Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#85: David José Kohon



 KOHON, DAVID JOSÉ (Argentina, 1919-2004). Ainda que tenha realizado somente dez filmes, David José Kohon foi talvez o mais formalmente talentoso da importante gerações de realizadores argentinos do nuevo cine do final dos anos 50 e idos dos 60. Seus filmes são tanto experimentais quanto socialmente engajados; ainda que fosse todos bem recebidos, particularmente na Europa, estão quase esquecidos hoje. Kohon nasceu em Buenos Aires e se tornou interessado em literatura, teatro e cinema quando jovem, particularmente como representavam sua cidade natal. Em 1950 trabalhou como assistente de direção para um filme dirigido por Echenique Enio e também fez seu primeiro filme, o curta La Flecha y el Compass. Em 1952 trabalhou como assistente de direção de Leopoldo Torres Ríos, e escreveu sua primeira peça em 1955. Por esta época era ativo na cena cineclubística e também foi crítico de cinema. Incapaz de dirigir outro filme antes de 1958, após o governo militar argentino iniciar uma cobrança nos ingressos para estimular a produção de cinema do país. Este curta, Buenos Aires, foi impedido pela censura da época, mas deve ter sido apreciado o suficiente por outros na indústria para torná-lo capaz de realizar seu primeiro longa-metragem em 1960, Prisioneros de una Noche. Produzido pelo realizador exponencial argentino, Leopoldo Torres Nilsson que trouxe ao projeto o fotógrafo Albert  Etchebehere.

Talvez influenciado pelos filmes de tango de "El Negro" José A. Ferreyra, Prisioneros foi quase totalmente filmado nas ruas de Buenos Aires e é repleto de melancolia e fatalismo romântico, típico do nuevo cine. Sua narrativa cobre uma única noite em um caso de amor desenvolvido entre uma instrutora de dança de salão/prostituta (María Vaner) e um trabalhador do mercado marginalizado/pequeno larápio (Alfredo Alcón). Podendo ser comparado ao "realismo poético"francês dos filmes escritos pelo poeta Jacques Prévert e dirigidos por Marcel Carné, mas a história - incluindo a perseguição da mulher por um cliente regular - e atmosfera onírica e carregada de desgraça de Prisioneros tem antecedentes no próprio cinema argentino, incluindo Escala en la Ciudad (1935), dirigido por Alberto de Zavalia (e filmado por John Alton). Além do que, Prisioneros foi também escrito por um poeta argentino, Carlos Latorre. Timothy Barnard descreve "a visão alucinatória da cidade e as vidas mundanas e trágicas que ela esconde" do filme (1996, p. 35) e seus "experimentos estilísticos", incluindo sequencias de montagem rápida, movimentos de câmera e colagens musicais e sonoras e uma fala destituída de emoção, nem todos os quais "funcionam" (p. 36). Mesmo a companhia produtora do filme, Producciones Ángel, ficou incomodada pelo grau de experimentação de Kohon, e não tentou lançá-lo até após a realização e lançamento do esforço seguinte do diretor, em 1962. 

Para seu segundo longa, Tres Veces Ana, uma antologia em três partes, Kohon novamente elencou Vaner, desta vez como três diferentes mulheres jovens: uma balconista vivendo com sua mãe em "La Tierra", uma coelhinha promíscua em "El Aire", e uma figura fantasmática em Las Nubes. Todas três são tristes; a primeira Ana tem um caso e engravida, a segunda possui um encontro furtivo com um estudante, e a terceira que é observada e desejada à distância, demonstra ser um ilusão, uma manequim na vitrine de uma costureira de meia-idade. O diretor de fotografia de Tres Veces Ana, Ricardo Aronovich, proporcionou um estilo diferente a cada uma das três partes, adequando-se aos títulos: direto, algo realismo documental para La Tierra, muito do qual foi filmado em locações; ângulos de câmera mais abstrato e radicais câmeras baixas na sacada em El Aire; frenéticos movimentos de câmera para o onírico Las Nubes. Ambos os dois primeiros longas de Kohon ganharam prêmios em festivais europeus - Prisioneros de una Noche em Santa Margherita (Itália), em 1961, e Tres Veces Ana em La Palma (Espanha), em 1962 - enquanto Ana também foi apreciado na Argentina, ganhando três prêmios da Associação de Críticos de Cinema Argentinos e o terceiro prêmio do Instituto Nacional de Cine (INC), em 1961. 

O terceiro longa de Kohon, Así o de Otra Manera (1964), nunca foi lançado, e ele seria capaz de completar somente mais quatro filmes nos 18 anos seguintes, todos os quais refletiram seu desejo continuado de abordar interesses sociais. O terceiro destes, sua produção mais convencional, Que es el Otoño? (1977) traz um arquiteto de meia-idade, que foi brilhante ao início de carreira, cometendo o suicídio quando não encontra trabalho. Foi banido pelo governo militar, que chegou ao poder em 1976, por se referir aos "desaparecidos" argentinos. Realizou seu último filme em 1982, El Agujero en la Pared, após o qual lamentou que as oportunidades para realizadores sérios argentinos chegaram muito tarde em "breves primaveras", como os primórdios dos anos 60, e entre 1973 e 1975. Quando não realizava filmes, conseguiu escrever contos e ao menos um romance. Após uma longa enfermidade, morreu em Buenos Aires em 30 de outubro de 2004.

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 353-54.

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