The Film Handbook#136: Fred Zinnemann
Fred Zinnemann
Nascimento: 29/04/1907, Viena, Áustria
Morte: 14/03/1997, Londres, Inglaterra
Carreira (como diretor): 1934-1982
Os filmes de Fred Zinnemann - outrora considerado enquanto um moralista sério com talento para o realismo social - não envelheceram bem. Frequentemente lentos, solenes e simplistas, sendo a obra de um diretor que parece ter equacionado arte com bom gosto, objetividade com indiferença e significação com reverência destituída de humor.
Foi assistente de direção em vários filmes em Paris e Berlim (incluindo o clássico Gente no Domingo/Menschen am Sonntag de Siodmak. Em 1929, Zinnemann emigrou para Hollywood, onde trabalhou na mesma medida para seu compatriota Berthold Viertel, Flaherty e Berkeley. Em 1934, com o fotógrafo Paul Strand co-dirigu Redes, longa semidocumental sobre as vidas de pescadores mexicanos que lhe propiciou um contrato com a MGM, onde dirigiria curtas para a série Crime Does Not Pay. Somente oito anos após realizaria verdadeiramente sua estreia em um longa, com Um Assassino de Luvas/The Kid Glove Killer, um drama bem realizado de baixo custo sobre um técnico laboratorial da polícia que resolve um crime. Inicia então uma série de filmes de suspense B que chega ao final em 1944 com A Sétima Cruz/The Seventh Cross, filme antinazista sobre a fuga de um prisioneiro de um campo de concentração através da Alemanha devastada pela guerra. Porém foi o humanismo piegas de Perdidos na Tormenta/The Search, filmado em meios as ruínas da Berlim do pós-guerra, com Montgomery Clift atendendo às necessidades de um abrigo para crianças, que estabeleceu pela primeira vez Zinnemann enquanto realizador preocupado com a moral e supostamente realista. Nem tampouco Ato de Violência/Act of Violence ou Espíritos Indômitos/The Men>1 eram tímidos de significações: o primeiro foi um thriller agradavelmente tenso no qual um vingativo soldado raso investiga o oficial que traiu seus companheiros em um campo de prisioneiros de guerra, o segundo um melodrama ambientado em um hospital repleto de veteranos de guerra desiludidos e paraplégicos. Assumidamente, Zinnemann era hábil com os atores (Espíritos Indômitos deu a Brando seu primeiro papel no cinema), mas a sua tendência a uma mão pesada ao tratar de temas domésticos de uma perspectiva dramática e moral já começava a se manifestar.
Matar ou Morrer/High Noon>2 foi um divisor de águas: um western que demonstra o desprezo de seu realizador pelas convenções do gênero, a respeito de um xerife cujo fracasso em formar um grupo que defenda os covardes moradores de um povoado os quais é contratado para defender pretendia espelhar o espírito traiçoeiro da América de McCarthy; na história, o paralelismo entre o tempo real e o tempo fílmico e seu forte contraste de imagens aparentam serem mais maneiristas que dotados de sentido. Não menos controverso ou portentoso, mesmo que consideravelmente menos compreensível, foi a posterior série de adaptações de obras literárias e teatrais de Zinnemann: Cruel Desengano/Member of the Wedding de Carson McCullers foi teatral e exageradamente de bom gosto; A Um Passo da Eternidade/From Here to Eternity>3 foi executado com tanto desdém pelo melodrama a ser enfrentado que qualquer vitalidade foi oriunda somente das interpretações; o musical da Broadway Oklahoma! foi transposto com enfadonho pedantismo. Enquanto a carreira de Zinnemann se encaminhava para produções de prestígio, sua obra tornava-se calculadamente de elevada moral. Uma Cruz à Beira do Abismo/The Nun's Story, talvez o mais excruciantemente óbvio dos diversos filmes do diretor a lidarem com a crise de consciência, foi implacavelmente tedioso em seu evidente desejo de se manter afastado do mau gosto; Peregrino da Esperança/The Sundowners, com Robert Mitchum e Deborah Kerr, lutando para se tornarem criadores de ovelhas na Austrália dos anos 20, foi agradável mas demasiado extenso; O Homem Que Não Vendeu Sua Alma/A Man for All Seasons, a partir de uma peça de Robert Bolt sobre Sir Thomas More soou pesado e superficial. De fato, por essa época, Zinnemann parecia ter tornado seus filmes mais lentos e sua carreira aparentava se encaminhar a passo de lesma, com apenas três filmes realizados nos próximos dezesseis anos; O Dia de Chacal/The Day of the Jackal, uma anêmica versão do best-seller convencional de Frederick Forsyth sobre uma tentativa de assassinato de De Gaulle; Julia, sobre o caso de Lilian Hellman com Dashiell Hammett, assim como a sua amizade com uma ativista política, na Europa dos anos 30, transformando a ameaça nazista em um insípido drama de época; e o extravagante Cinco Dias Num Verão, romance pitoresco e exangue ambientado nos Alpes Suíços nos anos 30. A ênfase de Zinnemann em um aborrecido bom gosto agora já não era mais bem aceito e ele abandonou a direção.
Por mais que sejam bem intencionados em suas inclinações vagamente liberais, os filmes de Zinnemann sofrem com sua tendência pouco criativa e demasiado metódica de tornar cada ponto por demais explícito; já que tudo que existe em sua obra fica na superfície, não existem subliminaridades ou nuances a descobrir. O resultado é, frequentemente, extremamente maçante.
Cronologia
Zinnemann não exibe nenhuma da vitalidade ou da paixão que é encontrada em Von Stroheim, Vidor e Flaherty, a quem muito admirava. Antes poderia ser melhor comparado com Wyler, Stevens, Lean e Attenborough.
Destaques
1. Espíritos Indômitos, EUA, 1950 c/Marlon Brando, Teresa Wright, Everett Sloane
3. A Um Passo da Eternidade, EUA, 1953 c/Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Frank Sinatra
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 325-6.
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