Filme do Dia: O Diabo na Rua no Meio do Redemunho (2023), Bia Lessa
O Diabo na Rua no Meio do Redemunho
(Brasil, 2023). Direção Bia Lessa. Rot. Adaptado Bia Lessa, baseado no romance Grande
Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Fotografia José Roberto Eliezer.
Música Egberto Gismonti & O Grivo. Montagem Sérgio Mekler & Renato
Catharino. Dir. de arte Antonio Vanzolini. Com Caio Blat, Luiza Lemmertz, Luiza
Arraes, Leonardo Miggiorin, Lucas Oranmian, José Maria Rodrigues, Clara Lessa,
Daniel Passi.
Blat
curiosamente está presente no elenco das duas produções contemporâneas baseadas
no romance mais famoso de Rosa, de aproximações estéticas antitéticas, vivendo
em ambas o personagem central (Riobaldo). Bazin já discorreu em defesa de um
cinema impuro, a demonstrar abertamente sua influências das outras artes. Não
seria este o quesito exatamente a gerar uma crítica à proposta de Lessa, até
porque muitos filmes fizeram uso de não mais que um cenário neutro em maior ou
menor número de acompanhamentos cenográficos (Dogville, Effi Briest,
dentre uma longa lista). Talvez fosse antes o de um certo cinema “preguiçoso”,
isto observado pelo ângulo do cinema, proposição a provavelmente não fazer
sentido para alguém tão próximo da encenação e do teatro como Lessa. E que já
havia encenado um espetáculo de mesmo nome e provavelmente estreita semelhança,
inclusive. O fato de ambos projetos terem assinatura de Lessa, não apenas
sinaliza, em termos de adaptação, para a própria peça, inexplicavelmente não
citada nos créditos, como, em outra instância, para uma certa
autocondescendência em seu encantamento com a obra de Rosa e sua adaptação
prévia ao teatro. Dada a extensão longeva para tal proposta tão antípoda da
exploração naturalista básica do ambiente, ao simplesmente se fotografar
ambientes cenográficos ou locações ou animais de modo mais ortodoxamente
mimético; aqui os animais são evocados por membros do grupo. E as falas
carregam a beleza regionalista e literária do autor. E não que tampouco não
existam boas opções de compartilhamento entre literatura/teatro/cinema. Uma
delas, bastante simples, mas nem por isso de menor monta, é o da fala
diretamente para a câmera de Riobaldo/Blat ser menos o equivalente de um “à
parte” ao público teatral que uma narração para o autor – a fonte folclórica a
ter inspirado Rosa. Outras soluções a tentarem dialogar mais estritamente com
as plateias contemporâneas, momentos como o de Riobaldo não apenas estupra uma
personagem, mas igualmente vem depois a ser sodomizado pela mulher vítima de
sua agressividade sexual. Noutro sinaliza para Brasília e uma provável menção
ao governo Bolsonaro. Ambas não parecem acrescentar nada a
obra, antes o oposto |Globo Filmes. 127 minutos.
Parabéns pelas críticas
ResponderExcluirObrigado. Volte sempre!
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