O Dicionário Biográfico de Cinema#184: Geraldine Chaplin
Geraldine Chaplin, n. Santa Monica, Califórnia, 1944
O lugar do pai na história do cinema é automático, mas existem aqueles que acham sua [dele] personalidade difícil de saudar. Criticar Charlie Chaplin ainda equivale, em alguns lugares, a uma imperdoável heresia, que lhe marcam como um maligno anti-Charlie, desumano e antivida. Acredito que desistiria de toda a obra de Charlie por Cría Cuervos (75, Carlos Saura), que contém uma interpretação de máximo rigor emocional e profundidade por sua filha Geraldine. As características eloquentes de Geraldine são como um território abandonado contra a invasão. Em Cría ela é particularmente tocante, parecendo ter sido devastada por sentimentos, que não pode enganar ou encenar. Ela possui uma face natural da vulnerabilidade: o mesmo olhar resoluto fixamente pertencia a Lilian Gish, a Anna Karina, e a Ana Torrent, seu outro eu no magnífico Cría.
Esta atriz européia é muito pouco apreciada na América, em parte por conta do cuco muito diferente e tagarela, criado por Robert Altman em Nashville (75), entregando-se a Opal da BBC de forma tão generosa quanto auxiliou o filme de Saura. Naturalmente, Carlos Saura foi seu amante e pode ser esperado observar e conhecer o interior da pessoa. Enquanto a galeria de fotografias de Altman são mais interessadas com as esquisitices das primeiras impressões. Mas é muito provável que a própria atriz se encontre criativamente dividida. Sua própria história de Londres, Beverly Hills, Gênova e Madri pode ser a turbulência superficial de pedigree notável: a primeira criança de um feliz Chaplin, em seu último casamento com Oona, filha deste implacavelmente trágico Eugene O'Neill. É facil observar o romantismo sombrio de Chaplin na face de Geraldine; mas ouvimos igualmente o eco de Anna Christie e Long Day's Journey into Night.
Foi uma estudante de balé quando criança, e é provável que suas lições inspiraram parte de Limelight [Luzes da Ribalta], de seu pai, assim como a estreia de Claire Bloom, uma mulher que parece O'Neill. Geraldine fez seu primeiro filme em 1964, e desde então trabalhou duro em uma variedade de países e línguas: Par un Beau Matin d'Eté [O Preço de um Resgate] (64, Jacques Deray); uma introdução a Madri em Doctor Zhivago [Dr. Jivago] (65, David Lean); Peppermint Frappé (67, Saura); Stranger in the House [Gerações em Conflito] (67, Pierre Rouve); Stress es Tres, Tres (68, Saura); I Killed Rasputin (68, Robert Hossein); La Madriguera [A Colméia] (69, Saura); The Hawaiians [O Senhor das Ilhas] (70, Tom Gries); Zero Population Control [É Proibido Procriar] (71, Michael Campus); Ana y los Lobos [Ana e os Lobos] (72, Saura); Innocent Bystanders [O Grande Sequestro] (72, Peter Collinson); como Ana da Áustria, ofuscada por Dunaway e Rachel Welch em The Three Musketeers [Os Três Mosqueteiros] (73, Richard Lester) e The Four Musketeers (The Revenge of Milady) [A Vingança de Milady] (74, Lester); Noroit [Noroeste] (75, Jacques Rivette); Annie Oakley em Buffalo Bill and the Indians [Oeste Selvagem] (76, Altman); confusa e errante em Welcome to L.A. (76, Alan Rudolph); uma vítima clássica em Roseland (77, James Ivory); Brief Letter, Long Farewell (77, Herbert Vessely); Une Page d'Amour (77, Maurice Rabinowicz); Elisa, Vida Mia [Elisa, Vida Minha] (77, Saura); a amante perburbada das cerimônias em A Wedding [Cerimônia de Casamento] (78, Altman); brilhante, como a mulher saída da prisão em Remember My Name [Lembre Meu Nome] (78, Rudolph).
Mais velha, esquelética às vezes, mas estranhamente infantil, permaneceu capaz de momentos indeléveis: Mama Cumple 100 Anos [Mamãe Faz 100 Anos] (79, Saura); Le Voyage en Douce (79, Michel Delville); The Mirror Crack'd [A Maldição do Espelho] (80, Guy Hamilton); Les Uns et Les Autres [Retratos da Vida] (81, Claude Lelouch); La Vie est un Roman [A Vida é um Romance] (83, Alain Resnais); L'Amour par Terre (84, Rivette); The Corsican Brothers [Os Irmãos Corsos] (85, Ian Sharp); White Mischief [Incontrolável Paixão] (87, Michael Radford); soberba como a vaidosa colecionadora em The Moderns [A Arte do Amor] (88, Rudolph); Return of the Musketeers [A Volta dos Mosqueteiros] (89, Lester); I Want to Go Home [Quero Ir para Casa] (89, Resnais); The Children (90, Tony Palmer); como sua própria avó perturbada em Chaplin (92, Richard Attenborough), a única razão para se ver o filme; The Age of Innocence [A Época da Inocência] (93, Martin Scorsese); e Words Upon the Window Pane (94, Mary McGuckian).
Em meados dos anos 90 estava trabalhando um bocado na Europa ou em filmes de natureza religiosa: Home for the Holidays [Feriados em Família] (95, Jodie Foster); Para Recibir el Canto de los Pájaros (95, Jorge Sanjinés*); Gulliver's Travels [As Viagens de Gulliver] (96, Charles Sturridge); Jane Eyre (96, Franco Zefirelli); Os Olhos da Ásia (96, João Mario Grilo); Crimetime [Envolvido com o Crime] (96, George Sluizer); The Odyssey [A Odisséia] (97, Andrei Konchalovsky); a principal em Mother Teresa: In the Name of God's Poor [Madre Teresa: Em Nome dos Pobres de Deus] (97, Kevin Connor); Cousin Bette [A Vingança de Bette] (98, Des McAnuff); Finisterre, Donde Termina el Mundo (98, Xavier Villaverde); To Walk with Lions [Caminhando com Leões] (99, Carl Schultz); Beresina (99, Daniel Schmidt); Mary, Mother of Jesus [Maria, Mãe de Jesus] (99, Connor); Tú Qué Harías por Amor? (99, Carlos Saura Medrano - filho de Carlos Saura); In the Beginning [No Início] (00, Connor); Hable con Ella [Fale com Ela] (02, Almodóvar); Dinotopia (02, Marco Brambilla); Winters Solstice (03, Martyn Friend); The Bridge of San Luis Rey [A Ponte de San Luis Rey] (04, Mary McGuckian); Heidi (05, Paul Marcus); Oculto (05, António Hernández); Melissa P. [100 Escovadas Antes de Dormir] (05, Luca Guadegnino); Blood Rayne (05, Uwe Böll); The Orphanage [O Orfanato] (07, Juan Antonio Bayona); Teresa, el Cuerpo de Cristo (07, Ray Loriga); Diário de una Ninfómana (07, Antonia Molina**); Imago Mortis (*** 09, Stefane Bessoni); The Making of Plus One [10, A Criação do Plus One] (10, McGuckian); The Wolfman [O Lobisomem] (10, Joe Johnston); L'Imbroglio nel Lenzuolo (10, Alfonso Arau); There Be Dragons [Segredos da Paixão] (11, Roland Joffe); The Monk [O Monge] (11, Dominik Moll); Et si on Vivait Tous Ensemble? [E Se Vivéssemos Todos Juntos?] (11, Stephane Robelin); Americano (11, Mathieu Demy); Un Amor de Película (12, Diego Musiak); Memoria de Mis Putas Tristes (12, Henning Carlsen); muito bem como a velha em Lo Impossible [O Impossível] (12, Bayona); Panda Eyes [Meu Outro Eu] (13, Isabel Coixet); Wax (13, Victor Matellano).
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 458-60.
(*) N. do E: Thomson demonstra o seu provável desconhecimento da cinematografia sul-americana, quando grafa um de seus realizadores mais célebres como Sanjiner.
(**) N. do E: No IMDB, a referência ao realizador é Christian Molina.
(***) N. do E: título no livro é grafado incorretamente como Imago Moris.
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