Filme do Dia: O Pequeno Grande Homem (1970), Arthur Penn


Resultado de imagem para o pequeno grande homem cartaz

Pequeno Grande Homem (Little Big Man, EUA, 1970). Direção: Arthur Penn. Rot. Adaptado: Calder Willinghan, baseado em romance de Thomas Berger. Fotografia: Harry Stradling Jr. Música: John Paul Hammond. Montagem: Dede Allen. Dir. de arte: Dean Tavoularis. Dir. de arte: Angelo P. Grahan. Cenografia: George R. Nelson. Figurinos: Dorothy Jeankins. Com: Dustin Hoffman, Faye Dunaway, Chief Dan George, Martin Balsam, Richard Mulligan, Jeff Corey, Aimée Eccles, Kelly Jean Peters, Ray Dimas, Thayer David, Carole Androsky.
Jack Crabb (Dimas) quando criança presencia o massacre da família, mas é poupado, assim como a irmã Caroline (Androsky), e se torna o neto predileto de um líder da nação indígena que o acolhe, Old Lodge Skins (George). Com um massacre sendo perpetrado pelos brancos, Crabb se rende, apresentando sua tez branca. Passa então a fazer parte da família do pastor Pendrake (David), despertando a volúpia de sua esposa, Louise (Dunaway). É expulso pelo pastor ao ser flagrado fornicando e se torna ajudante do curandeiro charlatão Merriweather (Balsam), quando é redescoberto por sua irmã, que o leva para morar com ela. Ela o influencia com seu amor pelas armas, e Jack vive sua fase de pistoleiro, que finda subitamente quando testemunha um assassinato praticado pelo célebre Buffalo Bill (Corey). Desgostosa com a mudança de hábitos do irmão, Caroline parte e Jack se une a sueca Olga (Peters), com quem fracassa nos negócios, perde tudo e é recomendado pelo célebre General Custer a partir rumo ao Oeste. Eles partem, mas Olga é rapidamente capturada pelos índios. Jack viaja por vários estados atrás da esposa e se engaja novamente com a tribo indígena que o havia adotado. Um novo conflito com os brancos faz com que perca a família que havia criado na aldeia. Passa a vagar errante e solitário e quando se encontra disposto a se matar, ouve a melodia da Cavalaria e volta a fazer parte da tropa, chegando inclusive a  recomendar a um completamente insano e megalomaníaco Custer a batalha que o matará. Mais uma vez ao lado dos índios, Crabb é convidado por seu velho avô de criação, Old Lodge Skins, há já muitos anos cego, a subir com ele a montanha, onde esse acredita que a morte o chamará. Porém, nada acontece além da chuva.
Contado a partir da narrativa que um Crab centenário efetua para um pesquisador, esse filme não apenas revisita de modo galhofeiro a história americana, como os próprios códigos aos quais essa foi habitualmente submetida em um de seus gêneros mais marcantes, o faroeste, a partir da perspectiva de uma contra-cultura em seu auge.  Assim, Penn revisita boa parte dos clichês associados ao gênero com um humor por vezes incisivo, porém sem perder certo tom tributário ao gênero que satiriza, dimensão que se perde no escracho mais explicitamente debochado de um Banzé no Oeste, realizado pouco após por Mel Brooks. Talvez um de seus trunfos seja renegar o politicamente correto que surgido na época, se tornaria enfático em pomposas e anêmicas produções oportunistas ao estilo de Dança com Lobos, de duas décadas após, sem deixar de ao mesmo tempo observar o que há de patético na condição humana, seja essa encarnada no explicitamente ridículo Custer ou na crença ingênua do chefe indígena, retratado de modo bem mais simpático. E o quanto todos os personagens acabam sendo presas do próprio papel que deles a sociedade exige. Crabb, mais que qualquer um, é a própria encarnação oportunista, algo evocativa de Macunaíma, da volubilidade humana diante do contexto concreto e tal como Zelig (1983), de Allen, reinventa-se a todo momento, a partir das influências mais instantâneas. Seu caráter e o tom que o seu comentário pontua o filme remetem a tradição picaresca de um Tom Jones, de Fielding, ainda que a narrativa não seja tão conscientemente intrusiva como no romance, já que efetivada pelo próprio protagonista. Dito isso, o filme talvez se ressinta cada vez mais com o passar do tempo de sua excessiva metragem, em parte por provavelmente ter sido pouco sintético na sua adaptação do romance em termos de situações e quantidade de personagens o que, de todo modo, não deixa de ser bastante pertinente com as inúmeras reviravoltas de tão longa jornada –  mesmo se detendo somente na juventude de seu herói. Há uma referência jocosa a interação entre a espontaneidade de seu narrador e a empostação intelectual de seu entrevistado que provavelmente não passou despercebida de Truffaut, a quem Penn havia encaminhado originalmente o roteiro de Bonnie & Clyde, que fez uso semelhante e bem mais extenso de similar relação em seu Uma Garota tão Bonita como Eu realizado pouco após.  O momento do reencontro  e tentativa de sedução de Crabb pela Sra. Pendrake faz uma evidente alusão A Primeira Noite de um Homem (1967), filme que tornaria célebre o próprio Hoffman.O modo genérico e abstrato com que Penn emoldura os conflitos do passado americano certamente também pretendem se fazer valer para a Guerra do Vietnã então vigente. National Film Registry em 2014. Cinema Center Films-Stockbridge HIller Prod. para National General Pictures. 139 minutos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar