Filme do Dia: O Nascimento da Glória (1999), Chen Gouxing
O Nascimento da
Glória (Heng kong Chu Shi, China, 1999). Direção: Chen Gouxing. Com: Li Xuejian, Gao Ming, Yu
Yang, Li Youbing.
Em meados da década de 1950, a China se
prepara para produzir sua primeira bomba atômica, sob a ameaça iminente do
arsenal americano posicionado na Coréia do Sul e as ameaças recentes do governo
americano. Um cientista, mesmo sem muita experiência na área (Xuejian) é
designado para a missão. Apesar dos conflitos iniciais que tem com o comandante
militar da operação, apenas preocupado com o cronograma e com o abandono da
missão soviética, que decide não mais colaborar com o projeto, assim como das
inúmeras vicissitudes que acompanham o mesmo, incluindo até mesmo falta de
munição, a missão é cumprida. Por parte do cientista, tais sacrifícios incluem
sua própria relação conjugal e as acusações de colaboracionismo com os
americanos. Em 1964, apesar de todas as adversidades, o primeiro teste nuclear
chinês com uma bomba atômica é realizado.
O filme de Guoxing, realizado para as
comemorações do cinquentenário da Revolução Chinesa de 1949, torna-se
integralmente contaminado pelo seu nacionalismo chauvinista. A ausência de tom
autocrítico nesse relato que prefere apenas acentuar o heroísmo amador e
romântico da aventura da realização da primeira bomba é tão preocupante quanto
sua estrutura grandiloquente, clássica e fajuta. Nesse sentido se encontra, por
exemplo, o manjado recurso do de se acentuar dramaticamente com o uso de trilha-sonora associada a imagens em câmera lenta, buscando ilustrar o momento de triunfo da comemoração
dos soldados por terem encontrado água no deserto de Gobi. No sentido
propriamente ideológico se encontra a descrição da virtuosidade da soldadesca e
da intelectualidade, capaz de suportar com um altruísmo inverossímil a falta de
mantimentos. Em nenhum momento se chega a questionar a própria corrida
armamentista, apesar das imagens de Hiroxima e Nagasaki. Aliás, a pergunta mais
correta é como se poderia questionar, se o filme teve entre seus financiadores
a própria indústria nuclear chinesa. Seu tom amplamente descritivo e sua
inserção de uma referência ligeira à paranoia
típica da Guerra Fria, no que diz respeito ao episódio da perseguição ao
cientista, ainda almejam uma pretensa neutralidade. Qualquer alusão nesse
sentido cai por terra com a explosão de júbilo que acompanha as imagens da
primeira explosão nuclear, tão constrangedoras em sua explícita propaganda
política armamentista quanto a epígrafe do velho timoneiro Deng Xiao-Ping.
Curiosamente, Guoxing foi da mesma geração, quando estudante de cinema, de
realizadores como Zhang Yimou e Chen Kaige, que possuem cinematografias bem
mais críticas em relação a história oficial do país e incomensuravelmente mais
elaboradas, em termos estéticos. 111 minutos.
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