Filme do Dia: Red Angel (1966), Yasuzô Masumura
Red
Angel (Akai Tenshi, Japão, 1966).
Direção: Yasuzo Masumura. Rot. Adaptado: Ryozo Kasahara, baseado no romance de
Yoriyoshi Arima. Fotografia: Setsuo Kobayashi. Música: Sei Ikeno. Montagem:
Tatsuji Nakashizu. Dir. de arte: Shigeo Mano & Tomoo Shimogawara. Com:
Ayako Wakao, Shinsuke Ashida, Yuzuke Kawazu, Ranko Akagi, Jotaro Senba,
Daihachi Kita, Jun Osanai, Kenichi Tani
A enfermeira Sakura Nishi (Wakao) serve nos hospitais que
atendem aos feridos da Guerra Sino-Japonesa. Em seu primeiro emprego ela é
estuprada por um dos homens. Porém, Nishi reencontra o mesmo homem moribundo em
outro hospital que trabalha. Procurando não demonstrar ressentimento ela faz de tudo para salvá-lo, sem sucesso.
Passa então a ficar cada vez mais próxima do Dr. Okaba (Oshida), viciado em
morfina, que não possui mais o menor apetite sexual. Ao mesmo tempo cede ao
desespero de um jovem soldado, Orihara (Kawazu). O envolvimento com ela e a
confusão mental dele, com autoestima sofrível e sem perspectivas de futuro,
fazem com que ele se suicide. Após conseguir curar Okaba do vício e fazê-lo
retornar a uma vida sexual ativa, Nishi testemunha a morte do terceiro homem
por quem se interessou em um ataque surpresa das forças inimigas em meio a uma
epidemia de cólera.
Esse filme reforça a ideia de que nenhum outro país abordava
na época a sexualidade de um modo tão ousado e direto em suas produções como o
Japão. Detendo-se em aspectos diversos do Japão contemporâneo na maior parte de
seus filmes anteriores, aqui o realizador envereda por um passado recente,
porém apresentando-o através de uma ótica que mescla o tradicional tema do
auto-sacrifício feminino, bastante devedor tanto do melodrama quanto
especificamente da cultura japonesa com o moderno. Nesse último sentido se
encontra o modo extremamente sensual, honesto e ao mesmo tempo erótico com que
o filme descreve a peculiar situação da condição feminina em tempos de guerra.
A protagonista, que possui uma forte atração por tipos masculinos bastante
distintos do perfil romântico (um estuprador, um deficiente físico e um
impotente), chega a singelamente aceder a masturbar o jovem que teve os braços
amputados. Se o filme evidentemente apenas sugere a ação, não se escusa em
apresentar outro dos pedidos do jovem, vivido aparentemente por um ator
realmente amputado, ao acolher seu pé por entre suas vestes, já que esse é um
dos meios que ele ainda consegue encontrar mais prazer. A auto anulação da
protagonista, sempre servindo como suporte para que seu contraparte masculino
volte a estabilidade, seja a vida, a auto-estima ou a virilidade, culmina no
momento em que se acredita diretamente responsável pela morte de todos os três
homens que amou. Talvez a característica que una a prolífica filmografia de
Masumura seja menos temática ou mesmo estilística, o que o fez abordar temas e
gêneros os mais diversos (gangster, juventude, consumismo, obsessão) que certa atração por questões polêmicas aos quais
aborda de modo grandemente distanciado e com forte presença do elemento
erótico. Aqui, ao contrário de outros filmes seus anteriores, a história é
literalmente narrada (ocasionalmente existe a presença da voz over da
protagonista) pela perspectiva de uma mulher, algo que voltará a fazer uso,
ainda que de modo menos imperativo em seu posterior Blind Beast. A psicanálise, que forjará muito do estofo do
recém-criado filme do realizador, aqui aparece de forma bastante óbvia no
comentário insistente da protagonista da semelhança do Dr. Okaba, sua mais
longa paixão, com o pai. Os planos do amor de Nishi com o soldado amputado
provavelmente foram influenciadas por semelhantes cenas nas quais os corpos
acabam formando composições quase abstratas em Hiroxima Meu Amor. Destaque para os belos contrastes da fotografia
em preto&branco. Daiei Stuidos. 95 minutos.
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