Filme do Dia: Acordar para a Vida (2001), Richard Linklater
Acordar para a
Vida (Waking Life, EUA, 2001). Direção e Rot. Original: Richard
Linklater. Fotografia: Richard Linklater &
Tommy Pallotta. Música: Glover Gill. Montagem: Sandra Adair. Dir. de arte: Bob
Sabiston. Com: Wiley Wiggins, Glover Gill, Robert C. Solomon, Richard Linklater, Ethan Hawke, Julie Delpy,
J.C. Shakespeare, Bill Wise.
O que mais chama a atenção nesse filme
de Linklater, certamente pouco convencional e por vezes cansativo em sua
proposta original, é o modo radical que sua animação em rotoscópio a partir de
material integralmente e previamente filmado em ação ao vivo não apenas borra
os limites entre essa e a animação que posteriormente foi produzida a partir
daquela e consegue ser uma boa representação para o estado de “consciência
onírica” vivenciado por seu protagonista, uma espécie de Pequeno Príncipe
pós-moderno. Abdicando de uma estrutura dramática como também muito lhe convém,
o filme parece propositalmente também burlar o que seria sonho e o que seria
realidade – nesse sentido, se o universo onírico usualmente foi representado
por imagens mais delirantes e diálogos mais desconexos, aqui ele é representado
de modo relativamente sóbrio em termos de figuração, devido a própria técnica
do rotóscopio (utilizada, por exemplo, para tornar mais virtuosos os movimentos
de dança e dos personagens num filme como American Pop) e no discurso dos próprios intelectuais e artistas que discutem
teorias desde a vida humana, o próprio universo onírico e até mesmo a teoria do
cinema representada por uma discussão na qual são citados Bazin e Truffaut. O
eixo de sua trama é um jovem (Wiggins) que busca respostas existenciais para a
condição humana e acaba as recebendo de múltiplas perspectivas. Entre seus
melhores momentos se encontra o do filósofo (Salomon, que ensinou o próprio
realizador na universidade) que discute sobre a profundidade e validade do
pensamento de Sartre para o cenário contemporâneo de tédio pós-moderno enquanto
necessidade de posicionamento e afirmação diante desse mundo e o percurso que é
feito pelo protagonista, ao lado do próprio Linklater (que reaparece ao final
jogando fliperama) em um táxi-barco. A certo momento um de seus “personagens”
afirma que só existem dois tipos de medo, o dos que possuem medo de viver e o
dos que vivem com demasiada intensidade.
Ainda que o personagem se refira a si próprio como pertencente a segunda
categoria, o protagonista desse filme, ainda que em sonho, parece se enquadrar
mais no primeiro perfil, sendo completamente tragado por um mundo de idéias em
que praticamente inexiste qualquer vestígio de experiência concreta. Muitas
referências a filmes anteriores do realizador, notadamente o retorno do casal
vivido por Delpy e Hawke em Antes do
Amanhecer. Fox Sarchlight
Pictures/IFC/Thousand Words/Flat Black Films/Detour Filmproduction/Line
Research para 20th Century Fox Film Corp. 99 minutos.
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