Filme do Dia: O Homem do Sputnik (1959), Carlos Manga
OHomem do Sputnik (Brasil, 1959). Direção: Carlos
Manga. Rot. Original: José Cajado Filho. Fotografia: Ozen Sermet. Música:
Radames Gnatalli. Montagem: Walemar Noya. Cenografia: José Cajado Filho. Com:
Oscarito, Cill Farney, Zezé Macedo, Neide Aparecida, Hamilton Ferreira, Heloísa
Helena, Alberto Peres, Norma Bengell
.
O
provinciano Anastácio (Oscarito), cujo maior sonho é comprar uma chocadeira
para suas galinhas, vive uma vidinha sem maiores novidades com sua esposa
Deocleciana (Macedo), até a noite em que um objeto não identificado cai em seu
galinheiro. Anastácio descobre tratar-se do famoso satélite Sputnik, que se
encontraria recheado de ouro. Enquanto Anastácio não modifica suas ambições
iniciais, a esposa só pensa em seu reconhecimento pela sociedade colunável. A
fama do evento chega nas bocas e mentes dos mais diversos tipos. De um cronista
social honesto, Jacinto (Farney), mas igualmente de um inescrupuloso, assim
como das grandes potências. Já celebrizados pela imprensa, Anastácio e sua
esposa hospedam-se no Copacabana Palace. Logo serão vizinhos de um grupo de
russos, americanos e franceses ávidos por porem as mãos no Sputnik. Enquanto os
russos pretendem se passar por honestos e os americanos pagarem um melhor
preço, os franceses apelam para sua famosa moda e uma amante no estilo Brigitte
Bardot (Benguell), para seduzir respectivamente Deocleciana e Anastácio. Quando
todos acreditam que se encontram em vias de pôr as mãos no satélite, descobrem
que o vigário local o colocou no topo da igreja e que ele não era na verdade o
Sputnik. Logo depois, aparentemente o verdadeiro satélite cai no galinheiro do
casal, que prefere, dessa vez, ignorar a situação.
Embora
a chanchada tenha sido um gênero intelectualmente limitado, essa produção que é
considerada talvez seu melhor exemplar, consegue efetivar uma saborosa crônica
cômica da Guerra Fria, dentro dos moldes explicitamente paródicos que
celebrizou o estilo das produções da Atlântida, porém sem agora apoiar seu
enredo nos números musicais. O estilo galhofeiro, em que personagens
caricaturam estereótipos de russos, franceses e americanos, inclusive no
sotaque é herdeiro de influências díspares como o teatro de revista e cinema
americano (sendo Cupido Não Tem Bandeira, de Billy Wilder, realizado dois
anos após, uma referência bem próxima). Seu final pode ser interpretado como um
retrato conformado da realidade sociocultural do país, onde o casal, já tocado
pela sede de mudança que traz a modernidade e a riqueza, prefere esquecer tudo
e continuar com sua pachorrenta vidinha de antes. Curiosamente, embora tenha
sido um dos maiores sucessos de crítica da chanchada, foi igualmente um de seus
últimos exemplares. Atlântida. 98 minutos.
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