Filme do Dia: Titicut Follies (1967), Frederick Wiseman
Titicut Follies (EUA, 1967). Direção: Frederick Wiseman.
Fotografia: John Marshall. Montagem: Frederick Wiseman & Alyne Model.
Esse controvertido documentário, um dos mais célebres títulos
dirigidos por Wiseman, nome referencial no Cinema Direto americano, é menos
sobre os efeitos da doença mental em pacientes internados em um manicômio do
estado de Massachusetts como pensam alguns que – tema obsessivo e único da
carreira do realizador – sobre o poder regulador das instituições sobre os
indivíduos. Numa época em que análises sobre o hospital psiquiátrico enquanto
Instituição Total e práticas e teorias associadas a anti-psiquiatria começam a
florescer em diversas partes do mundo, Wiseman detém seu habitual olhar frio –
que apenas agudiza ainda mais o tema a ser destacado do que se tivesse apelado
para recursos sentimentais ou mais ordinariamente manipulativos – sobre
sujeitos que sofrem um processo intenso de “despersonalização” de si mesmos.
Nesse sentido, mesmo o realizador
conseguindo a proeza de até mesmo numa instituição desse porte ter poucos
olhares dirigidos para sua câmera, seguindo os preceitos de o mínimo possível
de “intrusão” diante do ambiente filmado, como ausência total de entrevistas ou
narração off/over, preconizados pelo
Cinema Direto, é evidente que o filme potencializa a visão autoritária das
instituições americanas (tal como em High
School), através da montagem. Uma sequência que demonstra isso mais que
qualquer outra é a que apresenta a técnica precária de introduzir alimentação
pelo nariz em um paciente que não se alimenta voluntariamente entremeada com
planos rápidos que apresentam o cadáver do mesmo homem, significando que não
foi nenhum pouco bem sucedida. O grau de autoritarismo e desleixo com os
pacientes também fica patente seja numa cena em que um funcionário irrita um
paciente perguntando seguidamente a mesma coisa para ele e em que duas
autoridades médicas riem das explicações oferecidas pelos pacientes da
instituição, sendo que em um desses casos segue-se a descrição
técnica-psiquiátrica do diagnóstico construído por uma junta de “especialistas”
nenhum pouco convincente. Ou ainda na quantidade de pacientes que são deixados
completamente despidos em suas celas. O controle das instituições acompanha o
sujeito até depois da morte, quando se segue o ritual impessoal e “estatal”,
que faz uso da religião apenas como ornamento do funeral de um dos pacientes
falecidos. Nesse controle, a organização é fundamental para que o ritual
transcorra do modo mais “eficiente” possível e o olhar da câmera de Wiseman se
detém em pequenos detalhes, como o aparafusamento do caixão e sua acomodação
nos trilhos do carro fúnebre. Com cenas fortes, trata-se do único caso de
censura no cinema americano que não se enquadrou na lei de segurança nacional
ou contrária à pornografia, mas sim tendo como álibi a exposição dos
pacientes. National Film Registry em 2022. Titicut Follies Dist. Co./Zipporah Films. 84 minutos.
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