Filme do Dia: Forman vs Forman (2019), Jakub Hajna & Helena Trestiková

 


Forman vs. Forman (Rep. Tcheca, 2019). Direção: Jakub Hejna & Helena Trestíková.

Documentário  bastante convencional, mas nem por isso destituído de interesse, que faz uma retrospectiva dos filmes e da vida do realizador tcheco Milos Forman. De sua infância, vivenciada sob a tragédia do envio de seu pai (depois veio a saber que não era seu pai biológico) e mãe aos campos de concentração aos píncaros do sucesso hollywoodiano. O próprio Forman comanda a narrativa, conseguindo driblar as emoções mais profundas quando fala do desaparecimento da mãe, zombando da burrice da censura estatal após os anos de arrocho stalinista e deploravelmente tediosos filmes de Realismo Socialista (um deles, sintomaticamente em cores, tem trechos seus exibido) até a Nova Onda Tcheca e o reconhecimento internacional de seus filmes. Entrevistas para a TV americana, para críticos franceses. Forman, ao defender O Baile dos Bombeiros, em Cannes, que no regime de Dubek talvez tenham ganho liberdade excessiva. Que as vezes é bom e se tem mais foco qundo se sabe diretamente contra o que se lutar – talvez uma declaração premonitória de sua própria trajetória, bem menos interessante em um país cujas restrições e modelo de produção eram de outra ordem, e se voltavam para o sucesso ou não comercial como norte; algo que o próprio Forman reconhece, a determinado momento. Quando ia haver a exibição de O Baile dos Bombeiros em Cannes explodiu o Maio de 68 francês e, a contragosto, Forman retirou seu filme de competição. E a curiosa história de sua hospedagem no Chelsea Hotel por quase três anos sem pagar, após o fracasso comercial de Procura Insaciável, sendo que o dono disse que ele o pagasse quando tivesse dinheiro. E uma vez mais lembramos da entrevista em Cannes, quando, a determinado ponto do documentário, o filme se torna um comentário um tanto superficial sobre sua própria filmografia de sucesso ou ao menos de impacto nos Estados Unidos (Um Estranho no Ninho, Hair, Reds, Amadeus). Uma das poucas vozes que comenta sobre Forman é ninguém menos que Vaclav Havel, que estudara na mesma escola que ele, e era de uma turma menos avançada, e afirma ter se tornado amigo dele desde então – quando Forman retorna pela primeira vez ao país em dez anos, para filmar Amadeus, Havel acabara de ser condenado à prisão. Um tanto honestamente, ou em um raro momento no qual parece sincero em relação à sua própria carreira, Forman admite que se identificava com Salieri, invejando Bergman, Fellini, Antonioni. Sobre o fracasso de Valmont, Forman somente não ficou arrasado como outros fracassos, porque sua estreia foi no mesmo dia em que ocorreu o que ficou conhecido como a Revolução de Veludo em seu país natal. O que agora não mais possibilitaria a série de filmagens, fotografias e áudios clandestinos que o serviço secreto efetivou no período que ele permaneceu com sua equipe par realizar Amadeus, que lhe proporcionaria um segundo Oscar como diretor. Negativ Film. 77 minutos.

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