Filme do Dia: A Hora da Estrela (1985), Suzana Amaral

 


A Hora da Estrela (Brasil, 1985). Direção: Suzana Amaral. Rot. Adaptado: Suzana Amaral & Alfredo Oroz, baseado no romance homônimo de Clarice Lispector. Fotografia: Edgar Moura. Montagem: Idê Lacreta. Música: Marcus Vinícius. Com: Marcélia Cartaxo, José Dumont, Tamara Taxman, Fernanda Montenegro.

Macabéa (Cartaxo) é uma jovem nordestina sonhadora e virgem que passa a morar em São Paulo. Orfã de pai e mãe, com a tia que a criou morta, Macabéa passa a morar em um pensionato, onde divide o quarto com três outras mulheres. Trabalhando como secretária, tem um chefe de seção paternalista, que não tem coragem de despedi-la e como colega  Glória (Taxman), que faz sucesso com os homens e já fez cinco abortos. Tendo como referência cultural o programa que escuta no Rádio Relógio, a solitária Macabéa acabará encontrando seu par em outro nordestino, o paraíbano Olímpico de Jesus (Dumont), metalúrgico que sonha ser deputado e que irrita-se com as constantes perguntas da parceira. Seu envolvimento com Olímpico será prejudicado pela visita de Glória a uma cartomante (Montenegro), que entre as inúmeras prescrições, lhe recomenda que deve conquistar o namorado de uma amiga. É o que Glória logo põe em prática e, no dia do aniversário de sua mãe,  surge a esperança de um casamento com um homem de posses. Macabéa, considerada uma empregada ineficiente e relapsa, encontra-se na mira do superior de seu chefe, que a quer despedida. Seguindo os conselhos de Glória, Macabéa visita a mesma cartomante, que após lhe confirmar como é triste sua vida, vislumbra um futuro completamente oposto, com um rico e loiro homem estrangeiro e a aparição nebulosa de uma estrela – o sonho de Macabéa é o de ser estrela de cinema. A profecia acaba se concretizando, ainda que pelo avesso: um rico homem dirigindo uma mercedez-benz a atropela.

O filme de Amaral é tocante pela forma lírica e, ao mesmo tempo, idiossincrática com que retrata personagens desglamorizados sem apelar para o caricato e demonstrando um apaixonado interesse pelos mesmos. Ainda que seja ambientado na São Paulo contemporânea, a dimensão temporal pouco importa para esse drama que busca  a árdua tarefa de traduzir o universo profundamente subjetivo de Lispector em imagens. Para o sucesso de sua empreitada conta com o afinado elenco e um aguçado senso de ritmo. Os diálogos, menos reveladores que as ações dos personagens e o próprio silêncio da protagonista (realçando a sua pouca articulação e reduzida auto-estima), tornam-se significativos quando sublinham a impossibilidade de diálogo entre Macabéa e Olímpico. Além de ser hábil na descrição da solidão humana, trata-se também de uma das melhores representações sobre o imaginário feminino produzidas pelo cinema brasileiro. Prêmio de atriz no Festival de Berlim. Praiz Produções/Embrafilme. 96 minutos.

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