Filme do Dia: Ângela (1951), Abílio Pereira de Almeida & Tom Payne

 


Ângela (Brasil, 1951). Direção: Abílio Pereira de Almeida & Tom Payne. Rot. Adaptado: Alberto Cavalcanti, Nery Dutra & Aníbal Machado baseado em conto de Hoffman. Fotografia: H.E. Fowle. Música: Francisco Mignone. Montagem: Ladislau Babuska, Edith Hafenrichter, Oswald Hafenrichter & Álvaro de Lima Novaes. Cenografia: Pierino Massenzi. Com: Eliane Lage, Alberto Ruschel, Mário Sérgio, Inesita Barroso, Ruth de Souza, Abílio Pereira de Almeida, Maria Clara Machado, Margot Bittencourt.

Vítima da decadência econômica proporcionada pela jogatina do filho Gervásio (Almeida), família tem que abandonar a casa para o ganhador, o sortudo Dinarte (Ruschel). Porém, no momento em que todos já se encontram empenhados na mudança, Dinarte decide que Ângela e sua família podem permanecer na casa. Ângela passa a se sentir atraída pelo rapaz, ainda que contra os preceitos de sua avó Leocádia (Machado), que prefere o amigo de infância de Ângela, Jango (Mário Sérgio). Ângela acaba se casando e fazendo com que Dinarte abandone o jogo. Porém, a insegurança de Dinarte com relação aos sentimentos de Ângela por Jango levam-no de volta ao jogo, após um período róseo no casamento em que tudo era felicidade e diversão. Grávida, Ângela acaba se vendo novamente em vias de perder tudo por conta de uma onda de azar nos jogos por conta de Dinarte, tornando-se vítima do inescrupoloso casal de agiotas composto por Vanjú (Barroso) e seu parceiro. Quando até mesmo as economias da filha pequena são surrupiadas por Dinarte, Ângela tenta o suicídio. Em seus delírios clama por Jango, mas quando acorda corre para os braços de Dinarte.

Melodrama canônico com todos seus excessos e de resultados pífios. São fundamentais para seu fracasso desde o elenco (com destaque para a constrangedora atuação sem convicção de Lage, cópia sofrível de Joan Fontaine), roteiro e diálogos canhestros até seu sentido de dramaticidade, anacrônico já para os padrões contemporâneos de Hollywood, evidente modelo. Ainda que com atuação acima da média do elenco, Inesita Barroso, vivendo uma cantadora de modinhas folclóricas, encarna uma vilã sem meias tintas, atrelada a seu único desejo: riqueza. O oráculo da narrativa é a personagem da empregada da cantora, Divina, vivida por Ruth de Souza. Enquanto expressão da mulher vitimizada e sacrificada pelo marido, a protagonista-título (encarnada por uma Lage que não consegue sequer a flexão dramática correta para suas falas) torna-se um evidente caso de masoquismo edipiano, repetindo o mesmo sofrimento vivenciado pela mãe ao escolher seguir os passos da paixão voluptosa mais que do casamento comportado predicado pela avó, numa evidente punição ao desejo feminino. Tampouco o final, que acena para uma possibilidade de reconstituição da família, com Dinarte prometendo se afastar novamente do jogo parece convincente enquanto “final feliz”, já que tanto pode ser mais uma falsa promessa – e a própria estrutura psíquica de Ângela parece apontar mais para essa trilha da falsa esperança - quanto se encontrarem arruinados ecnômica e moralmente – Dinarte acabou voltando, pouco antes,  a ser amante de Vanjú, na sua tentativa de quitar suas dívidas. Estúdios Vera Cruz. 95 minutos.

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