Filme do Dia: O Amor em Cinco Tempos (2004), François Ozon
O Amor em Cinco Tempos (5x2, França, 2004). Direção: François Ozon. Rot. Original: François Ozon & Emmanuèle Bernheim. Fotografia: Yorick La
Saux. Música: Philippe Rombi. Montagem: Monica Coleman. Dir. de arte: Kátia
Wyszkop. Figurinos: Pascaline Chavanne. Com: Valeria Bruni Tadeshi, Stéphane
Freiss, Géraldine Pailhas, Françoise Fabian, Michel Londsale, Antoine Chappey,
Marc Ruchmann, Jason Tavassoli.
Marion (Tadeshi) se divorcia de Gilles (Freiss) e depois é
praticamente violentada por ele na cama do hotel. Os últimos dias de um
casamento que se deteriora. O encontro de Marion e Gilles e seu irmão e o
namorado dele. O nascimento do filho do casal, quando Gilles se afasta do
hospital e da esposa. A festa de casamento de Marion e Gilles, quando Gilles
adormece e Marion busca os braços de um estranho. Em férias na praia com uma
namorada, Valérie (Pailhas), Gilles encontra casualmente Marion (Tadeshi), que
conhecia somente do emprego e, após o desconcerto inicial, o momento em que o
amor surge.
Ozon utiliza uma estratégia semelhante à de Irreversível (2002), de Gaspar Noé,
contando o envolvimento do casal em cronologia inversa. Enquanto no caso de Noé
a inversão procura amplificar o efeito da morte da protagonista, observada de
uma maneira deslumbrante e feliz ao final do filme, resvalando para o
sensacionalismo voyeurista, aqui as motivações são outras. Parte-se do momento
agônico do relacionamento para o seu próprio surgimento, numa ode irônica ao
amor. Entremeado de canções italianas da década de 1960, o filme mantém um
certo distanciamento dos personagens, que são observados como que por uma lupa.
Embora finde com um cenário paradisíaco da praia deserta ao pôr do sol que o
casal passa a ter intimidade, digno de Lelouch se tivesse uma trilha sonora e
planos mais fechados da intimidade dos mesmos, o que o filme parece expressar é
justamente a impossibilidade do amor romântico para a geração dos
protagonistas. Numa cena-chave, Marion após sair do quarto em que o noivo
adormeceu em plena noite de núpcias, encontra os seus pais dançando
enternecidos ao som de Smoking Get Your
Eyes. Seu olhar parece ser a própria expressão consciente da
impossibilidade do romantismo também no cinema tal como à época da geração dos
seus pais. No máximo, uma reatualização do gênero como pretende fazer Ozon,
como fizera de forma mais interessante e menos pretensiosa Stanley Donen em Um Caminho para Dois (1967), onde as
cenas de diversos momentos da vida de um casal são entremeadas ao longo de toda
a narrativa. O resultado final aqui é um tanto quanto pálido, já que pouco se
extrai do exercício estilístico de Ozon, que transcenda a própria expressão
narrativa e vá além, indagando a fundo sobre as próprias insatisfações e desejos
humanos como Fassbinder, um dos cineastas que Ozon parece ter peculiar carinho
– adaptou uma peça sua, Gotas D´Água
sobre Pedras Escaldantes (1999) e utiliza a canção de The Platters que era
uma das favoritas do cineasta para o momento decisivo do filme. Aqui, pelo
contrário, o cineasta pouco parece se interessar por seus próprios personagens,
que observa de maneira completamente desapaixonada. Fidélité Productions. 90
minutos.
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