Filme do Dia: Samba Traoré (1992), Idrissa Ouedraogo

 


Samba Traoré (Burkina Faso/França/Suíça, 1992). Direção: Idrissa Ouedraogo. Rot. Original: Santiago Amigorena, Jacques Arhex & Idrissa Ouedraogo. Fotografia: Pierre-Laurent Chénieux & Mathieu Vadipied. Música: Faton Cahen & Wasis Diop. Montagem: Joëlle Dufour. Dir. de arte: Yves Brover-Rabinovici. Figurinos: Oumou Sy. Com: Bakary Sangaré, Mariam Kaba, Abdoulaye Komboudry, Irène Tassembedo, Moumouni Campaoré, Sibidou Ouédraogo, Hippolyte Wangrava, Joseph Traoré.

Samba Traoré (Sangaré) volta rico da cidade com o produto de um roubo a um posto de gasolina que envolveu morte. Ele se afeiçoa da bela Saratou (Kaba), mãe do garoto Ali,  que rapidamente se afeiçoa de Samba. Samba provoca desconfiança entre vários moradores da aldeia, dentre eles seus próprios pais e também Saratou, pela quantidade de dinheiro que possui. Para o melhor amigo Salif (Komboudry) afirma que ganhou dinheiro em plantações de banana. Um relacionamento antigo de Saratou, Ismael (Wangrawa) retorna a aldeia, mas é escorraçado por Samba de forma violenta, despertando ainda mais suspeitas dos moradores. Logo Samba se casa com Saratou, constrói uma casa para ela e um bar. Porém, mesmo quando a vida parecia sorrir para ele, Samba continuava a ter pesadelos envolvendo a situação criminal na qual se envolveu. Quando sua mulher, em trabalho de parto, necessita ir para a cidade, Samba delega que Salif vá em seu lugar com a companheira. Quando essa retorna, sua mãe não quer mais que ele volte a se encontrar com a filha e o pai, envergonhado por Samba ter lhe afirmado que o dinheiro que o pai encontrara em sua casa assim como a arma  eram vinculados a um roubo, queima a casa que o filho construiu. Desconsolado e triste Samba recebe a visita de Ali e volta a encontrar Saratou, levando-a com seu filho recém-nascido e Ali. Quando se encontram próximos de chegar a aldeia, no entanto, a polícia já se aproxima. Uma perseguição policial se dá a Samba e Salif que fogem. Salif é atingido sem gravidade e Samba se torna prisioneiro. Saratou diz que esperará por ele sair da prisão.

Que não se peça de Ouedraogo o tom épico e a postura de criticidade política em relação à influência muçulmana do senegalês Sembene (Ceddo, por exemplo) ou um mergulho na própria mitologia do malinense Souleymane Cissé (Yeelen). De fato, seus filmes são bem menos pretensiosos e lidam com situações de fácil identificação, além de personagens de grande carisma. Que entre os mundos tradicional e moderno não pareça existir maiores vínculos que não os de pessoas como Ismael ou o próprio Samba traz ao primeiro certa aura de um primitivismo rousseauniano que é um de seus charmes. De fato, Ouedraogo parece se deleitar assim como deleita ao espectador com todo o processo de reassimilação de Samba pela comunidade. Seu gosto pela narrativa não pretende trazer a ela surpresas inusitadas e se torna fácil se adivinhar que o mundo idílico vivido por Samba e sua esposa se encontra com os dias contados, tornando todos os momentos ainda mais atrativos. Tampouco é difícil se adivinhar que será o próprio Ismael, com sabor particular de vingança, que denunciará aos policiais o paradeiro de Samba. Boa parte de seus atores, semi-amadores, alguns deles seguindo carreira em produções francesas em papéis habitualmente de menor destaque, também contribuem para uma atmosfera “pastoral”, em registro africano certamente – sendo que o casal vivido por Salif e Binta sendo o contraponto humorístico para o par central. Será que o morador de uma aldeia tal como a retratada pelo filme se identificará com o mesmo? Talvez tanto ou tão pouco quanto o norte-americano em relação a uma produção hollywoodiana e em ambos os casos não deixa de existir arquétipos como o do ladrão de bom coração que pode existir tanto na urbanidade noir quanto na inóspita e “exótica” pradaria africana. Urso de Prata no Festival de Berlim e talvez o último filme do realizador a ter tido alguma repercussão internacional maior nas últimas três décadas, caso descontada seja sua participação no filme coletivo 11 de Setembro (2002). Films A2/Filmes de L’Avenir/Les Films de l’Avenir/Les Films de la Pleine/Waka Films. 85 minutos.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar