O Dicionário Biográfico de Cinema#125: Deborah Kerr

 

Deborah Kerr (Deborah Jane Kerr-Trimmer) (1921-2007), n. Helensburgh, Escócia

A estória diz que o ponto de virada na carreira de Deborah Kerr veio quando foi elencada, contra todas as expectativas, e após Joan Crawford ter sido exigente, como a esposa luxuriosa de From Here to Eternity [A Um Passo da Eternidade] (Fred Zinnemann, 53). Isto significava um enérgico rolar na praia com Burt Lancaster, mas ainda ficou uma mulher mais contida que James Jones havia pretendido. Ela também sugeria que o exército americano, em Honululu, foi incongruentemente confortado por memsahibs  (*). Deborah Kerr foi então, e sempre tem sido, e ainda é, verdadeiramente melancólica. 

Educada em Bristol, e depois debutante nos palcos londrinos, seu primeiro filme foi Contraband  [Nas Sombras da Noite] (40), de Michael Powell. Trabalhou ao longo da guerra como uma ingênua, uma heroína, alguém com as mesmas qualidades e, finalmente, em papéis devocionais: Major Barbara (41, Gabriel Pascal); Love on the Dole (41, John Baxter); Penn of Pennsylvania (41) e Hatter's Castle [O Castelo do Homem Sem Alma] (41), para Lance Confort; The Day Will Come [Ninguém Escapará ao Castigo] (42, Harold French); muito bem como a recorrente ruiva em The Life and Death of Colonel Blimp [Coronel Blimp: Vida e Morte] (43), para Powell e Emeric Pressburger; com Robert Donat em Perfect Strangers [Longe dos Olhos] (45, Alexander Korda); divertida e adorável em I See a Dark Stranger [Um Estranho na Escuridão] (46), de Frank Launder; uma freira em Black Narcissus [Narciso Negro] (46), de Powell. 

Foi então convidada à América pela MGM, onde apareceu em The Hucksters [Mercador de Ilusões] (47), de Jack Conway (A campanha da MGM: "Deborah Kerr. Rima com estrela.") e If Winter Comes [Inverno D'Alma] (47), de Victor Saville. Era decididamente feminina, e de Edward, My Son [Meu Filho] (49), de Cukor, derivou para papéis ainda menos interessantes: o objeto feminino em King Solomon's Mines [As Minas do Rei Salomão (50, Compton Bennett e Andrew Marton); uma cristã incandescente em Quo Vadis? (51, Mervin LeRoy); em Thunder in the East [Uma Aventura na Índia] (52), de Charles Vidor; como Princesa Flávia em The Prisioner of Zenda [O Prisioneiro de Zenda] (52, Richard Thorpe). Era um sinal de preocupação que ela raramente trabalhasse com atores americanos, como se sua gentileza houvesse bloqueado uma companhia real. 

Após Dream Wife [Quem é Meu Amor?] (52, Sidney Sheldon), falou bem em Julius Caesar [Júlio César] (53), de Mankiewicz. Então veio A Um Passo da Eternidade, que reviveu sua carreira, ainda que se somente tivesse lhe dado mais gana para  um prazeiroso futuro. Esteve em Young Bess [A Rainha Virgem] (53), de George Sidney, como apoio para Jean Simmons; e ainda mais auto-sacrificial em The End of the Affair [Pelo Amor de Meu Amor] (55), de Dmytryk. Tornou-se uma textura quando assobiou uma melodia feliz como a governanta em The King and I [O Rei e Eu] (56), de Walter Lang. A realeza sobreviveu a um encontro sórdido com William Holden em The Proud and the Profane [O Fruto do Pecado] (56, George Seaton); a oferta atenciosa dela a John Kerr, juntamente com Tea and Sympathy [Chá e Simpatia] (56, Vincente Minnelli) - havia estrelado a versão no palco; e ao retorno ao hábito de freira em uma ilha deserta com Robert Mitchum, em Heaven Knows, Mr. Allison [O Céu é Testemunha] (57, John Huston).

Foi um pouco mais crível em An Affair to Remember [Tarde Demais Para Esquecer] (57), de McCarey; sem graça sendo sem graça em Separate Tables [Vidas Separadas] (58, Delbert Mann); mas muito bem em Bonjour Tristesse [Bom Dia, Tristeza] (58), de Preminger, no qual sua gentileza é posta à prova e perturbada. E em The Sundowners [Peregrino da Esperança] (60, Zinnemann). Após isso, falhou nas partes mais exigentes de The Innocents [Os Inocentes] (61, Jack Clayton) e The Arrangement [Movidos pelo Ódio] (69, Elia Kazan) e continuou a fazer ruídos pacificadores em Beloved Infidel [O Ídolo de Cristal] (59, King), The Chalk Garden [Corações Feridos] (63, Ronald Neame),  Night of the Iguana [A Noite do Iguana] (64), de Huston e The Gypsy Moths [Os Paraquedistas Estão Chegando], de Frankenheimer

Houve um período aposentada, após o qual realizou A Song at Twilight (81, Cedric Messina); no papel que havia sido de Elsa Lanchester, com Ralph Richardson, em uma versão para a TV de Witness for the Prosecution (82, Alan Gibson); muito bem em The Assam Garden (85, Mary McMurray); com Robert Mitchum novamente em Reunion at Fairborough [Reencontro em Fairborough] (85, Herbert Wise); e Hold the Dream [Um Sonho Que Ficou] (86, Don Sharp).

Em 1994, foi o momento mais tocante da noite dos  Oscars, recebendo um prêmio honorário para compensar suas seis indicações não premiadas: Meu Filho; A Um Passo da Eternidade; O Rei e Eu; O Céu é Testemunha; Vidas Separadas; e O Peregrino da Esperança

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Movies. Nova York, Alfred A. Knopf, 2014, pp. 1423-24. 

(*) N. do T. Mulher estrangeira branca de alta posição social na Índia. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng