Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#64: El Húsar de la Muerte
El Húsar de la Muerte. (Chile, 1925). Um dos três ou quatro dos 78 longas chilenos silenciosos realizados (entre 1910 e 1931) a ter sobrevivido, El Húsar de la Muerte foi considerado por um crítico da época, como sendo o único filme do período a ser "digno de exibição". Notavelmente, 15 longas foram realizados no Chile, em 1925, uma produção anual que não seria superada no país até recentemente.
Pedro Sienna (nascido Pedro Pérez, 1893-1972), dirigiu cinco longas silenciosos chilenos, incluindo El Húsar de la Muerte, seu último, e Un Grito en el Mar (1924), que também sobreviveu. El Húsar foi restaurado pela primeira vez em 1941, quando som foi acrescentado, porém quando a companhia produtora Andes Film não mais considerou o cinema lucrativo, deu os negativos para uma fábrica de pentes - celulóide foi utilizado na manufatura de pentes. Uma cópia de El Húsar de la Muerte em condições bastante precárias foi redescoberta, em 1962, por Sergio Bravo, o diretor do Centro de Cine Experimental, da Universidad de Chile, em Santiago, e Sienna foi capaz de auxiliar numa segunda restauração, incluindo a reconstrução dos entretítulos perdidos. A restauração levou um ano, e uma trilha sonora foi acrescentada em 1964, depois do que o filme foi exibido ao longo da rede de cineclubes chilenos. Em 1995, o Ministério de Educação Chileno, junto com a Universidad de Chile, restauraram o filme por uma terceira vez, e em 1998 El Húsar foi declarado Monumento Histórico do Chile. Em 2006, tornou-se o primeiro filme latino-americano a ser exibido na Giornata del Cinema Muto, norte da Itália, o principal festival de cinema silencioso do mundo.
Além de dirigir, Sienna escreveu o roteiro e interpretou o papel do protagonista Manuel Rodríguez, um guerrilheiro lendário que levou forças revolucionárias chilenas contra a Espanha, nas batalhas de 1810. Rodríguez nasceu em uma família aristocrática, estudou direito, e foi indicado como procurador geral do estado, em 1814. Uniu-se a Bernard O'Higgins no Exército de Libertação dos Andes como agente subterrâneo e se tornou uma espécie de heroi folclórico romântico. Foi um tema ideal para um filme; na verdade, dois filmes prévios chilenos que celebravam sua vida e se chamam Manuel Rodríguez, o primeiro longa chileno (1910), dirigido por Adolfo Urzúa Rosas, e o segundo (1920), dirigido por Arturo Mario. O filme de Sienna dramatiza episódios de Rodríguez se tornando rebelde, liderando os Hussardos da Morte, seus vários aprisionamentos e missões de espionagem e sua eventual morte por tiro e baioneta. O rebelde ficou conhecido como o mestre dos disfarces, e El Húsar tira partido disso. Em uma cena aparece uma série de dissoluções, apresentando Rodríguez com seu rosto livre de disfarces, então ostentando um bigode, e depois portando um poncho e carregando um bacamarte. Posteriormente posa como um conde, de formas a infiltrar um composto monarquista. Quando revela sua identidade, sai correndo do cômodo, não muito diferente de Douglas Fairbanks em The Mark of Zorro (A Marca do Zorro, 1920, Estados Unidos).
Alusões aos filmes de Hollywood e ao seriado francês Fantômas, o mestre dos disfarces (dirigido por Louis Feuillade, 1913-1914) certamente não foram acidentais, e Sienna sagazmente integrou tropos de ação/aventura em seu roteiro. Um aspecto verdadeiramente sofisticado de El Húsar é como a "jogo" é incorporado. Há muitos momentos de humor, e frequentemente estes involvem crianças, que logo após a primeira sequencia dos disfarces, são mostradas jogando. O melhor amigo de Rodríguez no filme é um garoto, El Huacho Pelao (Guillermo Barrientos), que o idolatra e lhe dá sua corneta (após o que um flashback apresenta como o garoto a obteve). Somos introduzidos ao menino quando ele está sendo chutado por um hussardo real. Ao início do filme, os hussardos são retratados de forma bastante negativa, como agentes da Espanha, queimando ranchos e molestando mulheres, somente para que esta imagem seja virada de ponta cabeça quando os "hussardos da morte" se unem para lutar contra as forças do colonizador. O Huacho Pelao e um rapaz um pouco mais velho que ele, de quem se torna amigo próximo ao final do filme, ambos possuem algo de aparência indígena, e Sienna argutamente identificou o objetivo de Rodríguez de trazer independência ao Chile com os jovens, povos aborígenes e....mulheres. Até o final do filme, com um talento romântico, Rodríguez visita a marquésa, Dona Carmen, demonstrando que seus laços com a realeza não são necessariamente equívocos, como se os monarcas apoiassem a unidade e a independência.
Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 328-29.
Comentários
Postar um comentário