Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#83: Imagem Latente



 Imagem Latente. (Chile, 1987). O primeiro longa a lidar criticamente com a ditadura de Augusto Pinochet a ser realizado abertamente no Chile, Imagem Latente, dirigido por Pablo Perelman, foi proibido de ser exibido publicamente tanto pela Censura quanto pela corte de apelações. No entanto, sua reputação no estrangeiro cresceu, através de exibições em festivais de cinema estrangeiros, começando por Havana, em dezembro de 1987. Em 1990, após um governo civil ser eleito, depois de 17 anos de ditadura militar, as restrições da censura de algum modo relaxadas, Imagem Latente foi lançado, juntamente com seis outros longas chilenos - um ano marcante certamente.

          Pedro (Bastián Bodenhöfer) é um fotógrafo profissional que trabalha no mercado publicitário, e cujo irmão desapareceu em 1975, aproximadamente dez anos antes da ação principal de Imagem Latente. Pedro e sua esposa, que é mais politicamente engajada, e que se encontra convencida que seu sogro se encontra "desaparecido", distanciam-se. Ele inicia uma busca, e apesar de como, em Missing (Desaparecido - Um Grande Mistério] (1982), de Constantin Costa-Gavras, o protagonista ser inicialmente conservador e cético, torna-se atormentado pela culpa e obsessão em encontrar a verdade. Pedro vai a encontros clandestinos de colegas de busca e entrevista vítimas e parentes. Fotografias de desaparecidos acrescentam um tom documental à narrativa, e talvez o ponto forte de Imagem Latente, seja quando Pedro fotografa clandestinamente (de um carro) o prédio cuidadosamente guardado, imponente, mas austero, onde os prisioneiros foram encarcerados - presumidamente o verdadeiro local. Após transtornar seu trabalho e vida doméstica, Pedro eventualmente chega aos termos consigo próprio, e se convence da realidade de tortura e assassinatos dos "desaparecidos" pelo regime de Pinochet.

           Como muitos dos filmes latino-americanos, Imagem Latente é impregnado de machismo, particularmente quando Pedro reengata um caso com uma antiga amante em busca de "se encontrar". Porém as mulheres aqui não são estereotipadas como esposas e amantes passivas. Elas se encontram em pé de igualdade com os homens na arena política. Numa das cenas mais fortes do filme, Pedro entrevista uma mulher que reconta os incidentes da tortura. O formato da entrevista sugere que a atriz possa ser, na verdade, uma vítima real do regime de Pinochet e um exemplo da estrutura cuidadosamente orgânica do filme, no qual o próprio título ressoa com sentido. Pedro é incapaz de capturar toda a verdade e, com sua câmera, do mesmo modo que o filme - qualquer filme - pode proporcionar somente uma série de imagens, não a própria realidade. E aqui a revelação da verdade permanece elusiva e "latente". De fato, o título do filme é prenhe de sentido, em uma diversidade de maneiras. Ressoa "filmagem no escuro" e "trazer imagens das sombras", um processo fotográfico de "imagem latente", onde a imagem é "puxada" a uma série de aberturas em termos de iluminação.

           Foi realizado com orçamento bastante reduzido, mas a escassez de meios foi empregada como vantagem. Cenários simples, com ausência de detalhes e profundidade, permite a câmera mais esconder que revelar, proporcionando um sentimento claustrofóbico. Esta atmosfera também é criada pelo uso contínuo de primeiros planos, que acrescentam uma atitude de introspecção - outra escolha estilística apropriada. Na conquista de sua notável síntese de estilo e tema, Parelman foi auxiliado grandemente pela beleza e simplicidade da fotografia de Beltrán Garcia. E, em retrospecto, é difícil de acreditar que Parelman foi capaz de realizar Imagem Latente no Chile de meados dos anos 80.

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 332-33. 

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