Filme do Dia: A Época da Inocência (1993), Martin Scorsese
A Época da Inocência (The Age of Innocence, EUA, 1993) Direção: Martin Scorsese. Rot.Adaptado: Jay Cocks&Martin Scorsese, baseado no romance de Edith Wharton. Fotografia: Michael Ballhaus. Música: Elmer Bernstein. Montagem: Thelma Schoonmaker. Com: Daniel Day-Lewis, Michelle Pffeifer, Winona Ryder, Richard E.Grant, Geraldine Chaplin, Mirian Margolyes, Robert Sean Leonard.
Aristocrata nova-iorquino do final do século XIX, Newland Archer (Lewis), encontra-se em vias de concretizar o casamento com a jovem e pura May Welland (Rider), quando chega da Europa uma prima de Welland, a condessa Ellen Olenska (Pfeffeir), por quem Archer se sentirá fortemente atraído. Ao contrário de todas as mulheres de seu círculo social, Olenska foge aos padrões da provinciana Nova York de então, morando sozinha, procurando se divorciar do marido e com um sofisticado gosto cultural. Archer procura, de todos os meios, fazer com que Olenska não se sinta hostilizada. Após um mal sucedido jantar oferecido por ela a quem ninguém compareceu, ele consegue que a tradicional família Beaufort a chame para uma recepção. Porém, sua situação torna-se cada vez mais complexa. Incapaz de interromper o processo de casamento com May, após surpreender uma visita de um amigo de Olenska a casa de campo onde se encontra apressa, pelo contrário, o casamento. Atormentado pelo dilema entre a rejeição da sociedade em que convive e o amor por Olenska, conforma-se ao casamento e a constituição de uma família. Por duas vezes tenta contar tudo a esposa, mas é interrompido pela própria. Após a morte de May, fica sabendo, através do filho (Leonard), que a esposa sempre soubera de sua paixão por Olenska. O filho leva-o ao apartamento onde a condessa mora em Paris, mas ele prefere não subir, pedindo para que o filho apenas diga que ele é um sujeito antiquado.
Com fluidez e elegância visual, Scorsese nos brinda com um retrato da elite nova-iorquina do final do século XIX. O filme é marcado sobretudo pela ritmo ponderado (tanto dos personagens como do desenvolvimento da narrativa, fugindo de qualquer efeito de apelo fácil) e por explorar os mais sutis gestos da relação entre Archer e Olenska (sua relação culposa não poderia deixar de remeter a Anna Karenina) que pode evocar tanto Barry Lyndon (1975) de Kubrick quanto Effi Briest (1974) de Fassbinder. Porém a partir do momento que Archer escolhe seguir como um morto-vivo, deixando de lado todas suas reais aspirações e covarde e humanamente passa a se conformar com a sua situação, o espectador também pode perder qualquer sentido de vitalidade ou empatia com o próprio filme, e ainda pior, sofrer com o prolongamento da dor de nosso atormentado protagonista, que faz com que a empreitada de Scorsese de realizar seu Leopardo não se efetive plenamente. Até mesmo porque, em comparação com o clássico de Visconti, o filme é extremamente voyeurístico e didaticamente maçante na apresentação dos costumes da época, sofrendo uma espécie de sufocamento da chamada ditadura do preciosismo visual, da direção de arte, que lembra o efeito semelhante ocorrido com 1900 (1976), de Bertolucci. Outros recursos de gosto duvidoso são o de velhos clichês como o da identificação do protagonista com a peça que está sendo exibida no teatro (já presente desde Griffith, para se referir apenas ao cinema) ou as leituras das cartas com as atrizes falando diretamente para a câmera. De qualquer forma, bem superior as inúmeras produções do gênero que Hollywood produziu na década de 90. Bela trilha de Bernstein. Columbia. 139 min.
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