Filme do Dia: Desaparecido: Um Grande Mistério (1982), Constantin Costa-Gavras
Desaparecido: Um Grande Mistério (Missing,
EUA/México, 1982). Direção Costa-Gavras. Rot. Adaptado: Costa-Gavras &
Donald E. Stewart, a partir do livro Missing, de Thomas Hauser.
Fotografia Ricardo Aronovich. Música Vangelis. Montagem Françoise Bonnot. Dir.
de arte Peter Jamison, Lucero Isaac & Agustín Ituarte. Cenografia Linda Spheeris. Figurinos Joe I.
Tompkins. Maquiagem Mark Reedall. Com Jack Lemmon, Sissy Spacek, Melanie
Mayron, John Shea, Charles Cioffi, David Clennon, Richard Venture, Jerry
Hardin, Richard Bedford, Janice Rule.
Chile, setembro de 1973. Após o golpe
militar, a americana Beth Horman (Spacek), perdendo a possibilidade de retornar
a Nova York, tenta encontrar sem sucesso o paradeiro do marido Charles (Shea),
um escritor de histórias infantis, que se encontrava em Valparaíso com a amiga
Terry (Mayron). Chega de Nova York, também interessado em descobrir notícias do
filho, o seu pai, o conservador homem de negócios Ed Horman (Lemmon), em
frequente conflito com a nora e o estilo de vida deles no país. Aos poucos, no
entanto, Ed vai se dando conta do envolvimento do governo americano no golpe e,
pior que isso, no desaparecimento do próprio filho.
Costa-Gravas tem plena capacidade de
articular um thriller político e criar um clima de suspensão e angústia
não apenas pelo desaparecimento de Charlie, coroando a tentativa fracassada de
Beth de voltar a Nova York e abandonar uma Santiago a qual se pode quase
tropeçar com um cadáver no meio da rua ou escutar tiros de metralhadora em meio
a uma trivial conversa entre amigos, em casa, ao início – e talvez um dos
melhores achados do filme, demarcando o peso do que a realidade exterior pode
provocar nos indivíduos; e pela angústia vivida por Beth, com um sogro
completamente alheio ao que de fato está ocorrendo no país, e que ela tem
vivenciado na pele desde as duas semanas do desaparecimento do marido. Como
outras produções contemporâneas que alcançaram alguma notoriedade nacional (Prá
Frente Brasil) ou internacional (A História Oficial), é um filme a
revolver uma história oficial - à época em que foram produzidos sobretudo –
ainda objeto de disputa. E Costa-Gavras, assim como as produções argentina e
brasileira, busca elaborar certo olhar didático, aqui mais bem urdido neste
aspecto, ao trazer em seu protagonismo, personagens não diretamente envolvidos
com ações de esquerda. Portanto, mais facilmente capazes de angariar empatia do
público independente de sua coloração ideológica. Didatismo a se amoldar às
diretrizes dramatúrgicas, a partir do momento de virada – tal como em um
melodrama clássico, “proporcionado” por um evento natural, um terremoto, aqui
não a ressoar em dimensão mais ampla os augúrios pessoais, mas provocando uma
primeira conversa efetivamente conciliatória entre sogro e nora. Ao mesmo tempo
que é a menos melodramática das três produções. A que dispende menos tempo com
choro e ranger de dentes, sentimentos em geral e mais com a engrenagem da máquina
e dos bastidores do evento político, com detalhes que não passariam
desapercebidos da ditadura brasileira, que mesmo liberando-o, modificou as
legendas nas quais havia uma alusão ao treinamento de militares sob a
orientação de seus colegas brasileiros. Há um diálogo calculado igualmente com
as tradições liberais do cinema estadunidense. O Ed Horman que ameaça os
agentes do governo americano com um processo pois acredita na justiça de seu
país, mesmo se deparando com todas as promiscuidades desta com os governos
ditatoriais sul-americanos, vem a ser desmentido pelos relativamente frios
comentários finais sobre a situação de não resolução do caso de seu filho, após
anos de batalhas judiciais, com o corpo do mesmo sendo transferido apenas após
sete meses e não duas semanas como prometido – e, na verdade, não encontrado
ainda décadas após, já que anos após o lançamento do filme, com a tecnologia do
DNA, comprovou-se que o corpo enviado como sendo dele, não o era. Há, como nas produções argentina e
brasileira, convencionalismo estilístico, no máximo se incluindo um flashback
não anunciado, a tentar mapear para o personagem, mas sobretudo ao espectador,
a motivação que levou Charlie Horman a ser executado nos porões da ditadura. A
trilha sonora do conterrâneo do realizador, mesmo não lançada comercialmente à
época, tornou-se relativamente popular.
Prêmio de Melhor Ator para Lemmon e Palma de Ouro em Cannes. |PolyGram Filmed Ent./Universal
Pictures/Estudios Churubuzco Azteca S.A. para Universal Pictures. 122 minutos.
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