Filme do Dia: A Chama que Não se Apaga (1982), Alan Parker

A Chama que não se Apaga (Shoot the Moon, EUA, 1982). Direção Alan Parker. Rot. Original Bo Goldman. Fotografia Michael Seresin. Montagem Gerry Hambling. Dir. de arte Geoffrey Kirkland & W. Stewart Campbell. Cenografia George R. Nelson & Doug von Koss. Figurinos Kristi Zea. Com Diane Keaton, Albert Finney, Peter Weller, Karen Allen, , Dana Hill, Viveka Davis, Tracey Gold, Tyna Yothers.

Faith (Keaton) possui uma relação problemática com o marido, o escritor George (Finney), de quem sabe vivenciar uma relação extraconjugal com Sandy (Allen). George decide ir morar com Sandy. Faith busca realizar o sonho antigo de construir uma quadra de tênis na propriedade, contratando Frank (Weller), com quem passa a viver um relacionamento, que deixa George profundamente enciumado. No dia do aniversário da filha Sherry (Hill), George invade a casa, aterrorizando as crianças e também Faith. E no dia da festinha de inauguração da quadra, que ficou perfeita, o desastre é pior.

Há já algo precocemente franzido no lábio superior de Keaton, a nos fazer imaginar que não foi apenas a ação do tempo na muito posterior comédia nada engraçada Do Jeito Que Elas Querem. E Keaton é sempre Keaton ela própria, não a caracterização de uma personagem, embora algumas vezes tenha até tentado algo do tipo (como em O Poderoso Chefão]. Há doses como se fossem amostras grátis do que um dia fora excentricidades mais salientes, tais como as de Domingo Maldito. Ao invés de crianças fumando maconha e um amante bissexual, os laivos de se viver com alguém de pendores artísticos é apresentado de forma menos charmosa. E Albert Finney não está tão distante de Peter Finch naquele. Tampouco há os cacoetes estilísticos de Uma Viagem para Dois, recorrendo a diversos momentos de viagens envolvendo um casal. E uma certa pretensiosidade a ser coberta por acordes minimalistas no piano, levando às vezes há mais de três minutos sem qualquer diálogo. E um silêncio tampouco a ser preenchido por uma trilha musical, ao menos uma trilha convencional, aliás ausência significativa a também demarcar sua diferença dos equivalentes hollywoodianos da época. O que muito ocasionalmente se escuta são alguns acordes ao piano, ao ponto de sequer existir crédito para ela.  Notadamente, no momento após a intempestividade de George, invadindo a casa de forma violenta.  E consegue tirar bom partido destes silêncios, sempre presentes, e quase sempre bastante significativos, como o que se interpõe entre Faith e Frank, de pura tensão entre o desejo e a novidade. Parker parece ter descoberto a casualidade do momento e somado aos lindos enquadramentos de não menos belas paisagens e ambientes agradáveis de interiores, vai construindo suas cenas, como um jogo de montar. De forma mais incomum que o realizador americano faria, mas sem tampouco assustar o público que consumia cada vez mais filmes sobre separações e o que fazer de sua vida amorosa. É a novidade da crescente disseminação do fim e recomeço de relacionamentos, trazendo também os eventuais choques de perspectivas, como o nível de entrega e satisfação quase patética no rosto de Karen Allen em contraste com o endurecido rosto de Finney. Pesa-se na mão ao final, mas a foto fixa com o qual termina se torna interessante. E poderia ter resultado de uma situação menos exagerada, com certeza.  A criança mais velha, espancada pelo pai em seu quarto, possui na parede um poster de Pink Floyd – The Wall, dirigido por Parker, e lançado depois desta produção. |MGM/SLM Prod. Group. Para MGM/UA. 124 minutos.

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