Filme do Dia: Seu Tipo de Mulher (1951), John Farrow

 


Seu Tipo de Mulher (His Kind of Woman, EUA, 1951). Direção: John Farrow. Rot. Original: Frank Fenton & Jack Leonard, a partir do argumento de Gerald Drayson Adams. Fotografia: Harry J. Wild. Montagem: Frederick Knutdson & Eda Warren. Dir. de arte: J. McMillan Johnson & Albert S. D’Agostino. Cenografia: Ross Dowd & Darrell Silvera. Com: Robert Mitchum, Jane Russell, Vincent Price, Tim Holt, Charles McGraw, Marjorie Reynolds, Raymond Burr, Leslie Banning, Jim Backus, Philip Van Zandt, Dorothy Abbott, Mamie Van Doren.

Dan Milner (Mitchum) parte para um pequeno balneário isolado, Morros Lodge,  no México, com 50 mil dólares que lhe foram cedidos e uma missão que não sabe exatamente  qual. Ele divide o avião com a sensual cantora Lenore Brent (Russell). No balneário existe todos os tipos de farsantes e talvez um dos menos obscuros seja justamente o ator hollywoodiano Mark Cardigan (Price), que se torna um aliado de Milner contra o forte grupo do gangster Nick Ferraro (Burr).

Farrow alopra em sua sátira ao noir que, ao mesmo tempo, engenhosamente não sai completamente dos trilhos e convenções desse, apenas os extrapolando ao ponto da caricatura. A determinado momento nem o mocinho de Mitchum, ator seminal ao ciclo, nem os seus opositores, sabem exatamente o que fazem, em um comentário que parece fazer coro ao do potencial espectador. Produzido com poucos recursos, com destaque para sua cenografia visivelmente fake, o filme praticamente se detém do início ao final às intrigas um tanto obscuras que rondam os misteriosos personagens hospedados no balneário, ganhando em termos de espirituosidade de seus diálogos e situações, assim como sua infinita lista de coadjuvantes de rostos familiares e nomes nem tanto, e poupando em termos de orçamento. Tendo sido produzido pelo mesmo estúdio, seu estilo visual pode ser distantemente evocativo do filme mais célebre produzido uma década antes, Cidadão Kane, em termos de lidar com espaços amplos de profundidade, porém essa quase nunca se encontra focada, ao contrário do filme de Welles. Russell vivencia uma pseudo femme fatale que além de não ser má (faz mais pose de) tampouco é loura. Se os primeiros planos de diálogos entre ela e Milner parecem um corpo estranho ao filme, dado o seu excesso, pouco depois Mitchum terá o privilégio de novamente protagonizar outros com o ladino gerente do hotel. Desnecessário afirmar que a satisfação sádica com as torturas infligidas a Milner beiram o erótico. Assim como Price rouba a cena com seu típico timbre de voz e afetação, sem descurar das citações de Shakespeare (teria inspirado As 7 Máscaras da Morte, de outro momento na carreira do ator, infelizmente já aprisionado nos limites do gênero dos filmes de terror) numa brincadeira com os limites da própria representação, em que um ator possui mais fibra e autenticidade que praticamente todos que o rodeiam. A câmera, em mais uma evocação de Welles, ocasionalmente tende a flagrar os personagens de baixo para cima. E, astro do capa-e-espada, provoca desde momentos de humor sutil, como quando afirma após ser baleado de raspão no ombro que foi “ferido de verdade” até o aberto histrionismo da cena que comanda um grupo de homens excessivo para as dimensões de um barco que afunda logo ao partir. Produzido por Howard Hughes, que também colaborou de forma  não creditada no roteiro, assim como Richard Fleischer,  que aparentemente refez boa parte do filme. RKO Radio Pictures. 120 minutos.

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