Filme do Dia: Nostalgia da Luz (2010), Patricio Guzmán
Nostalgia de Luz (Nostalgia de la Luz, Chile, 2010). Direção e Rot.Original:
Patricio Guzmán. Fotografia: Katell
Djian. Música: Miguel Miranda & José Miguel Tobar. Montagem: Patricio
Guzman & Emmanuelle Joly.
Documentário que faz uma
original correlação entre astrônomos que observam os corpos celestes e as
parentes de desaparecidos que escavam no árido solo, também do deserto do
Atacama, em busca de outros corpos, o de seus irmãos, pais, etc. A licença
poética da astronomia, por mais interessante que seja, inclusive incluindo a
“memoriografia” do próprio Guzmán a respeito do seu interesse, assim como
nacional, ainda que amador, pela astronomia, e de fato o é e acaba sendo, em
grande parte responsável pelo que torna esse documentário diferenciado de
qualquer aproximação mais habitual do que seria um abordagem convencional, servindo mais como pretexto para que o filme
se centre efetivamente no seu retorno a um tema espinhoso da história recente
do país; a determinado momento, uma das familiares dos desaparecidos afirma que
eles são a “lepra” do país, ao trazerem a tona o que ninguém mais quer lembrar, o
que todos preferem esquecer, para continuar tocando suas vida; por sua vez, um
dos astrônomos lembra que eles também vão atrás de um passado, que é o passado
ainda testemunhado no céu pelas estrelas. Já Guzmán, com praticamente toda a
sua carreira voltada para o tema, segue, como os familiares, cutucando nesse
passado tão insepulto quando os restos ocasionalmente encontrados no deserto. A
frase que o próprio realizador, em sua habitual intervenção over e que bem poderia ser a última a
ser proferida (trata-se da fato da penúltima) afirma diz respeito ao fato de
que aqueles que guardam suas memórias conseguem sobreviver até mesmo na época
contemporânea, cada vez mais refratária à mesma, enquanto os que não a possuem
não se encontram em local algum. Num momento tocante, Guzmán recorda quando sua
mãe o levava para visitar o museu e se sentia fascinado pelo esqueleto
gigantesco de uma baleia. A pergunta que faz e que o filme não pretende apontar
qualquer solução fácil é qual será o destino dos despojos hoje guardados de
pedaços dos desaparecidos: irão formar um memorial? Devem se encontrar em um
museu como os ossos da baleia? Ou simplesmente ser enterrados como os dos
cadáveres comuns? Pergunta evidentemente capciosa já que traz embutida uma
questão que de muito transcende a tais indagações, mas servem como referência
para o próprio passado recente do país como um todo. Guzmán curiosamente se
posiciona apenas colateralmente sobre o tema principal, mesmo que eventualmente
escutemos as perguntas que endereça aos entrevistados. Atacama Prod./Blinker
Filmproduktion/WDR/Cronomeda. 90 minutos.
Por onde você conseguiu assistir?
ResponderExcluirEu assisti esse filme quando estive no Chile à época de seu lançamento. Foi uma sessão pesada, em que se sentia o efeito que se produz ainda hoje na sociedade chilena os absurdos desnecessários de seu período ditatorial. mas depois consegui um torrent dele. acho que é relativamente fácil conseguir ele na internet.
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