Filme do Dia: Feras Que Foram Homens (1950), Jean Negulesco
Feras Que Foram Homens (Three
Came Home, EUA, 1950). Direção: Jean Negulesco. Rot. Adaptado: Nunnaly
Johnson, baseado no livro de Agnes Newton Keith. Fotografia: Milton R. Krasner
& William H. Daniels. Música: Hugo Friedhofer. Montagem: Dorothy Spencer.
Dir. de arte: Leland Fuller & Lyle R. Wheeler. Cenografia: Thomas Little & Fred
J. Rode. Com: Claudette Colbert, Patrick Knowles, Florence Desmond, Sessue
Hayakawa, Sylvia Andrew, Mark Keuning, Phyllis Morris, Howard Chuman.
1941. Agnes Keith (Colbert) vive com o filho George
(Keuning) e o marido Harry (Knowles) em Borneu, Indonésia, no momento da
ocupação japonesa da ilha. Separada do marido, ela é levada com o filho para
outro campo de prisioneiros. A situação estafante de trabalhos forçados se
agrega a tortura física e psicológica depois que ela afirma que sofrera
violência de um soldado japonês durante certa noite, porém não tem como
identificar o mesmo. O comandante do campo de prisioneiros, Coronel Suga
(Hayakawa) nutre uma admiração por ela e possui uma postura mais humanista. Já
o tenente Nekata (Chuman) chega a torturar Agnes para que ou ela identifique
quem a atacou ou assine um documento afirmando que não foi vítima de nenhuma
violência por parte de um soldado japonês. Finalmente em 1945, com a rendição
japonesa a família volta a se ver reunida, mesmo que sob as precárias condições
físicas provocadas pelo longo período no campo de prisioneiros.
O prólogo bastante semelhante em destacar o mundo
anglo-saxão dos nativos, algo ainda mais ressaltado pelo fato da protagonista
ser a única norte-americana vivendo em Bornéu parece feito sob encomenda para
Negulesco, porém logo o filme tomará um rumo bastante distinto das leves e
coloridas comédias escapistas ambientadas na Europa ou Índia, cenários ideais
para uma demonstração da superioridade moral e econômica norte-americana no
pós-guerra. Aqui, tal dimensão é mais nuançada. Ainda que a personagem vivida
por Colbert seja sim um exemplo de ética e moral a toda prova, quase que
identificando tal dimensão ao fato de
ser a única norte-americana em todo o cenário em questão – todos os prisioneiros,
inclusive o marido são britânicos – não existe uma relação maniqueísta ou
homogênea com relação aos japoneses. O Coronel Suga vivido por Hayakawa talvez
por ter tido uma educação superior nos Estados Unidos, chega a apresentar o
outro lado do drama – toda sua família foi massacrada. Numa situação de
evidente suspense, logo após Suga ter buscado cumplicidade em Agnes, a única
que ele acredita ser humana o suficiente para se condoer de sua situação, o que
demonstra mais uma vez a superioridade ética norte-americana, esse convida três
crianças, entre elas o filho de Agnes para uma refeição reforçada em sua casa.
Pode-se imaginar que em algum acesso de loucura ele poderia revidar seu sofrimento
nas crianças que tem diante de si, mas apenas chora as vendo se deliciar com os
alimentos que há muito tempo não veem diante dos olhos. Ainda que evidentemente
tenha sido produzido com a dimensão de provocar lágrimas, curiosamente não
chega a apelar tanto em termos de auto-vitimização por parte da heroína vivida
com a dignidade e relativa sobriedade por Colbert. Mas, para tudo há limites, e
o filme não se furta em apelar para que o último homem que surja na estrada
quando os aliados já tomaram conta da situação, após dois “alarmes falsos”,
seja o marido de Agnes. Colbert, que sofreu um acidente durante as filmagens,
teve que declinar do convite para vivenciar a protagonista de A Malvada. Uma nova adaptação do livro,
com bem menos brilho e maior manipulação emocional foi realizada em 1997 como Um Canto de Esperança. O título
brasileiro é não apenas sofrível como uma solução bastante típica da época. 20th
Century-Fox Film Corp. 106 minutos.
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