Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#112: Silvio Caiozzi
CAIOZZI, Silvio (1944-, Chile). Ainda que tenha dirigido somente seis longas, Silvio Caiozzi é reconhecido por não apenas ter dirigido alguns dos mais importantes filmes chilenos, mas também por ter sido capaz de realizar filmes durante os anos opressivos da ditadura de Pinochet, sem ser um apoiador político do regime. Caiozzi nasceu em Santiago, neto de imigrantes italianos. Atraiu-se pelo cinema muito jovem, e aos 13 anos seu pai lhe comprou uma câmera Super-8. Quando adolescente viajou a Chicago, para frequenaar o Columbia College, onde recebeu o título de graduado em comunicaçõeas em 1967. Ao retornar ao Chile envolveu-se com o renascimento cinematográfico chileno, trabalhando como assistente de direção em Lunes 1, Domingo 7 (1968), de Helvio Soto e como cinegrafista em Caliche Sangriento (1969) e Voto más Fusil (1970), assim como Nadie dijo Nada (1971), de Raúl Ruiz e Ya ao Basta con Rezar (1972), de Aldo Francia. Trabalhou também notoriamente como cinegrafista da segunda unidade para Constantin Costa-Gravas em État de Siège [Estado de Sítio, França/Itália/Al. Ocidental) em 1972. Após o golpe militar, Caiozzi dirigiu comerciais, e o dinheiro serviu que lhe permitisse financiar seu primeiro longa solo, Julio Comienza en Julio, em 1976. Previamente havia co-dirigido um longa independente, A la Sombra del Sol (1974), com Pablo Perelman, que nunca foi lançado comercialmente.
Julio Comienza en Julio foi seguramente ambientado no Chile rural da virada do século e proporcionou uma crítica da aristocracia em 1900, tornando-se, portanto, o único filme chileno a ser lançado comercialmente durante a ditadura de Pinochet. Venceu os prêmios principais do júri e do público no Festival de Huelva, Espanha, e foi também exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Em 1999, Julio Comienza en Julio foi votado o "melhor filme chileno do século". Em 1982 Caiozzi filmou uma adaptação para vídeo de Historia de un Roble Solo, do mais proeminente autor chileno, José Donoso. Continuou um bem sucedido diretor de comerciais, vencendo o prêmio principal do festival publicitário de Cannes, com um anúnico da Firestone. Com seu filme seguinte, iniciado em 1985, La Luna en el Espejo (A Lua no Espelho, 1990), Caiozzi cimentou sua reputação como o diretor chileno de um cinema sofisticado e bem realizado.
Ainda que se possa interpretar A Lua no Espelho como um filme político, no sentido que critica as pessoas que viviam no passado, existe primordialmente como uma interessante adaptação visual do universo autônomo de Donoso. Don Arnaldo (Rafael Benavente), um antigo herói da marinha chilena, doente e a maior parte do tempo acamado, vive com seu filho adulto, "El Gordo" (Ernesto Beadle) em um apertado apartamento em Valparaíso. O pai tem espelhos postos em seu quarto, e em toda parte, para que possa sentir um controle de seu mundo, que está se esvaindo. Também acredita que possa ser capaz de observar o mar através de um espelho (e não apenas a lua), imaginação que efetiva próximo ao final do filme. "El Gordo" corteja uma vizinha de baixo, Lucrecia (Gloria Münchmeyer), que é mais velha do que ele. Seu pai desaprova. Mas o casal nada atraente delicia-se em cozinhar juntos, imagens a proporcionarem toques eróticos aos procedimentos. A claustrofobia do ambiente é ressaltada pelo uso repetido de primeiros planos, com a câmera movendo-se muito próxima das ações das personagens. As cenas internas dominantes são intercaladas com planos externos com o bonde do funicular de Valparaíso, engrenagens de relógios e uma roda de controle, tudo isto conectando a verticalidade perigosa do terreno à passagem do tempo. Muito pouco acontece, mas uma tensão em suspenso - nos perguntamos se os amantes planejam matar Don - impregna o filme e, ao final, quando Don força a si mesmo a se levantar e sair, cai na rua de paralelepípedos. Uma imagem congelada do funicular próximo do topo de sua jornada sugere que Don Arnaldo se encontra morto. A Lua no Espelho ganhou numerosos prêmios em festivais internacionais em Trieste (Itália), Valladolid (Espanha), Montevideu, o Festival Internacional de Cinema de Cartagena (Colômbia) e o Festival Internacional del Nuevo Cine Latino (Havana, Cuba), assim como o Leão de melhor atriz para Münchmeyer, a primeira vez que um filme chileno competiu neste prestigiado festival.
Ainda que tenha havido outra demorada espera para seu próximo longa, Caiozzi esteve ocupada como administrador, como membro do Conselho Chileno de Televisão, e participando do júri de vários festivais. Em 19998 dirigiu o documentário, Fernando ha Vuelto, sobre a família do "desaparecido" Fernando, que finalmente recupera seus restos mortais, vinte anos após sua morte, pelo qual Caiozzi recebeu o primeiro prêmio Grande Coral no Festival de Havana. O longa seguinte de Caiozzi, Coronación (A Coroação, 2000), foi sua terceira colaboração com José Donoso. Eles co-redigiram o roteiro, baseado no romance de Donoso de 1974. Se há algo, a atmosfera do filme é ainda mais decadente que os filmes anteriores de Caiozzi. O herdeiro de uma antiga família endinheirada chilena contrata uma jovem para cuidar de sua tirânica avó e tenta seduzi-la. Ainda mais bem sucedido que A Lua no Espelho no circuito dos festivais internacionais, A Coroação ganhou o prêmio de melhor diretor para Caiozzi no Festival do Mundo de Montreal, três prêmios, incluindo diretor, no Festival Internacional de Cinema de Viña del Mar, e prêmios em Huelva, Ft. Lauderdale, Havana (todos em 2000), e Cartagena, o Festival de Cinema de Gramado (Brasil), e o Uruguai (todos em 2001). O mais recente esforço cinematográfico de Caiozzi, Cachimba (2004), é outra adaptação de Donoso, mas desta vez uma comédia. Em 2004 tornou-se o primeiro realizador a ser introduzido na Academia Chilena de Belas Artes.
Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth, Rowman & Littlefield, 2014, pp. 114-16.
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