The Film Handbook#197: Charles Laughton

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Charles Laughton
Nascimento: 01/07/1899, Scarborough, Inglaterra, Reino Unido
Morte: 15/12/1962, Hollywood, Califórnia, EUA

Famoso como ator de teatro e cinema, Charles Laughton dirigiu somente um filme, O Mensageiro do Diabo/Night of the Hunter>1. Penosamente para Laughton, foi um fracasso de público e crítica à época de seu lançamento; com o passar dos anos, no entanto, tem sido considerado como um dos melhores, além de um dos mais excêntricos, filmes que jamais emergiu de Hollywood.

O enorme talento de Laughton, aparência única (que ele próprio se referia com asco) e frequente estilo extravagante asseguraram seu sucesso inicial no teatro e no cinema: suas mais impressionantes interpretações para o cinema incluem seus trabalhos em A Casa Sinistra/The Old Dark House, de Whale, Os Amores de Henrique VIII e Rembrandt de Korda, seu Bligh em O Grande Motim/Mutiny on the Bounty, Quasímodo em O Corcunda de Notre-Dame/The Hunchback of Notre Dame de Dieterle, Esta Terra é Minha/This Land is Mine de Renoir, Dúvida/Suspect de Siodmak e Tempestade Sobre Washington/Advise & Consent de Preminger. Nos anos 40 colaboraria com Brecht no teatro em Galileo, porém O Mensageiro do Diabo, no qual não aparece como ator, permanece talvez sua façanha mais duradoura e notável. Magnificamente filmado por Stanley Cortez, o filme é um conto de fadas de pesadelo extraído, via roteiro de James Agee, de um romance bizarro mas impressionante de David Grubb. A história em si mesma é bastante simples: duas crianças vivem felizes com sua mãe até um pregador chegar para cortejá-la, na esperança de encontrar o dinheiro que o pai morto roubou e escondeu; incapaz de descobrir o paradeiro pela mulher, assassina-a. Quando as crianças, temendo por suas vidas, fogem descendo o rio, ele as segue, e uma batalha final por suas almas é travada quando ele é forçado a confrontar uma velha mulher - uma verdadeira cristã - que leva as crianças a viverem com sua família de órfãos abandonados.

A parábola do bem e do mal de Laughton deriva seu poder de um tom decepcionantemente ingênuo; em meio a uma abundância de deliberadamente arcaicos truques visuais reminiscentes tanto do Expressionismo Alemão quanto dos melodramas pastorais de Griffith (reforçados pela presença no elenco de Lilian Gish como a protetora das crianças), cria uma paisagem onírica de simplicidade épica e impressionante beleza. A mãe embalsamada no leito de um rio, a garganta cortada e seus cabelos flutuando como folhas na água, o menino e a garota fugindo de seu perseguidor mortal em um pequeno barco a remo, observados por sapos, coelhos e raposas, filmados em gigantescos primeiros planos, evocativos das pinturas de Douanier Rousseau. O artifício, na verdade, é evidente do início ao final: as interpretações de Robert Mitchum (enquanto o pastor empunhador de facas Harry Powell, seus dedos tatuados com as palavras AMOR e ÓDIO), Shelley Winters (a mãe culpada) e Lilian Gish todas evidenciam uma intensidade estilizada que transcendem o naturalismo. Se o filme pode ser visto parcialmente como uma alegoria bíblica (Mitchum enquanto serpente, Winters enquanto Eva; as experiências das crianças podem ser comparadas com a do infante Moisés), funcionam, mesmo assim, mais efetivamente enquanto uma visão infantil determinadamente poética das dificuldades e incertezas morais que varreram a América rural durante a Depressão; poucos filmes combinaram sua estranha mescla de beleza e horror, medo e desejo, fantasia de conto de fadas e realidade psicológica. E talvez seja o mais notável retrato da infância (uma combinação de terror e inocência e intrepidez corajosa) no cinema; e somente se pode lamentar que o projeto seguinte de Laughton, The Naked and the Dead - a ser filmado novamente por Cortez - nunca tenha se concretizado.

Cronologia
Laughton se inspirou em Griffith e no Expressionismo Alemão. O melhor exemplo de uma excursão única de um ator pela direção, talvez seja interessante compará-lo com Der Verlorene e A Face Oculta/One Eyed Jacks, os únicos filmes realizados por seus igualmente extravagantes e originais intérpretes, respectivamente, Peter Lorre e Marlon Brando

Leituras Futuras
Charles Laughton and I (Nova York, 1968), pela esposa de Laughton, Elsa Lanchester; Charles Laughton: A Difficult Actor (Londres, 1987), de Simon Callow.

Destaques
1. O Mensageiro do Diabo, EUA, 1955, c/Robert Mitchum, Shelley Winters, Lilian Gish

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 161-2.

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