The Film Handbook#217: William Wyler

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William Wyler
Nascimento: 01/07/1902, Mulhouse, Alsácia-Lorena (então Alemanha)
Morte: 27/07/1981, Beverly Hills, Califórnia, EUA
Carreira (como realizador):  1925-1972

Com seu distinto estilo visual e um gosto por temáticas solenes, Willy Wyler ganhou uma reputação de artista meticuloso e sério. Em retrospecto, no entanto, seu uso frequentemente acadêmico da profundidade de foco, sua dependência de versões mais que anêmicas de obras teatrais e literárias, e seu liberalismo indigesto parecem o produto de uma sensibilidade nada original e lugar-comum.

Wyler iniciou no departamento de publicidade da Universal, em Nova York, após um encontro com Carl Laemmle (um parrente distante), em Paris, nos idos dos anos 20. Mudando-se para Hollywood, foi estagiário em uma diversidade de empregos antes de realizar sua estreia na direção, em 1925, com The Crook Buster, o primeiro dos cerca de quarenta westerns em dois rolos que realizou, antes de se voltar para os longas, alguns anos após. Somente com o advento do som, no entanto, conquistaria sua reputação: A House Divided foi uma árida adaptação de Desejo sob os Olmos/Desire Under the Elms, de O'Neill, O Conselheiro/Counsellor at Law, ótimo veículo para John Barrymore e A Boa Fada/The Good Fairy, agradável comédia romântica escrita por Preston Sturges. Porém em 1936 Wyler abandonou a Universal por Samuel Goldwyn, cujo gosto similar por produções de qualidade possibilitou o diretor realizar filmes"sérios"como A Revolta do Colégio/These Three>1 (uma castrada versão heterossexual do drama lésbico de Lilian Hellman, The Children's Hour, avaliando os efeitos dos comentários maliciosos de uma pequena vila sobre duas professoras) e Fogo de Outono/Dodsworth, de Sinclair Lewis, mas também apresentou Wyler ao câmera Greg Tolland (diretor de fotografia do Ciadão Kane, de Welles) cuja habilidade com as técnicas de iluminação permitiu a dupla experimentar com a profundidade de foco. No entanto, apesar das frequentemente intensas interpretações conduzidas pelo diligente perfeccionismo de Wyler (que o reputou com o apelido de "Wyler das 90 tomadas") o aspecto mais notável de sua obra é visual: enquanto o teatral e afetado drama criminal Beco sem Saída/Dead End explora seu cenário único de uma rua de uma multiplicidade de ângulos, no melodrama ambientado no Velho Sul Jezebel>2 e em O Morro dos Ventos Uivantes/Wuthering Heights, figurinos e direção de arte ganham dimensões quase simbólicas, com as roupas pretas de Bette Davis, conspícua em um oceano de vestidos brancos, na suntuosa cena de baile do primeiro, revelando seu status de socialmente estigmatizada.

Após O Galante Aventureiro/The Westerner (um raro retorno às suas origens fílmicas), Wyler realizou talvez o seu melhor filme, uma impecavelmente interpretada versão de A Carta/The Letter>3, de Somerset Maughan, no qual tanto as interpretações de Bette Davis (enquanto mulher cujos desejos ilícitos levam-na ao assassinato) quanto a luminosa fotografia de Tony Gaudio criam uma soberba atmosfera melodramática de sufocantes e sensuais noites malaias. Em contraste, a profundidade de foco extrema de Pérfida/The Little Foxes>4 soa deliberada e avulsa: as relações e distâncias entre os membros de uma mortífera família do Sul Profundo, espelhadas distintamente no modo que os personagens reagem em vários planos visuais, são apresentadas de forma extremamente esquemática. De fato, a obra de Wyler, a partir de então, torna-se quase acadêmica, tanto em sua tensa sobriedade, quanto em seu uso didático da profundidade de foco e do plano-sequencia. Rosa da Esperança/Mrs. Miniver foi um bombástico, ainda que extremamente bem sucedido, tributo à coragem britânica nos tempos de guerra, enquanto, após dois documentários realizados para elevar a moral dos aliados, somente Os Melhores Anos de Nossas Vidas/The Best Years of Our Lives>5 - um estudo épico e comoventemente realista do desencantamento e alheamento vivido pelos heróis que retornam da guerra, demonstrando ser o seu uso mais apto da profundidade de foco - revela um compromisso efetivo com seu conteúdo emocional. Desde então, abandonando Goldwyn para montar uma companhia independente de vida curta, Wyler moveu-se crescentemente rumo ao vago e raso ecletismo do espetáculo grandioso.

Tarde Demais/The Heiress, baseado em Washington Square de Henry James, foi ao menos abençoado pelas excelentes interpretações de Montgomery Clift, Ralph Richardson e Olivia de Havilland, embora não possuísse o senso de profundidade irônica do romancista; Chaga de Fogo/Detective Story, parecia cauteloso de se tornar um thriller, Perdição por Amor/Carrie foi maçante e demasiado dependente dos atores, A Princesa e o Plebeu/Roman Holiday, foi falho ao apontar o limitado senso cômico de Wyler. Ainda pior, o western Sublime Tentação/Friendly Persuasion afundava em seu portentoso pacifismo moralizante, enquanto o rotineiro enredo de rancho/guerra de Da Terra Nascem os Homens/The Big Country falhou em sua combinação com a circularidade da paisagem fotográfica de Franz Planner; o interminável épico romano Ben-Hur foi notável somente por sua corrida de carruagens. Os anos 60 observaram o declínio ainda mais acentuado de Wyler. Infâmia/The Children's Hour foi uma versão mais explícita, mas infinitamente inferior, de A Revolta do Colégio, O Colecionador/The Collector um fleumático exercício no psicodrama claustrofóbico, A Garota Genial/Funny Girl, um mastodôntico musical de época tediosamente indulgente com Barbra Streisand, e A Libertação de L.B. Jones/The Liberation of L.B. Jones, uma história nada envolvente de racismo sulista.

A ausência de personalidade artística de Wyler pode ser percebida na sua equivalente ausência de consistência temática dentro de sua obra, assim como no distanciamento frio de suas imagens, que tornam os personagens  próximos de peças de um tabuleiro de xadrez. Somente quando os atores apresentam poder suficiente de superar a tirania inflexível dos arranjos visuais, seus filmes assumem algo de vida real.

Cronologia
As pretensões de um "realismo" de Wyler hoje parecem insustentáveis, sendo a profundidade de foco um maneirismo estilístico tão controverso quanto a montagem que evitava. Pode ser visto como um melodramático (que certamente teria desprezado o termo) vagamente liberal e, portanto, talvez comparável a figuras como Stevens, Zinnemann, Lean, Schlesinger e Attenbourogh. Foi muito admirado por, e talvez tenha influenciado, Laurence Olivier.

Destaques
1. A Revolta do Colégio, EUA, 1936 c/Miriam Hopkins, Joel McCrea, Merle Oberon

2. Jezebel, EUA, 1938 c/Bette Davis, Henry Fonda, George Brent

3. A Carta, EUA, 1940 c/Bette Davis, Herbert Marshall, James Stephenson

4. Pérfida, EUA, 1941 c/Bette Davis, Herbert Marshall, Teresa Wright

5. Os Melhores Anos de Nossas Vidas, EUA, 1946, c/Fredric March, Mirna Loy, Dana Andrews, Harold Russell

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 321-2. 

Comentários

  1. J'ai rarement lu quelque chose d'aussi méchant, prétentieux et totalement dénué de fondements. Visiblement, l'auteur n'a jamais vu un seul film de Wyler ou alors il n'a rien compris. A moins qu'il ait juste mauvais goût ???? Wyler est aujourd'hui considéré par beaucoup comme un des meilleurs réalisateurs au monde.

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  2. Não apenas o autor em questão, mas nomes bastante renomados do pensamento sobre o cinema, como André Bazin, contemporâneo de vários filmes de Wyler, possuíam reservas quando falavam de Wyler, em relação a outros cineastas norte-americanos ainda melhores. e tendo a concordar com ele, embora admire bastante algumas obra do realizador, como "The Best Years of Our Lives". Acredito também que ele acentua algumas obras do realizador que se destacam de um conjunto de obras bem menos interessantes, e tendo a concordar, no geral, com as observações do autor.

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  3. Desconfio, por outro lado, de perfis anônimos e postagens trespassadas por um certo tom "hater", sem trazer qualquer argumento sólido para a discussão, e partindo de afirmações somente genéricas

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