Filme do Dia: Cléo das 5 às 7 (1962), Agnès Varda
Cléo
das 5 às 7 (Cléo de 5 à 7,
França/Itália, 1962). Direção e Rot. Original: Agnès Varda. Fotografia: Paul
Bonis, Alain Levent & Jean Rabier.
Música: Michel Legrand. Montagem: Pascal Laverièrre & Janine Verneau. Dir.
de arte: Jean-François Adam. Dir. de arte: Bernard Evein. Figurinos:Alyette
Samazueilh. Com: Corinne Marchand, Antoine Bourseiller, Dominique Davray,
Dorothée Blank, Michel Legrand, José
Luis de Villalonga, Loye Payen, Serge Korber, Raymond Cauchetier.
Enquanto aguarda pelo resultado de um exame
médico que poderá dar uma guinada em sua vida, corroborando o pessimismo da
cartomante Cléo (Marchand) passa essa hora e meia que a separa do resultado,
saindo para compras com a criada Angèle (Davray), encontrando-se com a dupla
que compõe para ela, Bob (Legrand) e Plumtif (Korber), encontrando a amiga
Dorothée (Davray) que trabalha posando nua para artistas e seu namorado Raoul
(Cauchetier) ou encontrando por acaso um homem que parece ter uma possibilidade
de morte iminente quase tão radical quanto o dela, Antoine (Bourseiller), que
decide ir ao hospital com ela.
Embora não exatamente uma membra integrante da
Nouvelle Vague, e seu “clube do bolinha”, Varda, com esse seu primeiro longa,
talvez o mais famoso igualmente, termina por se aproximar sob vários aspectos
da produção dos “jovens turcos”: o tom ainda mais etnográfico com que acompanha
sua protagonista, em parte reminiscente da etnografia de Jean Rouch que também
serviu de base ao filme de estreia de Godard (Acossado); uma apresentação, aqui ainda mais intensa, da charmosa
vivacidade de Paris; a deambulação pelas ruas dos personagens (acompanhada,
inevitavelmente, do olhar dos curiosos, novamente evocativa do primeiro longa
de Godard); a bela fotografia em p&b, que também pune pelo branco, mesmo
que não fazendo uso tão vazado da contra-luz – destaque para os momentos nos
quais se ressalta praticamente uma divisão de quadro menos por efeito ótico que
por ilusão criada na composição da própria cena. Porém, a influência de Acossado também surge, incorporando cenas do próprio curta da
realizadora estrelado por Godard/Anna Karina em montagem diversa da original.
Dividido em “capítulos” cuja indicação surge sobre a imagem, demarcando de
forma aproximada – alguns tempos demasiado mortos são excluídos – a breve
odisseia temporal de sua protagonista que, ao contrário do título, vai até as
6h30, o filme talvez se renda a um aceno de felicidade mais marcado que os
aparentemente mais escapistas filmes do marido da realizadora, Jacques Demy. De
fato, o encontro ao final com a figura de Antoine, parece sinalizar, antes
mesmo do veredito final do médico, para uma compreensão de que a angústia está
associada a ausência da vivência de um verdadeiro amor. Algo que, interpretado
sobretudo particularmente a partir da condição feminina de sua protagonista,
vivida com graça por Marchand, que jamais teria outro destaque em sua carreira,
pode soar demasiado dependente da presença masculina para sua segurança.
Algumas poucas referências cinematográficas observadas em seu curso incluem os
cartazes de filmes como Entre Deus e o
Pecado (1960), de Richard Brooks e Um Cão Andaluz
(1928), de Buñuel respectivamente. Se experiências semelhantes
de compressão temporal já haviam rendido narrativas com maior proximidade com
eventos espetaculares tais como Matar ou Morrer (1952) ou Punhos de Campeão (1949),
de Fred Zinnemann e Robert Wise respectivamente também renderia posteriormente
filmes com bem menor ênfase em golpes dramáticos como Meu Jantar com André (1981), de Louis Malle. Ciné Tamaris/Rome
Paris Films. 90 minutos.
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