The Film Handbook#106: John Farrow
John Farrow
Nascimento: 10/02/1904, Sidney, Austrália
Morte: 28/01/1963, Beverly Hills, Califórnia, EUA
Carreira (como diretor): 1937-1959
Apesar de ser um realizador menor geralmente restrito pelos orçamentos de filmes-B, John Villiers Farrow frequentemente realizou filmes estilizados e criativos. No final dos anos 40 e idos de 50, poucos diretores descreveram a maldade tão sutilmente.
Após ser seduzido pelo mar, onde escreveu peças e contos, Farrow chegou a Hollywood no final dos anos 20: inicialmente como consultor de sequencias marítimas, rapidamente progredindo aos roteiros. No final dos anos 30 passou a dirigir: tanto Aviso Sinistro/The Invisible Manace (um crime de morte ambientado em claustrofóbicas e enevoadas tendas do exército) quanto Cinco Devem Viver/Five Came Back>1 (um tenso drama de naufrágio, com um grupo de sobreviventes brigando na selva, sua ênfase no auto-sacrifício e redenção antecipando elementos religiosos de seus filmes posteriores) apresentam seu controle da atmosfera e sua habilidade de extrair excelentes performances de atores relativamente desconhecidos. Porém foi no pós-guerra, após a impressionantemente séria peça de propaganda A Quadrilha de Hitler/The Hitler Gang, que seu talento peculiar floresceu de verdade.
Hiena dos Mares/Two Years Before the Mast foi uma narrativa razoavelmente autêntica das condições de trabalho intoleráveis dos homens do mar no século XIX, A Noite Tem Mil Olhos/Night Has a Thousand Eyes um criativo drama psicológico sobre um vidente. Porém foi O Relógio Verde/The Big Clock>2 (posteriormente lançado como No Way Out) que estabeleceu pela primeira vez Farrow como um estilista fascinante no filão do cinema noir: o magnata assassino e enlouquecido pelo poder de Charles Laughton é memoravelmente perverso, enquanto o arranha-céu labiríntico que é seu domínio infernal serve como soturno símbolo expressionista da fatalidade. Ainda mais persuasivo enquanto retrato de corrupção foi O Aliado de Satanás/Alias Nick Beal>3, uma atualização da história de Fausto que mistura intriga política e alusões sobrenaturais sob engenhosa moldura noir; enquanto traça a descida de um político honesto à corrupção após vender sua alma a um jornalista local. O gangster diabólico e janota de Milland nunca é apresentado adentrando uma cena; ele simples e repentinamente está lá, descoberto pela câmera de pé entre as sombras. A fascinação do diretor com o mal, a corrupção, a redenção e a culpa talvez derivem de seu devoto catolicismo (para além de romances, também escreveu livros sobre Thomas More e o papado); de forma pouco usual, muitos de seus filmes incluem cenas envolvendo rezas.
O talento de Farrow tem sido tristemente encoberto pelo fato dele ter sido o marido de Maureen O'Sullivan e pai de Mia Farrow. Seus filmes revelam uma sombria engenhosidade, uma habilidade para criar atmosferas sinistras e uma facilidade para experimentar em diversos gêneros frequentemente ausente em diretores mais conhecidos. Sua criatividade merece uma reavaliação.
Cronologia
Farrow, como Siodmak, encontrava-se mais à vontade com o noir, ainda que sua versatilidade permitiu-o trabalhar com efetividade em variados gêneros. Pode talvez ser comparado com outras figuras menores e subestimadas como John Brahm, Joseph H.Lewis, Jacques Torneur e Ida Lupino.
Destaques
1. Cinco Devem Viver, EUA, 1939 c/Lucille Ball, C. Aubrey Smith, Joseph Calleia
2. O Relógio Verde, EUA, 1948 c/Charles Laughton, Ray Milland, Maureen O'Sullivan
3. O Aliado de Satanás, EUA, 1949 c/Ray Milland, Thomas Mitchell, Audrey Totter
Fonte: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp.96-7.
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