Filme do Dia: Fale com Ela (2002), Pedro Almodóvar


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Fale com Ela (Hable con Ella, Espanha, 2002). Direção e Rot. Original: Pedro Almodóvar. Fotografia: Javier Aguirresarobe. Música: Alberto Iglesias. Montagem: José Salcedo. Dir. de arte: Antxón Gómez. Cenografia: Federico G. Cambero. Figurinos: Sonia Grande. Com: Javier Cámara, Darío Grandinetti, Leonor Watling, Rosario Flores, Mariola Fuentes, Geraldine Chaplin, Pina Bausch, Adolfo Fernandez, Chus Lampreave.
        No balé de Pina Bausch, o enfermeiro Benigno (Cámara) observa a emoção do homem sentado ao seu lado, Marco Zuloaga (Grandinetti). Posteriormente, o destino dos dois voltará a se cruzar, quando Marco tem a sua namorada, a famosa toureira Lydia (Flores), internada em coma no mesmo hospital onde Benigno cuida da jovem aprendiz de balé, Alicia (Watling). Desesperado, Marco é aconselhado por Benigno a falar com Lydia, para que ela fique com a mesma boa aparência de Alicia. Após saber que Lydia havia reatado pouco antes com Niño de Valencia (Fernandez), toureiro igualmente famoso, Marco a abandona e vai para a Jordânia. Benigno, por sua vez, que já possuía uma obsessão por Alicia, desde que a observara nos treinos de balé, sob a orientação de Katerina Bilova (Chaplin), é acusado de engravida-la e preso. Alicia suprira o vazio deixado pela morte de sua mãe, igualmente enferma e sua ausência destitui de Benigno qualquer sentido na vida, suicidando-se. Porém Benigno morre sem saber que Alicia conseguira sair do estado de coma. Profundamente abalado com a morte de Benigno, que segue a morte de Lydia, Marco segue os conselhos de Benigno e vai conversar com ele ao túmulo.
          Esse grandioso melodrama de Almodóvar consegue unir ao cada vez mais sofisticado tratamento visual e complexificação psicológica de seus personagens, presentes em Tudo Sobre Minha Mãe, algumas breves inserções da anarquia do humor de seus primeiros filmes, conseguindo um profundo e perturbador retrato das relações entre gêneros. Ao mesmo tempo que o conversar com Alicia em coma, pode ser visto sob o tradicional viés da compaixão e do amor redentor (semelhante ao de Ondas do Destino, por exemplo), igualmente pode ser analisado como uma metáfora do desejo masculino de uma mulher que não demonstre qualquer reação independente da subjetividade masculina. Louvável é a ausência de qualquer julgamento moral ou tentativa de maiores esclarecimentos sobre a honestidade ou não de Benigno no caso do estupro, distanciando-se das convenções do melodrama, de quem o  cineasta torna-se um de seus mais expressivos atualizadores, como Fassbinder na década de 1970. Participações especiais de Bausch (cuja brilhante número musical no prólogo do filme é de rara beleza) e Caetano Veloso, assim como pontas não creditadas de Marisa Paredes e Cecilia Roth. El Deseo S.A. 112 minutos.

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