Filme do Dia: Gloria (2013), Sebastián Lelio

 


Gloria (Chile/Espanha, 2013). Direção: Sebastián Lelio. Rot. Original: Sebastián Lelio & Gonzalo Maza. Fotografia: Benjamín Echazarreta. Montagem: Sebastián Lelio & Soledad Salfate. Dir. de arte: Marcela Urivi. Figurinos: Eduardo Castro. Com: Paulina García, Sergio Hernández, Diego Fontecilla, Fabiola Zamora, Luz Jiménez, Alejandro Goic, Liliana García, Coca Guazzini.

Gloria (García), uma mulher da terceira idade, que trabalha e vive sozinha, com filhos crescidos e já independentes e que vai a uma boate frequentada por pessoas de sua faixa etária, onde eventualmente encontra homens para dançar e algo mais. Certa noite ela mantem contato com um homem, Rodolfo (Hernández), separado a um ano, que parece disposto a estabelecer uma relação de fato com ela. Ela o apresenta a sua família, no aniversário de seu filho, mas Rodolfo desaparece no meio do encontro. Indignada, Gloria rompe relações com ele, que a procura desesperado para reatar a relação. Porém, existe um empecilho maior para que essa não seja vivenciada plenamente. A dependência excessiva das duas filhas de Rodolfo.

Os maiores méritos do filme são o retrato honesto de uma personagem com todas as suas fragilidades, observadas de forma dramática ou, na maior parte das vezes, cômicas e vivida com garra com García (que levou o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim pelo mesmo). De fato, não se trata de ninguém excepcional, e é justamente essa ausência de excepcionalidade e seu perfil mediano que é explorado de forma a criar empatia com o público, não se escusando em mostrar cenas de sexo simulado com os personagens e seus corpos já demasiado maduros para servirem como o habitual atrativo voyeurístico que tais cenas pretendem despertar nas produções habituais. É a busca de afeto e do prazer, mas sob um viés bastante distinto do cinismo excessivo de personagens semelhantes e contemporâneos como o de A Grande Beleza. Ainda mais que esse, o filme menos pretende se amparar na recorrência de personagens, que nas situações em si vividas por sua protagonista, sendo todos os outros como que “elementos de passagem”. Econômica e culturalmente de padrões mais modestos que o protagonista do filme de Sorrentino, Gloria apenas sente a ausência de uma afetividade que tenta, sem sucesso, conseguir no contato ocasional com os filhos e na tentativa – fracassada, diga-se de passagem – de estabelecer uma união com Rodolfo. Ela segue vivendo. Paralelos também podem ser traçados com outra produção italiana contemporânea também protagonizada por outro solitário, O Intrépido, de Gianni Amelio, ainda que, nesse caso, a dimensão da sexualidade seja um tanto minimizada. Talvez se destaque um pouco do corpo do filme, a reação de Gloria, quando decide finalmente por um ponto final na sua tentativa de relacionamento com Rodolfo, que parece operar numa chave mais comedida que a ação pretensamente histriônica pressupõe. Fabula/Nephilim Prod. 110 minutos.

 

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