Filme do Dia: As Mil e Uma Noites (1974), Pier Paolo Pasolini


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As Mil e Uma Noites (Il Fiore Delle Mille e una Notte, Itália/França, 1974). Direção: Pier Paolo Pasolini. Rot. Original: Pier Paolo Pasolini & Dacia Maraini. Fotografia: Guiseppe Ruzzolini. Música: Ennio Morricone. Montagem: Nino Baragli & Tonino Casini Morigi. Dir. de arte: Dante Feretti. Figurinos: Danilo Donati. Com: Ninetto Davoli, Franco Citti, Tessa Bouché, Margaret Clementi, Ines Pellegrini, Franco Merli, Christian Aligni, Francesco Paolo Governale, Salvatore Sapienza, Abadit Ghidei, Alberto Argentino.
Fecho da “trilogia da vida” que segue Decameron (1970) e Os Contos de Canterbury (1972). Assim como os antecessores faz uso de narrativas clássicas e de domínio popular. Mais ainda que nos anteriores, faz-se presente a utilização de narrativas dentro de narrativas e contribui para um resultado interessante menos por alguns de seus momentos isolados que o todo, graças a reunião de elementos como humor, erotismo, interpretações semi-amadoras e soberbas locações em cidades históricas de países como o Irã e o Nepal. Mesmo com a presença dos melhores técnicos do cinema italiano de então, o cineasta nunca se deixa levar pela ditadura do preciosismo visual (como muitas vezes aconteceu com seu conterrâneo Bertolucci). Aqui, importa menos a beleza em si das imagens, que o tom poético, que procura reverenciar um mundo pré-capitalista em que a narrativa e o sonho possuem uma força descomunal (enquanto o adágio que pontua Decameron faz menção que “para que viver a vida se se pode sonha-la?”, aqui afirma-se que se deve orientar por diversos sonhos e não apenas por um único). Entre as narrativas duas se destacam:  a paixão de Aziz (Davoli) por uma mulher, faz com que se esqueça da noiva Aziza (Bouché), no dia do casamento. Aziza, que morre apaixonada por ele, acabará lhe salvando a vida em outras ocasiões; o jovem Nur Er Din (Merli), é o escolhido pela escrava Zumurrud (Pellegrini), em detrimento de todos os homens respeitáveis e endinheirados da comunidade. Porém, uma série de desventuras separará o casal, após Nur Er Din, esquecer o conselho de Zumurrud para não vender os trabalhos dela na feira para um homem de olhos azuis, até o momento final, em que Zumurrud, tida como homem e entronada como monarca, tem Nur Er Din de volta a seus braços, não sem antes fazer menção de sodomizá-lo. Seu tom leve, auxiliado por movimentos de câmera tão pouco solenes quanto as personagens - como a vivida por Davoli - e  suas locações repletas de luz e cores contrasta com o último filme do realizador, o sombrio Saló – Os 120 Dias de Sodoma. O demônio vivido por Citti evoca outra encarnação igualmente anárquica vivida por Silvia Pinal em Simão do Deserto, de Buñuel. Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes.  Les Productions Artistes Associés/PEA. 131 minutos.

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