescamente primitivas, em um primeiro momento. A partir desse movimento
oposto da etnografia clássica, o cineasta consegue expressar a subliminar
mensagem de que todo ato bárbaro é o efetivado por uma outra cultura que não a
nossa, ao mesmo tempo que o critério de racionalidade para julgá-lo não é outro
que o de nossa própria sociedade. Filmado em 16 mm. Les Films de La Plêiade. 110 minutos.
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