Filme do Dia: Bicho de Sete Cabeças (2000), Laís Bodanzky
Bicho de Sete Cabeças (Brasil/Itália, 2000). Direção: Laís Bodanzky. Rot. Adaptado: Luiz Bolognesi, baseado no romance Canto dos Malditos, de Austrégesilo Carrano Bueno. Fotografia: Hugo Kovensky. Música: André Abujamra & Arnaldo Antunes. Com: Rodrigo Santoro, Gero Camilo, Othon Bastos, Cássia Kiss, Altair Lima, Valéria Alencar, Marcos Cesana, Luís Miranda, Caco Ciocler, Jairo Mattos.
Neto (Santoro), jovem de São Paulo, envolve-se com um grupo de amigos e
passa a fumar maconha ocasionalmente. Viaja para Santos e quando descobre que
seu amigo é michê fica sem dinheiro para retornar a São Paulo. Ao pedir auxílio
a uma moça, Leninha (Alencar), descobre os prazeres do amor. Ao retornar,
porém, é levado sem o saber para o internamento compulsório em uma instituição
psiquiátrica pelo pai, Seu Wilson (Bastos), que descobrira um cigarro de
maconha em sua calça. Tendo que conviver com a triste realidade hospitalar, em
meio a pacientes crônicos e irrecuperáveis, Neto sofre toda sorte de violência.
Após perceber que não será atendido a sério pelo médico, Dr. Cintra (Lima),
provoca uma desordem no hospital e reclama a um dos médicos sobre um dos enfermeiros
mais violentos, Marcelo (Miranda). Leva eletrochoques e passa dias em um
cubículo solitário e escuro, para desespero de seu amigo paciente Ceará (Camilo).
Após sair do hospital, o pai lhe arranja um emprego, porém a pressão no
trabalho e a desilusão de reencontrar Leninha acompanhada o leva a um estado de
confusão mental que chega ao auge quando é preso pela polícia, pichando muros e
surta, sendo encaminhado para uma outra instituição psiquiátrica. Ao receber a
visita do pai, o recebe com um cigarro aceso na mão e lhe deixa uma carga
amarga, dizendo que jamais lhe perdoará pelo que fez.
Demasiado
óbvio para ser instigante, o filme de Bodanzky pode ser um útil instrumento de
divulgação dos ideais anti-manicomiais, porém deixa a desejar enquanto teor dramatúrgico.
Na linha do filme-denúncia, filão que inspirou toda uma filmografia americana
nos anos 1950, apresenta a podridão de um sistema que não se escusa em
prolongar a internação dos pacientes – como no caso do protagonista –
para se beneficiar dos proventos econômicos do governo. Maniqueísta ao extremo
– o personagem do pai e do médico são verdadeiras caricaturas do que há de mais
ignóbil e perverso em contraposição a pureza do herói – o filme também é
redundante em termos formais, como na utilização de temas musicais que apenas
ressaltam a figura oprimida do paciente psiquiátrico. Semelhantemente a Um Estranho no Ninho, que retratou as mazelas sofridas no sistema psiquiátrico
norte-americano, o filme provoca uma reação final de indignação, catártica o
suficiente para expurgar qualquer reflexão mais substancial. Buriti
Filmes/Cinematográfica Gullane´s/Dezenove Som e Imagem/Fabrica
Cinema/Fundazione Montecine Veritá/Riofilme. 88 minutos.
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